61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 2. Arqueologia - 2. Arqueologia Pré-Histórica
OCUPAÇÃO POLÍCROMA NO BAIXO E MÉDIO RIO SOLIMÕES, ESTADO DO AMAZONAS
Eduardo Kazuo Tamanaha 1
Eduardo Góes Neves 1
1. Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo
INTRODUÇÃO:
O presente projeto tem como objetivo colaborar com o entendimento do processo de ocupação de sítios associados à Tradição Polícroma da Amazônia na região do médio e baixo rio Solimões, estado do Amazonas. Essas ocupações são, normalmente, superficiais e estão associados aos últimos grupos ceramistas que se fixaram na região até o século XVI DC. A proposta desse trabalho é entender, através de quatro sítios em Coari e dois na área de confluência dos rios Solimões e Negro, a forma desses assentamentos, bem como a variabilidade de suas indústrias cerâmicas. Isso envolve a análise das cerâmicas que compõem os sítios, o estabelecimento de uma cronologia dos estratos, a determinação das áreas de dispersão e densidade dos vestígios arqueológicos e sua relação com outros sítios já escavados na região. Através desse estudo pretendemos propor uma hipótese para a história da ocupação desses grupos ceramistas na região do médio Solimões e fornecer mais dados sobre a indústria cerâmica vinculada à Tradição Polícroma da Amazônia.
METODOLOGIA:
Todos os sítios escavados estão localizados na calha do rio Solimões, alguns em suas margens e outros dentro de igarapés e lagos. Todos eles passaram por processos de mapeamento topográfico e delimitação da área de ocorrência de material. Foram abertas diversas unidades em pontos chaves do sítios, escavados em níveis artificiais de 10 cm, fazendo anotações estratigráficas e das camadas arqueológicas. Todo material cerâmico e ossos foram coletados separadamente. Também foram coletados carvões para datações e amostras de Terra Preta Antropogênica para análises fisico-quimicas de sua composição. Todos esses dados são analisados em laboratório, principalmente a cerâmica, para uma melhor compreensão desses grupos ceramistas. Sua dispersão espacial e tecnologia (antiplástico, queima, pasta, etc.) forneceram dados para serem comparados com outras áreas da Amazônia.
RESULTADOS:
Os dados obtidos nessa pesquisa nos indicaram uma pequena variabilidade regional em sua indústria cerâmica. Todos possuem características comum como: reforço labial, decoração acanalada, flange mesial e pintura vermelha e preta sobre engobo branco. Uma das peculariedades encontradas é que no médio solimões existem muito mais vasilhas com a boca quadrangular, enquanto que no baixo rio solimões ela é inexistente. O antiplástico é variado, podendo ser tanto composto por cauixi como por cariapé. O cauixi é utilizado em outras tecnologias cerâmicas anteriores á essa Tradição Polícroma, porém somente o cariapé foi utilizado por esses grupos ceramistas. A camada de terra preta, fruto de ocupações sedentárias e densas, varia entre 50-70cm de profundidade em todos os sítios analisados, demonstrando não haver muita variação nas ocupações. Com relação a extensão de suas ocupações, nos sítios do médio solimões, foi possível delimitar sua dispersão horizontal tendo em média 300m ao longo das margens do rio e 200m na perpendicular. Nos sítios da área de confluência não é possível delimitar com precisão, uma vez que ocorrem 4 ocupações cerâmicas com limites difusos e, em certos pontos, com inversão estratigráfica. Porém, foi possível definir que sua dispersão ocorreu somente próximo as margens do rio Solimões.
CONCLUSÃO:
Essa cerâmica denominada Guarita, pertencente á Tradição Polícroma da Amazônia, está dispersa em varios pontos do Estado do Amazonas. Sua ocorrência abrange desde áreas do município de Silves até regiões como Barcelos no Rio Negro e Tefé no rio Solimões. Sabe-se que na região do baixo rio Madeira, sua presença é significativa. No entanto, sua associação com povos Tupi como havia sido feita por arqueólogos na década de 60, não é possível uma vez que dados etnográficos demonstram povos de lingua arawak e outras desconhecidas, fabricando essa mesma cerâmica. Na região do município de Coari, cronistas afirmam que os povos Jurimáguas possuíam uma cerâmica polícroma, porém sua língua não era inteligível com a de seus guias e, esses, eram tupi do Alto Solimões. Sua ocupação se extendia ao longo das margens do rio Solimões de forma paralela. Dados indicam que grupos anteriores á estes ocupavam em aldeias de forma circular, ou seja, a chegada dos grupos polícromos foi uma ruptura cultural em vários sentidos, seja na forma de ocupação como na produção cerâmica. Somente com mais dados obtidos em outros sítios é que poderemos ter maiores informações sobre sua ocupação e se essa ruptura ocorreu de forma pacífica (assimilação) ou através de guerras.
Instituição de Fomento: FAPESP
Palavras-chave: Arqueologia Amazônica, Tecnologia Cerâmica Pré-Histórica, Tradição Polícroma da Amazônia.