61ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 8. Fisioterapia e Terapia Ocupacional - 1. Fisioterapia e Terapia Ocupacional
ANÁLISE DA DINÂMICA LABORAL E SUA RELAÇÃO COM A SINTOMATOLOGIA DOS DISTÚRBIOS ÓSTEOMÚSCULO-ESQUELÉTICOS RELACIONADOS AO TRABALHO – DORT, EM CABELEIREIROS DE PORTO VELHO-RO.
Janne Cavalcante Monteiro 1
Afrodite Oliveira de Azevedo 1
Ghislaine J. França Romano 1
Conceição Aparecida Mesquita Tab 1
1. Faculdade São Lucas
INTRODUÇÃO:
Na atividade laboral dos cabeleireiros são comuns movimentos manuais repetitivos por longos períodos de tempo, ritmos acelerados, exigências na qualidade de serviços, inadequação do posto de trabalho e posturas incorretas para a realização das atividades, fatores estes determinantes de Distúrbios Músculo-esqueléticos Relacionados ao Trabalho - DORT. Apesar dos riscos ocupacionais relacionados ao movimento repetitivo, constam poucos estudos apontando as disfunções musculoesqueléticas nestes profissionais. Este cenário pode gerar um grande número de pessoas comprometidas fisiologicamente durante a idade produtiva, acarretando prejuízo não apenas para o trabalhador, pela incapacidade para o trabalho, mas também para toda a sociedade, incluindo suas famílias e dependentes. Desta forma, o objetivo deste trabalho é analisar o trabalho desenvolvido pelos cabeleireiros em Porto Velho, verificando em que medida a atividade laboral pode influenciar no surgimento dos sintomas de DORT, identificando os fatores de riscos relacionados a DORT no ambiente de trabalho, as regiões do corpo mais acometidas pela sintomatologia da DORT entre os cabeleireiros, relacionando-as com a dinâmica laboral. A partir desse diagnóstico da situação de trabalho é possível instituir ações preventivas que minimizem e/ou eliminem os agravos advindos da atividade laboral entre os profissionais cabeleireiros e melhorem sua qualidade de vida no trabalho.
METODOLOGIA:

Trata-se de um estudo transversal, cuja pesquisa é descritiva, utilizando-se o método de levantamento de dados. A amostra constou de 55 profissionais cabeleireiros de salões de beleza de médio porte em Porto Velho/RO, todos previamente informados e em concordância com o trabalho através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Como critérios de inclusão foram exigidos ser trabalhador de salão de beleza e ocupar a função de cabeleireiro por mais de 2 anos e estar em plena atividade de suas funções laborais. Não participaram os profissionais que não exerciam prioritariamente a atividade de cabeleireiro. Para a coleta de dados foram utilizados dois questionários: QNSO-Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares, como medida de morbidade, para quantificar as regiões do corpo mais acometidas pelos sintomas osteomusculares, e o Questionário para Levantamento das Condições e Organização do Trabalho, Fatores Psicossociais e sobre os Fatores de Incômodo ou Fadiga Relacionados ao Trabalho, que investiga as principais problemáticas na profissão dos cabeleireiros. Foram realizadas observações sistemáticas diretas, transcritas em papel e registradas através de imagens fotográficas, embasadas no método ergonômico, através de visitas técnicas aos locais de trabalho para auxiliar na compreensão da dinâmica laboral e sua relação com a sintomatologia da DORT. O Tratamento de dados foi quantitativo e qualitativo de forma a atribuir significado à análise.

RESULTADOS:

Houve prevalência de faixa etária entre 21 a 40 anos (56,4%) na amostra. Estudos mostram o desenvolvimento de DORT entre 20 a 45 anos, pela inserção maior no mercado de trabalho. A sintomatologia apresentada com maior freqüência ocorreu na coluna cervical (65,4 %), ombro (56,4%), punho (58,2 %) e tornozelo (56,4 %).  As posturas adotadas foram a posição de pé (55%), e sentado/de pé (45%), sendo a posição de pé a predominantemente adotada registrada na observação do ambiente de trabalho. A carga horária de trabalho variou entre 10 a 12 horas por dia (55%), contribuindo para agravar os achados. Estes dados refletem que as estruturas físicas mais acometidas são aquelas relacionadas com o trabalho que desenvolvem, com mais freqüência o corte/escova (25,6%) e tintura (23,6%). Nestas atividades utilizam posturas estáticas, movimentos repetitivos e precisos que geram sobrecarga músculo-esqueléticas evoluindo para quadros álgicos, parestesias e formigamentos. Segundo a literatura toda a atividade realizada,  tanto com os braços em elevação, quanto  flexão da cabeça em relação à vertical maior que 30º, produz um aumento de tensão cervical, isso justifica a porcentagem elevada desta sintomatologia na amostra. Observou-se bom grau de satisfação em relação a: remuneração, temperatura e iluminação do ambiente de trabalho, equipamentos utilizados e disponibilidade de materiais de trabalho. Estes achados podem estar relacionados à autonomia dos sujeitos no ambiente de trabalho, por serem profissionais liberais.

CONCLUSÃO:
A organização do trabalho dos cabeleireiros apresenta fatores de riscos que relacionam-se com as regiões do corpo mais acometidas, estando estes expostos  a locais de trabalho anti-ergonômicos, jornadas prolongadas, movimentos repetitivos, posturas inadequadas, entre outros fatores que colocam em risco o desempenho de suas atividades laborais, predispondo-os ao desenvolvimento de DORT. A prevalência da sintomatologia da DORT na amostra foi em coluna cervical, ombro e punho, regiões estas relacionadas ao tipo de atividade laboral exercida. Verificou-se o reconhecimento da sintomatologia de forma isolada proporcionará somente uma abordagem terapêutica paliativa onde se estará atuando apenas sobre um subsistema do processo produtivo, que se acredita estar desencadeando o problema – o homem-, desprezando sua relação com o meio em que trabalha. Dessa forma, há necessidade de uma análise do ambiente de trabalho para identificação dos fatores de risco ocupacionais decorrentes da organização do trabalho dos cabeleireiros, já que esses podem contribuir para a sintomatologia apresentados pelos sujeitos deste estudo. Neste contexto, a fisioterapia não pode apresentar apenas um caráter curativo, mas deve atuar de forma relevante com a prevenção primária. O fisioterapeuta pode e deve utilizar-se da analise ergonômica laboral para obter um diagnóstico ocupacional da situação de trabalho e realizar uma intervenção preventiva eficaz, a fim de contribuir na minimização e/ou eliminação da DORT
Instituição de Fomento: Faculdade São Lucas
Palavras-chave: DORT, Ergonomia, Fisioterapia.