61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 2. Arqueologia - 2. Arqueologia Pré-Histórica
OS AMOLADORES-POLIDORES SOBRE ROCHAS NO ALTO RIO MADEIRA
Bruna Cigaran da Rocha 1
Vinícius Eduardo Honorato de Oliveira 1
Michelle Mayumi Tizuka 1
Renato Kipnis 1
Eduardo Góes Neves 1
1. Scientia Consultoria Científica
INTRODUÇÃO:

O trabalho de polimento – um procedimento que consiste em alterar superfícies por abrasão lenta – em pedra, madeira ou ossos deixa marcas como estrias, micro-desgastes, e micro-polimentos; fáceis de serem distinguidas como resultado da ação humana. Durante as prospecções arqueológicas associadas ao licenciamento ambiental do canteiro de obras da UHE Santo Antônio foram identificadas diversas rochas graníticas com sinais de terem sido utilizadas como amoladores-polidores ao longo de ambas as margens do Rio Madeira e ao redor da Ilha Santo Antônio, frequentemente associados a sítios arqueológicos.

 

A existência de sítios arqueológicos com amoladores-polidores fixos já é relativamente bem registrada no Brasil, porém a maioria absoluta desses registros está relacionada a sítios localizados em áreas litorâneas, ilhas e costa. Próximo a rios, poucas são as informações disponíveis na literatura desse tipo de vestígio arqueológico.

 

Uma das hipóteses que tenta explicar a ocorrência desse tipo de vestígio arqueológico é de que concentrações de amoladores-polidores são importantes para os sistemas aos quais pertenceram, podendo ser esses locais centros de produção e dispersão de lâminas de machado polidas em um momento de desenvolvimento de tecnologias especializadas e de sistemas de troca.

METODOLOGIA:

Caminhamentos em locais com potencialidade, em pedrais nos entornos de sítios arqueológicos, unidos a informações de moradores nos levaram a encontrar os amoladores-polidores. Ainda há poucos parâmetros estabelecidos para registro e descrição desse tipo de vestígio. Elaboramos uma ficha a partir de pesquisa bibliográfica sobre o tema para que o registro feito seja minimamente padronizado.

 

Registramos cada amolador-polidor (normalmente são encontrados em conjuntos sobre um mesmo embasamento ou bloco) individualmente na ficha, descrevendo sua forma (secção e planta baixa) e suporte. Observamos se há associações entre os amoladores-polidores e como se dá essa associação (podem ser sobrepostos ou paralelos, por exemplo). A ficha também inclui medidas de área, comprimento, espessura, largura e profundidade máximas, assim como a inclinação do suporte e o azimute.

 

Fotografias dos amoladores-polidores individuais e da paisagem do entorno também fazem parte do registro.

 

Para descrição dos amoladores-polidores foi utilizada a tipologia construída por Vacher, Jérémie e Briand.

RESULTADOS:

No entorno da Ilha de Santo Antônio e próximo ao sítio arqueológico Veneza foram identificados dezenas de amoladores-polidores sobre suportes graníticos. A grande maioria destes é do tipo denominado longilíneo, ou seja, uma forma longa e estreita, talvez utilizado no polimento de varas. Encontramos também superfícies de abrasão, com planta baixa elipsoidal.

 

Em termos de comprimento dos longilíneos, houve variação considerável, o que não foi o caso constatado nas medições de profundidade e largura, mostrando que após uma determinada profundidade de desgaste, o amolador-polidor perdia sua utilidade.

 

No sítio arqueológico Campelo, um polidor portátil foi encontrado durante os trabalhos de escavação.

 

Na margem direita do rio Madeira, encontramos uma área a aproximadamente 1 km do rio com amoladores-polidores em embasamento granítico. Salvo um caso, todos os amoladores-polidores são superfícies de abrasão. A exceção se dá numa forma denominada ombiliqué. A largura destes amoladores-polidores era mais uniforme do que as outras medidas de comprimento e profundidade, sugerindo ao menos uma certa padronização de movimento ao executar o polimento. As variações nas outras medidas podem sugerir que os objetos eram de porte diverso.

CONCLUSÃO:

Podemos observar que cada área tem uma prevalência de amoladores-polidores distintos: formas longilíneas para aqueles nas proximidades do sítio Veneza na margem esquerda e na Ilha de Santo Antônio, e superfícies de abrasão para a área de ocorrência na margem direita.

 

A frequência maior de um ou outro tipo pode indicar uma preferência tecnológica por certo tipo de polimento; ao mesmo tempo, a presença das superfícies de abrasão em ambas as áreas pode significar sua indispensabilidade no processo, ou mesmo um tipo de especialização. Ou ainda, eventos temporalmente distintos.

 

Podemos constatar que a frequência de polidores na área diretamente afetada pela construção do eixo da UHE Santo Antônio assinala a existência de grupos especializados na produção de artefatos polidos.

Palavras-chave: rio Madeira, amolador-polidor, tecnologia especializada.