Segurança alimentar consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis. Este conceito engloba aspectos de garantia da produção e oferta agrícola, do direito de acesso aos alimentos e da qualidade sanitária e nutricional dos mesmos. A cidade de Coari-AM está a 362 Km de Manaus. O acesso só é possível por via aérea ou fluvial, o que dificulta o abastecimento. A população urbana é de 44.926 habitantes e o IDH é considerado médio (0,703). Apesar do município ter um dos mais elevados PIB per capita (~14 mil reais) da Região Norte, apresenta baixa produção agrícola e deficiência na infra-estrutura do comércio. Também há pouca variedade de itens alimentícios e precariedade nas condições higiênico-sanitárias dos estabelecimentos. Os hábitos de compra de alimentos de uma população estão associados diretamente com a segurança alimentar. Neste trabalho, foi feito um levantamento de tais hábitos de habitantes de Coari e avaliadas as implicações das escolhas dos alimentos quanto à segurança alimentar.

Foram observados 279 sujeitos quanto aos hábitos de compra, sendo 121 em 8 mercadinhos, 76 na Feira dos Produtores e 82 no mercado de carnes. Foi caracterizada a qualidade dos alimentos e bebidas adquiridas para consumo dos habitantes da área urbana de Coari que freqüentam os principais tipos de estabelecimentos comerciais, isto é, mercadinhos, Feira dos Produtores e o mercado de carnes, por meio de estudo observatório e análise descritiva.

Os principais itens comprados nos mercadinhos foram (%): leite em pó integral (35), arroz polido (30), macarrão (30), enlatados e embutidos (27), frango (21,67), ovos de galinha (20), sucos industrializados (21), café em pó (16,67), óleo de soja (15,83), açúcar (15,83), biscoito cream cracker (14,17), feijão carioca (14,17), biscoito doce (12,50), tomate (12,50) e refrigerantes (6). Já na feira dos produtores os principais alimentos escolhidos foram (%): pimenta de cheiro (42,11), cheiro verde (39, 47), banana prata (39,47), macaxeira (38,16), cebolinha (34,21), banana pacovã (31,58), farinha (31,58), tomate (30,26), tucumã (27,63), laranja (27,63), limão (27,63). Quanto à compra de produtos cárneos os produtos mais escolhidos foram (%): jaraqui (51,22), pirarucu (15,85), tambaqui (13,41), pacu comum (10,98), jaturana (10,98), sardinha (6,10), aruanã (6,10), tucunaré (4,88), surubim (4,88), jiju (3,66), matrinxã (3,66).

Observou-se um consumo elevado de alimentos ricos em carboidratos e proteínas de alto valor biológico, por outro lado, verificou-se que, embora houvesse uma variedade razoável de frutas e verduras, os itens mais consumidos nessas categorias foram os condimentos, tais como a pimenta de cheiro, cheiro verde e cebolinha. Essas observações quanto às escolhas dos alimentos caracterizam um quadro sugestivo de desequilíbrio nutricional. É sabido que fatores culturais, econômicos e sociais podem influenciar no consumo dos alimentos, assim, o baixo consumo de frutas e verduras supracitadas evidencia monotonia alimentar e pode estar associado a estes fatores. Independentemente dos locais de compra, foi observado um perfil geral de monotonia entre as escolhas de alimentos. A produção agrícola no município de Coari é baixa, o que compromete o abastecimento local, além disso, o transporte de alimentos é feito essencialmente pela via fluvial. Ainda sobre o abastecimento, foi constatada a ausência de oferta de carne bovina devido à interdição judicial do abatedouro local por problemas higiênico-sanitários. Essa discussão indica fatores que implicam no comprometimento de alguns aspectos que compõem o conceito de segurança alimentar e nutricional na área urbana de Coari.