O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia nas últimas duas décadas tem adotado como princípio não apenas a produção do conhecimento do ambiente Amazônico, mas também a inserção das comunidades nessa missão. O Projeto Circuito da Ciência visa promover a sensibilização ambiental das pessoas, assim como tornar o Bosque da Ciência e o Jardim Botânico mais próximos e significativos da população menos favorecida e destituída de oportunidades sócio-culturais e ambientais que a realidade global e local exigem. São objetivos do Projeto promover ações sócio-ambientais de formação, sensibilização, lazer, informação, difusão e divulgação de conhecimentos científicos e tecnológicos, a partir das vivências no Bosque da Ciência e Jardim Botânico Adolpho Ducke, em Manaus.

As atividades do projeto, que ocorrem mensalmente no último final de semana, têm como primeiro passo o cadastramento das comunidades e escolas. Tal procedimento é realizado em parceria com as Assistentes Sociais do Programa Médico da Família da Prefeitura e com os professores da rede publica. Após os convites e os contatos iniciais, os responsáveis pelo projeto e estagiários se dirigem às comunidades ou escolas participantes e aplicam um questionário, com perguntas abertas e fechadas, para perceber o grau de interesse e a demanda, além de algumas explanações de ordem operacional sobre o projeto. O segundo passo é a visita ao Jardim Botânico ou Bosque da Ciência, onde ocorre intensa programação envolvendo visitas guiadas nas trilhas, oficinas, gincanas, palestras e atividades ludo-culturais, envolvendo meio ambiente, saúde, reciclagem, alimentação alternativa, musica, teatro, entre outras. Ao final das atividades, novo questionário é preenchido, por amostragem, para avaliar o nível de satisfação dos participantes. Participam do projeto cerca de 300 pessoas por edição mensal, que são transportadas por ônibus gratuitos, especialmente cedidos ao Projeto pelos parceiros.

Ao longo de nove anos participaram do projeto122 comunidades urbanas e quatorze escolas municipais, contando cerca de 23.500 pessoas, entre jovens e adultos. A grande maioria (83%) dos entrevistados respondeu que suas expectativas foram atendidas, destacando a beleza natural, trilhas interpretativas e animais livres, além das informações transmitidas pelos monitores. Os que alegaram o não-atendimento das expectativas justificaram por dificuldades de locomoção devido à falta de trilhas adequadas para deficientes. Cem por cento das pessoas entrevistadas alegaram que a floresta deve ser mantida, pois é importante para a vida do ser humano e devemos preservá-la para as gerações futuras. A minoria alega que não retornará porque não é acostumado a sair de casa, achou a localização complicada e distante ou ainda, tem limitações físicas. Os resultados têm mostrado mudanças de comportamento das pessoas, após atividades lúdicas em relação ao meio ambiente, envolvendo saúde e expectativas de geração de renda. Como desdobramento das visitas, o INPA tem sido solicitado para orientações de plantios e arborização nas comunidades e escolas, palestras de cunho ambiental e de saúde, transferência de tecnologia para madeiras, agricultura, florestas, alimentos, entre outros. Os participantes do projeto têm retornado ás áreas de visitação, na busca de novas informações, bem como as escolas tem apresentado projetos e oficinas ligadas à área de meio ambiente.

Verificou-se, entre outros aspectos, que esse tipo de atividade tornou-se, em muitos casos, o único momento de inclusão para essas pessoas que em sua maioria se sentiam não envolvidas nesse tipo de acesso. Após a visita aos núcleos interativos e a participação nas atividades vivenciadas, verificavam-se em seus depoimentos sentimentos de gratidão, de afeto, de alegria e da sensação de pertencer a algum lugar e de merecer tais ações. Para a maioria do público da “melhor idade”, esse dia se igualava aos melhores acontecimentos de suas vidas, com o resgate de auto-estima há muito perdida pelo tempo. Os resultados indicam a necessidade de se fortalecer as áreas de preservação e de visitação aberta ao público e a cultura desse tipo de atividade, com estratégias de uso para deficientes físicos e/ou dificuldades de locomoção, bem como programas de educação ambiental nas escolas e comunidades. Os resultados globais deverão ser observados em médio prazo, com mudanças de comportamento.