As aves silvestres são reconhecidas como as melhores bioindicadoras dos ecossistemas terrestres (Almeida, 1998). As espécies da avifauna ocupam muitos nichos ecológicos e tróficos das florestas, distribuindo-se desde o piso até as copas das árvores. Outro papel importante das aves está na dispersão de sementes, uma vez que a regeneração de um ambiente degradado depende, principalmente, da chegada de propágulos a este local (Reis et al., 2006). Em muitas áreas ainda se desconhece à composição da avifauna, em especial nas regiões sob o domínio de Floresta Estacional Decidual da Mata Atlântica, no Rio Grande do Sul. O Rio Ijui destaca-se como um importante remanescente de refugio para a fauna, pela riqueza de sua mata ciliar, onde muitas espécies de aves contribuem para os ciclos biológicos do ecossistema. Portanto este trabalho teve como objetivo identificar a avifauna nos fragmentos da mata ciliar na região adjacente a APP ( área de preservação permanente) da área de influência da Usina Hidroelétrica Passo São João, que se localiza na bacia Hidrográfica do Rio Ijui, no município de Roque Gonzáles/RS, pois houve a supressão de uma grande parte de vegetação na área que será atingida pelo lago.

No levantamento da avifauna no entorno do empreendimento foram amostradas 101 espécies, distribuídas em 29 familias. Sendo elas, Emberizidae, Tyrannidae ( ambos 14 espécies) Columbidae ( 7 espécies), Ardeidae, Muscicapidae ( ambos 6 espécies) Cuculidae, Picidae ( ambos 5 espécies) Accipitriae, Falconídae, Hirundinidae, Rallidae ( abmos 4 espécies), Strigidae ( 3 espécies) Alcedinidae, Formicariidae, Furnariidae, Icteridae, Psittacidae, Threskiornithidae, Tinamidae, Trochilidae ( ambos 2 espécies), Bcconidae, Cathartidae, Charadriidae, Fringillidae, Jacanidae, Mimidae, Passeridae, Phalacrocoracidae, Trogtodytidae ( ambos 1 espécie). A maioria das espécies foi registrada ocupando mais de um ambiente. Algumas foram restritas a ambientes aquáticos e campos secos.  Aproximadamente 68% da avifauna está associada em maior ou menor grau a ecossistemas florestais. Entre as espécies identificadas, sete, estão citadas por Fontana et al.(2003) no Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção no Rio Grande do Sul, Columba cayennensis (Vulnerável), Crotophaga major (Vulnerável), Euphonia violácea (Vulnerável), Leptodon cayanensis (Criticamente em perigo), Mesembrinibis cayennensis (Em perigo), Polioptila láctea(Em perigo), Dryocopus lineatus (Vulnerável).

A amostragem com o uso do método de procura por vocalização/visual apresentou indicativos sobre a associação da avifauna em relação aos ambientes florestais, demonstrando que uma grande porcentagem de indivíduos possui algum vinculo de maior ou menor grau com o meio, tendo então demasiada importância a vegetação ciliar na bacia, embora reduzida com a supressão da vegetação, decorrente da instalação do lago para futura geração de energia. Contatou-se na área de estudo, que a principal ameaça para algumas espécies de aves será a destruição das florestas ciliares, especialmente ao longo do rio Uruguai e seus afluentes( Riu Ijui), seja devido à expansão agrícola desorientada ou à construção de barragens de usinas hidrelétricas. Para aumentar as chances de permanência desses indivíduos é necessário um olhar atento à paisagem, tomando ações mitigadoras e de restabelecimento dos valores ambientais, revertendo o processo ambiental de fragmentação de habitat. As ações antrópicas adequadas fazem com que a intervenção humana perca o efeito desestabilizador sobre os ecossistemas naturais, estimulando o seu equilíbrio dinâmico.