61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 13. Parasitologia - 2. Helmintologia de Parasitos
PRESENÇA DE BLASTOCISTOS DE CESTODA DA ORDEM Trypanorhyncha NA MUSCULATURA DE Brachyplatystoma sp. (SILURIFORME: PIMELODIDAE), COMERCIALIZADOS EM MACAPÁ-AP E SUAS REPERCUSSÕES SANITÁRIAS E COMERCIAIS
Antônio Carlos Souza da Silva Júnior 1
Cecile de Souza Gama 1
Elane Giese Guerreiro 2
1. Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá - IEPA.
2. Departamento de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Pará - UFPA.
INTRODUÇÃO:

Ocasionalmente peixes destinados ao consumo humano podem estar infectados por determinadas espécies de parasitos, alguns podendo por em risco a saúde dos consumidores, transmitindo-lhe doenças, e outros, que mesmo não sendo transmissíveis ao homem, adquirem importância sanitária quando causam um aspecto repugnante no pescado, resultando no desprezo daquele espécime parasitado. Neste segundo contexto situam-se os cestóides da Ordem Trypanorhyncha, as informações sobre o parasitismo por cestóides Trypanorhyncha em peixes da bacia amazônica são restritas a poucos trabalhos, sendo a quase totalidade das investigações desenvolvidas na costa sudeste brasileira e realizadas em apenas uma ou poucas espécies. O presente trabalho teve como objetivo relatar a presença de cestodas da ordem Trypanorhyncha na musculatura de peixes comercializados na cidade de Macapá, registrando seus aspectos quantitativos e sua importância comercial.

METODOLOGIA:

Obteve-se 80 exemplares de Dourada (Brachyplatystoma sp.), eviscerada para a retirada dos filés. O material foi identificado, embalado, e acondicionado em caixas isotérmicas, sendo transportado ao Laboratório de Ictiologia do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá, onde ocorreu a retirada dos filés. Esta ocorre ao longo de todo o comprimento do peixe, através de uma incisão que se inicia próximo aos opérculos, indo até a inserção da nadadeira caudal, obtendo-se dois filés, um de cada lado. Os dois filés obtidos de cada exemplar de peixe foram observados em mesa de inspeção do tipo “candling table” (constituída de um tampo de vidro fosco e de uma luz branca na parte inferior) que, por transparência, permite a visualização dos cistos dos parasitos entre os tecidos. Os blastocistos presentes na musculatura foram removidos dos tecidos e em seguida mensurados. Em estereomicroscópio, os escólices dos cestóides coletados foram liberados dos blastocistos, sendo processados seguindo a metodologia padrão na ictioparasitologia para parasitos da classe Cestoda. As médias e as freqüências foram as medidas utilizadas como parâmetros para relatar a prevalência, abundância, intensidade de infecção.

RESULTADOS:

Os peixes examinados apresentaram uma variação de comprimento total de 33,43cm a 49,61cm com média de 39,92cm, onde 78,75% apresentaram parasitismo muscular por pelo menos um blatocisto, sendo recolhidos 345 blastocistos de quatro espécies diferentes, caracterizando um poliparasitismo. Também foi registrada uma Intensidade média de Infecção de 5,48 larvas/peixe e abundância média de 4,31. Foram encontrados peixes parasitados em todas as classes de comprimento, e em relação à Prevalência por classe de tamanho dos peixes, esta foi maior na classe entre 45,0cm a 50,0cm. Do poliparasitismo registrado, as duas espécies mais encontradas foram Callitetrarhynchus gracilis com prevalência de 38,8% e intensidade média de infecção de 6,23; logo seguida da espécie Pterobothrium heteracanthum que parasitou 23 peixes, com prevalência de 28,8% e intensidade média de infecção de 5,35. Também foram encontradas as espécies Pterobothrium crassicolle (7,5%) e Poecilancistrium caryophyllum (3,75%) que apresentaram Intensidade média de infecção de 2,67 e 4,33 respectivamente. Dos 345 blatocistos recuperados, 206 (59,71%) encontravam-se na musculatura abdominal e 139 blastocistos (40,29%) foram encontrados na musculatura dorso-lateral, considerada como uma musculatura com importância comercial.

CONCLUSÃO:

Não existe registro anterior sobre o parasitismo por larvas de cestóides da Ordem Trypanorhyncha em peixes provenientes do Estado do Amapá, e são poucos os relatos que estimaram índices de parasitismo por cestóides desta ordem restritos a musculatura, parte do corpo de maior valor nutricional e comercial da maioria dos peixes. O alto percentual de parasitismo muscular dos peixes (78,8%) indica que esta área corporal pode ser considerada referência para estudos de levantamento epidemiológico desta parasitose, além de assumir importância capital no âmbito comercial deste peixe, já que na inspeção do pescado, os metacestóides da ordem Trypanorhyncha, mesmo não possuindo potencial zoonótico, adquirem relevância higiênica pelo aspecto repugnante que ocasionam quando os peixes teleósteos apresentam elevada intensidade destes parasitos na musculatura, peritônio, mesentério e fígado, podendo ter sua comercialização impedida pela fiscalização sanitária ou serem rejeitados pelo consumidor.

Instituição de Fomento: SETEC/CNPq
Palavras-chave: Ictioparasitologia, helmitologia, aspectos sanitários.