61ª Reunião Anual da SBPC
E. Ciências Agrárias - 1. Agronomia - 2. Economia e Sociologia Agrícola
OS SISTEMAS AGRÍCOLAS TRADICIONAIS NO AMAZONAS E A AGROECOLOGIA: UM ENCONTRO DE SABERES
Janaina de Aguiar 1
Therezinha de Jesus Pinto Fraxe 1
1. Núcleo de Socioeconomia da Faculdade de Ciências Agrárias – UFAM
INTRODUÇÃO:
Os sistemas agrícolas tradicionais são aqueles conduzidos por grupos, geralmente ligados por elos de parentesco, que objetivam principalmente a subsistência, cuja manutenção é feita através da mão-de-obra familiar, aproveitamento de insumos locais e desenvolvimento de tecnologias simples. Na Amazônia, onde existe uma considerável diversidade vegetal e animal, bem como espécies endêmicas ainda pouco estudadas, estes sistemas são amplamente difundidos. Populações ribeirinhas que habitam as florestas de várzea e terra firme, assim como os demais ambientes que compõem os ecossistemas locais, utilizam-se de elementos étnicos e culturais para sua manutenção. Com a mesma finalidade, manejam os recursos naturais e implantam sistemas produtivos capazes de assegurar sua permanência nestes ambientes. O presente trabalho pretende abordar as relações existentes entre os sistemas agrícolas tradicionais de quatro comunidades ribeirinhas do Amazonas e a Agroecologia.
METODOLOGIA:
A pesquisa foi realizada em quatro comunidades ribeirinhas, localizadas no Rio Solimões, sendo elas Santa Luzia do Baixio, Nossa Senhora das Graças, Nossa Senhora de Nazaré e Santa Luzia do Buiuçuzinho. O Método adotado foi o Estudo de Caso e a coleta de dados foi feita através de entrevistas semi-estruturadas, observação participante, visitas à campo e reuniões com representantes das comunidades. As entrevistas foram direcionadas aos “chefes” de família, sendo o universo amostral, 70% das unidades familiares em cada comunidade.
RESULTADOS:
Apesar das especificidades existentes entre as comunidades, principalmente quanto à intensidade e características dos sistemas produtivos, verificou-se que os agricultores tradicionais buscam otimizar o uso do solo e para isso desenvolvem métodos de cultivo distintos para cada ambiente e/ou recurso a ser manejado. O contexto agrícola local caracteriza-se como um mosaico de ambientes e subsistemas, que juntos garantem a subsistência e a reprodução social destes agricultores. A escolha por determinado cultivo ultrapassa questões de cunho econômico, e permeiam valores sociais, culturais, ambientais, étnicos e míticos. Nos ambientes cultivados procura-se manter ou permitir processos ecológicos, que por sua vez contribuem para a manutenção e produtividade dos sistemas, o que é facilmente percebido nas capoeiras, roças e sítios, como um contínuo processo de pousio, plantio e manejo agroecológico. Nas capoeiras mais antigas, onde a fertilidade do solo permite uma produção satisfatória, implanta-se a roça, uma vez que a mandioca da roça é colhida, este local passa a ser cultivado como sítio, já que ali permanecem as plantas perenes nativas ou adaptadas ao local. Caso não seja interessante implantar um sítio neste local, a área é deixada em pousio até que novamente possa ser cultivada. Os quintais, no entorno das moradias, abrigam espécies alimentícias, medicinais, ornamentais, e apresentam relevante importância social, visto que são utilizados em eventos festivos, religiosos e recreativos.
CONCLUSÃO:
A existência de sistemas produtivos diversificados é uma importante ferramenta para a manutenção das populações ribeirinhas da Amazônia, uma vez que lhes é permitido aliar os modos de vida local e sua reprodução social. As práticas agrícolas nestes locais tendem a ser adaptadas à cada situação, e muitas são desenvolvidas através de experimentação no próprio local. Verifica-se nos sistemas produtivos tradicionais pesquisados, a diversidade de espécies e variedades cultivadas, o que aproxima a agricultura tradicional do Amazonas dos princípios da Agroecologia.
Instituição de Fomento: PIATAM/Petrobrás
Palavras-chave: comunidades ribeirinhas, agricultura familiar, Amazônia.