61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 3. Ecologia Terrestre
DISTRIBUIÇÃO DA ANUROFAUNA ASSOCIADA A IGARAPÉS DO FRAGMENTO FLORESTAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
Bruno Minoru Tsuji Nishikido 1
Marcelo Menin 2
1. Universidade Federal do Amaznoas - UFAM - Biólogo
2. Dr. Universidade Federal do Amaznoas - UFAM
INTRODUÇÃO:
A constante degradação e fragmentação que o ecossistema amazônico vem sofrendo, implica na alteração ou eliminação de microhábitats específicos explorados pelos anuros, sendo considerado o principal fator responsável pelos declínios populacionais observados em diversas espécies de anfíbios em escala global (Eterovick et al., 2005). Muitas das espécies de anuros, tanto na fase larval como na adulta, estão associadas a ambientes aquáticos (Duellman & Trueb, 1994). São animais cuja pele possui alta permeabilidade e, portanto, quaisquer mudanças na composição química do ambiente aquático ou terrestre podem gerar alteração na estrutura da comunidade. Além deste fato, muitos anfíbios possuem ciclos reprodutivos de curta duração, resultando na possibilidade da detecção de alteração no tamanho e estrutura da população quando ocorrem mudanças nas condições ambientais, tais como as mudanças resultantes da atividade antrópica (Ernst et al., 2007). O presente trabalho teve como objetivo descrever a composição e abundância da anurofauna diurna e noturna, avaliando os efeitos das variáveis ambientais “tamanho do igarapé”, “largura do baixio” e “profundidade da camada da liteira” sobre espécies associadas aos corpos d’água do fragmento florestal da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
METODOLOGIA:
O presente estudo foi realizado no fragmento florestal do campus da Universidade Federal do Amazonas – UFAM (03º04’34”S, 59º57’30”W), que possui aproximadamente 600 ha, localizado na cidade de Manaus. Foram instaladas 10 parcelas de 250 m de comprimento nas margens de 10 igarapés de primeira ordem que são encontrados dentro do campus da UFAM, em áreas com cobertura de floresta primária e secundária, seguindo o modelo RAPELD de Magnusson et al. (2005). Foram realizadas duas amostragens diurnas e duas amostragens noturnas em cada parcela (maio~julho e novembro~dezembro de 2008), utilizando diferentes métodos de amostragens. As amostragens diurnas foram realizadas com o percurso de duas pessoas lado a lado procurando os amimais em um raio de um metro com o revolvimento cuidadoso da liteira (Menin et al., 2008). A amostragem noturna foi realizada com o uso do método de amostragem visual e auditiva simultaneamente (Crump & Scott, 1994; Zimmerman, 1994). As variáveis ambientais utilizadas foram: 1) tamanho do igarapé (Largura do igarapé X Profundidade do igarapé X Comprimento da parcela), 2) largura do baixio (distância da área plana medida entre o início da vertente de cada lado) e 3) profundidade da camada de liteira. Cada uma das variáveis foi medida em cada parcela em intervalos de 50 metros. Assim, cada parcela teve seis pontos de medidas (0, 50, 100, 150, 200 e 250). As medidas foram realizadas com uso de uma trena. Para as análises, foram utilizados os valores médios das variáveis tamanho do igarapé e largura do baixio, baseados nos seis pontos de amostragem. A profundidade da liteira foi medida em cada amostragem e, portanto, foi utilizado o valor médio obtido em cada parcela nos dois períodos de amostragem.
RESULTADOS:
Nas amostragens noturnas foram registradas 15 espécies de anuros pertencentes a seis famílias. Houve variação no número de indivíduos amostrados entre os dois períodos, com maior abundância registrada no segundo período de amostragem (novembro-dezembro). Nas amostragens diurnas foram registradas cinco espécies pertencentes a quatro famílias. Um maior número de indivíduos foi registrado no primeiro período de amostragem (maio-julho). Os efeitos das variáveis independentes (tamanho do igarapé, largura do baixio e profundidade da liteira) sobre a abundância de cada espécie e sobre o número de espécies em cada parcela foram avaliados por regressões lineares múltiplas. As análises foram realizadas com o uso do programa SYSTAT 12.0. O modelo testado para a Riqueza x Variáveis explicou aproximadamente 71% da variação.(Riqueza = 16,99 – 0,002 Tamanho do igarapé – 0,158 Largura do Baixio – 0,766 Profundidade da liteira; R2 = 0,713; F(3,6)= 0,522; P = 0,046). A riqueza foi relacionada negativamente à largura do baixio (t = -3.543; P = 0,012). As demais análises relacionando a abundância com as variáveis mostraram resultados não significativos.
CONCLUSÃO:
A ausência do encontro de relações significativas entre a abundância das espécies mais comuns e as variáveis ambientais analisadas pode estar relacionada a diversos fatores. Entre eles, a própria biologia reprodutiva de algumas espécies pode indicar a ausência dessas relações: Osteocephalus oophagus, espécie de hábito arborícola, possui sítios de reprodução em acúmulos de água presentes em fitotelmatas (bromélias) e em cavidades nas árvores (Jungfer & Schiesari, 1995). Pode-se dizer que a relação de abundância desta espécie está possivelmente relacionada à presença desses sítios reprodutivos e não às variáveis analisadas. Outros possíveis fatores que influenciam a abundância de cada espécie no presente estudo podem ser: a abertura do dossel, a textura e o pH do solo, a composição química da água, presença de predadores tanto na fase larval quanto na fase adulta, a distância da borda, a disponibilidade de poças ou a composição da comunidade vegetal, como encontrados em outros estudos (Menin, 2005; Menin et al., 2007). Houve relação negativa entre a riqueza e a largura do baixio, mas não houve relação da riqueza com o tamanho do igarapé. No presente estudo, os igarapés com a menor riqueza foram aqueles encontrados em áreas mais próximas à borda do campus ou áreas com floresta secundária. Como o fragmento florestal da UFAM tem grande influência das comunidades do entorno, como tráfego de pessoas, despejo de lixo, caça, entre outras atividades, fatores como a ação antrópica e a poluição podem estar influenciando na distribuição e abundância das espécies de anuros.
Instituição de Fomento: CNPq
Palavras-chave: anurofauna, áreas ripárias, variáveis ambientais.