61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 10. Educação Rural
Escolarização dos Jovens Militantes, inseridos em Movimentos Sociais/ Sindicais, em Diálogo com Dados da PNAD/ IBGE (2006) e da PNERA/ INEP (2005)
Maria Emilia Barrios Rodrigues 1
Elisa Guaraná de Castro 1
1. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/ ICHS/ DLCS
INTRODUÇÃO:
O presente estudo é um recorte do projeto, em andamento, “Estudo sobre o perfil e a composição da juventude junto aos movimentos sociais rurais no Brasil”, coordenado pela prof. Elisa Guaraná de Castro (DLCS/NEAD/FAPUR). O universo investigado é composto de três eventos: II Acampamento da Juventude da Agricultura Familiar – março/2006 (organização FETRAF); Seminário Jovem Saber – realizado durante o Grito da Terra Brasil – maio/2006 (organização CONTAG); II Congresso Nacional da Pastoral da Juventude Rural – julho/2006 (organização PJR). Os instrumentos de investigação permitiram uma análise comparativa entre os dados quantitativos sobre Juventude do Movimento Sindical (CONTAG e FETRAF), da Pastoral da Juventude Rural (PJR), em diálogo com dados da PNAD/ IBGE (2006) e da pesquisa PNERA/ INEP (2005). Este estudo tem por objetivos: entender como a educação se insere como bandeira de luta para os jovens que militam em movimentos sociais; analisar a escolarização continuada e evasão escolar. Contribuindo assim com o debate sobre as demandas e os desafios da educação rural e, os pressupostos que fundamentam as práticas educacionais promovidas pelos movimentos sociais. Em especial, as que são direcionadas a juventude do campo.
METODOLOGIA:

Os dados que estruturam a análise proposta foram coletados em três eventos de massa da juventude organizada pela FETRAF, CONTAG e PJR. A equipe de pesquisa (Castro e estudantes de graduação da UFRRJ) utilizou-se de instrumentos qualitativos em diálogo com instrumentos quantitativos, como a aplicação de questionário em grupo e entrevistas. Esse método de aplicação aproxima-se da técnica de amostragem por conglomerados (Bussab e Bolfarine, 2000), que é empregada quando o custo de atingir as unidades elementares é muito alto ou nem mesmo é viável. A população alvo dos perfis realizados é constituída por jovens que estiveram presentes nos três encontros em questão. Com relação ao universo a ser considerado para a aplicação dos questionários, optou-se por trabalhar com o total de inscritos nos eventos. Participaram da pesquisa o total de 1577 pessoas, destes aproximadamente 90% correspondem a faixa etária de 15 a 29, o que nos possibilita comparar tais indicadores com dados que foram levantados pela PNAD e PNERA. A segunda etapa adotada para o estudo foi a análise dos dados obtidos sobre o debate de educação rural nos encontros da juventude do campo e a escolarização dos jovens que militam em movimentos sociais/ sindicais em relação a formação continuada e evasão.

RESULTADOS:
Os pilares que sustentam a luta por uma educação no campo e para o campo ficaram mais nítidos diante da leitura que os jovens do campo possuem sobre a escola e o processo educacional. Essa luta acompanha o novo retrato da juventude militante, formado a partir do seu grau de escolarização.  A média de conclusão, no Ensino Médio/ Técnico, destes jovens tem um índice mais expressivo do que os dados do PNAD e chega ser 7 vezes maior do que os dados da PNERA. Outro dado importante é um índice residual de baixa escolaridade, a inexistência de participantes que declararam “nunca ter estudado” e um percentual elevado de freqüência e de conclusão do Ensino Superior. A elevada escolarização dos jovens que participaram dos eventos observados frente aos jovens abordados nas pesquisas citadas, nos direciona para a hipótese de que os movimentos sociais em questão estimulam os jovens a continuarem os estudos. Este estímulo pode ter duas leituras. Uma que vai ao encontro à própria percepção do movimento sobre uma educação democrática que percebe este processo como um veículo importante para a transformação da sociedade. E a segunda passa pela idéia de que a formação política destes jovens também se dá pelo processo acadêmico, além da formação vivenciada dentro do próprio movimento.
CONCLUSÃO:

A temática da educação posta em debate nos movimentos sociais tem sido conjugada com a falta de infra-estrutura no meio rural; com a discussão sobre a construção de identidade rural a partir dos diferentes olhares e as especificidades do campo; com a necessidade de trabalhar para garantir a sobrevivência e a sucessão familiar; e com as constantes transições de inserções no espaço escolar, resultante da difícil conciliação entre estudo e trabalho - no campo ou na cidade. Como questão recorrente aparece o processo educativo como uma prática pedagógica descontextualizada da realidade vivida pelos jovens rurais. Porém, observa-se que a educação colocada em debate pelos jovens militantes tem uma preocupação que vai além de uma formação que objetive preparar jovens para o mercado de trabalho, é um processo que ultrapassa os muros institucionais possibilitando o desenvolvimento das potencialidades humanas em suas diferentes dimensões e que se relaciona com a história do indivíduo (Machado, 2006). É uma educação que se opõe às oposições que tecem á décadas o sistema educacional, segregando muitas vezes o alunado e demarcando divisores no sistema educacional através das clássicas dualidades como educação do campo x cidade, e tantos outros pares que ainda permanecem nos dias atuais.

Instituição de Fomento: Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica da UFRRJ - FAPUR/UFRRJ
Palavras-chave: Educação rural, Movimento Social/ Sindical, Juventude Rural.