61ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 1. Epidemiologia
ASSOCIAÇÃO ENTRE AIDS E RAÇA/COR NO BRASIL, 2000-2007
Maria Jacirema Ferreira Gonçalves 1
Jacqueline Furtado Vital 2
1. Escola de Enfermagem de Manaus/ Universidade Federal do Amazonas
2. Instituto de Medicina Social/ Universidade do Estado do Rio de Janeiro
INTRODUÇÃO:
É notória a escassez de pesquisas desenvolvidas no Brasil na área de saúde pública com recorte étnico-racial, sendo apontadas algumas suposições como aceitar o “mito da democracia racial”, as dificuldades de classificar raça/etnia e a oposição entre os termos “classe ou raça” contribuem para a falta de estudos epidemiológicos étnico-raciais, assim como sua associação com desfechos de saúde no Brasil. Portanto, são escassos os estudos brasileiros que avaliem a epidemia de AIDS segundo a variável raça/cor, a qual é importante para se conhecer a distribuição dos doentes conforme raça/cor, e assim determinar se há diferenças, bem como elaborar políticas e estudos adicionais que contemplem a questão. Este trabalho tem o objetivo descrever a distribuição das taxas de incidência de AIDS no Brasil, segundo raça/cor, sexo e categorias de exposição, e analisar a associação entre AIDS e raça/cor no período de 2000 a 2007.
METODOLOGIA:
Estudo ecológico, com as Regiões Metropolitanas (RM) do Brasil como unidades de observação, as quais em conjunto representam 80% dos casos registrados. Foram analisados casos de AIDS de 20-69 anos, notificados ao Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) do Ministério da Saúde no período 2000-2007. A distribuição dos casos por região metropolitana é analisada estratificando-se por sexo, raça/cor, e categoria de exposição. Na análise da tabela de contingência se avaliou associação entre ‘AIDS’ e ‘raça/cor’ pelo teste do c2, em seguida examinou-se a associação entre pares de categorias pela análise de Resíduos Padronizados (RP) e finalmente estudaram-se as relações entre todas as categorias em uma análise de correspondência. Adotou-se nível de significância de 5%, que para o excesso de ocorrências corresponde ao RP com valor positivo superior a 1,96. A análise de correspondência utilizou-se a projeção simétrica com duas dimensões (RM e raça/cor) plotadas no mapa de análise de correspondência.
RESULTADOS:
Nas RM de Fortaleza e Entorno de Brasília-EB a razão de sexo é maior para homens, com aumento na participação feminina. As taxas de incidência são superiores a 100/100mil habitantes nas RM de Fortaleza, Baixada Santista, Florianópolis e Goiânia. As mulheres têm taxas menores, destacando-se acima de 50/100mil habitantes: Fortaleza, Baixada Santista e Florianópolis. Para homens, as categorias de exposição Homo/bissexual (31%), Heterossexual (35%) e Usuários de Drogas Injetáveis (1%) apresentaram comportamento semelhante no período estudado. No sexo feminino, heterossexual é a classificação de quase todos os casos (95%). A AIDS nas RM segundo a raça tem associação significante (p<0,01). Os RP do c2 destacam-se em ordem decrescente: Branca (Porto Alegre-POA, Florianópolis, Curitiba, Campinas, São Paulo-SP e Belo Horizonte-BH); Preta (Rio de Janeiro-RJ, POA e BH); Parda (Recife, Fortaleza, Goiânia, EB, BH e RJ); e Ignorada (Fortaleza, Goiânia, Baixada Santista, EB e RJ). A análise de correspondência mostra as duas dimensões explicando 95,11% da variação total, na qual a raça/cor branca está mais associada à Florianópolis, Campinas e SP; a raça/cor parda está mais associada à BH, RJ e Recife; e, a raça/cor ignorada, ao EB, Goiânia e Fortaleza. A raça/cor preta não tem RM associada.
CONCLUSÃO:
Embora haja predomínio de casos em homens, a diferença para as mulheres vem diminuindo ao longo dos anos, e não tem o mesmo padrão em todas as RM. Para os homens, a doença está presente em todas as categorias de exposição, com maior incidência para homo/bissexual e heterossexual, e para as mulheres, quase todas as ocorrências referem-se à categoria heterossexual. Identificou-se associação entre a ocorrência de AIDS nas RM e raça/cor, com tendência de aumento para a categoria parda. Todavia, a raça/cor preta não apresenta associação significante nas RM. Os resultados indicam para a necessidade de se considerar raça/cor nas intervenções, mas com o cuidado para não rotular determinadas raças, como foi o caso de campanhas anteriores de prevenção de AIDS, cujo foco era a raça/cor preta, sendo que as análises apontam para o crescimento de ocorrência na categoria parda.
Palavras-chave: AIDS, raça, epidemiologia.