61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 11. Ensino-Aprendizagem
DESCONTINUIDADES NO ENSINO DE HISTÓRIA: UM ESTUDO DE CASO EM FRANCA-SP
CAIO PRIOR ROCHA 1
1. UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS
INTRODUÇÃO:

  O presente estudo é fruto de uma inquietação a respeito da existência ou não de diferenças significativas entre a criança na quarta (quinto ano) e a criança na quinta série (sexto ano) do ensino fundamental, entendendo este período do processo de escolarização como historicamente de transição. A pesquisa preocupa-se em evidenciar as descontinuidades, principalmente no tocante a disciplina história, sem desconsiderar as implicações dessas descontinuidades para as outras disciplinas ensinadas na escola.

  No início do trabalho são apresentadas algumas considerações históricas sobre a educação no Brasil e as mudanças que os diferentes governos e as diferentes situações político-culturais nela ocasionaram. As mudanças mais significativas para o atual estudo dizem respeito à integração dos antigos grupo e ginásio, dando origem ao que hoje conhecemos como ensino fundamental. A integração também aboliu o exame de admissão, prova anteriormente obrigatória a todos que completassem os quatro primeiros  e tivessem a intenção de continuar seus estudos no ginásio.

  A pesquisa tem como objetivo evidenciar a existência ou não dessas descontinuidades no processo de escolarização, visando colaborar para a mitigação de transições traumáticas no tocante ao ensino de história.
METODOLOGIA:

  Os métodos de trabalho empregados na presente pesquisa se pautaram pela proposta da pesquisa de campo qualitativa e participativa em educação, sem abrir mão dos dados quantitativos quando necessários.

  Desenvolver uma pesquisa no campo educacional dentro dos parâmetros supracitados implica em deixar claro a condição de pesquisador, ou seja, de sujeito observador e o objeto ao qual se dedica o estudo. O grupo no qual a pesquisa será desenvolvida deve estar ciente dos objetivos, propostas e conseqüências do trabalho visadas pelo estudioso e este, em momento algum, pode entender os sujeitos aos quais se dirige bem como o grupo no qual começa a se inserir como uma mera fonte de informações.

  As informações relevantes para o desenvolvimento do presente trabalho serão buscadas em fontes diversificas. São consideradas como principais: o levantamento bibliográfico de autores versem sobre o tema, a observação participativa em sala de aula, a análise dos planos de aula das professoras e os cadernos dos alunos, entrevistas semi-estruturadas com as professoras responsáveis pela disciplina história e um questionário contendo seis perguntas elaborado pelo pesquisador e respondido individualmente pelas crianças, além da observação de atividades ocorridas extra-classe, como o recreio.

RESULTADOS:

  A aula de história na quarta série pesquisada fica na grande maioria das vezes resumida ao ponto na lousa que os alunos copiam para a posterior leitura em voz alta, a qual se segue uma decifração das palavras desconhecidas presentes no ponto e uma rápida explicação da professora. Posteriormente são passados alguns exercícios para serem resolvidos em casa e corrigidos na próxima aula. Como a “próxima aula” de história demora uma semana para ocorrer o ensino desta disciplina fica muito “picado” faltando para as crianças uma noção de continuidade. Fica evidente uma discrepância entre o relatado pela professora em entrevista e o realizado em sala de aula. Na entrevista a professora afirma seguir os PCN mas, na realidade ministra uma aula muito mais caracterizada pelos métodos tradicionais (giz, lousa e ponto para os alunos copiarem) do que com o proposto pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (ensino de história vinculado a pesquisa, trabalho com documentos e fontes.

  Na quinta série pesquisada, os métodos didáticos utilizados pela professora vão muito no sentido do proposto nos PCN, sendo a aula de história pouco vinculada ao livro didático. O ensino é voltado para o cotidiano dos alunos e procurando sempre incluir temas atuais nas discussões de sala de aula, evitando, dessa forma, uma história narrativa e descritiva impregnada de fatos e datas. Esta “inclusão” não é feita de forma aleatória, a professora procura selecionar ou produzir textos que façam a ligação entre a historia “passada” e o que esta acontecendo hoje.

CONCLUSÃO:

  As diferenças entre a criança na quarta e na quinta série são significativas e, na concepção tanto das crianças quanto dos professores, o período ainda é caracterizado como de mudanças sendo, em alguns casos, mudanças bruscas. São muitos os receios da criança na quarta em relação à quinta série, estando os maiores relacionados à questão da divisão em vários professores e da relação que terão com adolescentes mais velhos. Uma outra fonte de inquietação diz respeito ao que uma criança assim declarou no questionário: “da quinta série para frente a coisa é séria, não tem mais brincadeira.” A frase transcrita resume muito bem a forma como o período é abordado, antes, até quarta série o ensino é mais vinculado ao lúdico, a cobrança é menor e sempre sobra tempo para brincar, da quinta série em diante tudo isto vai mudar porque os professores são muitos, os conteúdos mais difíceis e não é mais tempo para brincadeiras. Enfim é como se deixassem de ser crianças e passassem a uma fase mais séria da vida.

  Em relação ao modo como as crianças compreendem a história, tanto na quarta como na quinta série este fator está muito vinculado ao método e ao conteúdo utilizado em sala. Uma abordagem tradicional do ensino favorece uma concepção de história estática e relativa a datas passadas, enquanto quando o ensino é pautado no cotidiano dos alunos, eles tendem a ter uma visão dinâmica e participativa da história.

Palavras-chave: DESCONTINUIDADES NO ENSINO DE HISTÓRIA, ENSINO DE HISTÓRIA, ENSINO-APRENDIZAGEM.