61ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 4. Química - 4. Química de Produtos Naturais
AVALIAÇÃO DOS CONSTITUINTES QUÍMICOS DO CAULE DE Spathelia excelsa E ENFOQUE QUIMIOSSISTEMÁTICO
Aline Carvalho de Freitas 1
Maria da Paz Lima 1
Antonio Gilberto Ferreira 2
1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA)
2. Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
INTRODUÇÃO:
A família Rutaceae ocorre nas regiões dos trópicos úmidos e temperados do planeta, compreendendo cerca de 1612 espécies distribuídas em 160 gêneros. No Amazonas, são catalogadas 61 espécies distribuídas em 25 gêneros, sendo os que apresentam maior número de espécies, Zanthoxylum, Hortia, Esenbeckia, Raputia e Conchocarpus. Spathelia é o único gênero da subfamília Spatheliodeae (Rutaceae), representado por 15 espécies distribuídas principalmente no Norte da América do Sul. As investigações fitoquímicas são reportadas para as espécies Spathelia sp., S. sorbifolia, S. wrightii, S. glabrencens e S. excelsa, descrevendo o isolamento de piranocromonas, alcalóides derivados do ácido antranílico e limonóides com anéis A/D seco. No Brasil, este gênero é representado pela espécie Spathelia excelsa (Krause) Cowan & Brizicky [sin. Sohnroyia excelsa K.], uma planta hapaxanta ou monocárpica a qual ocorre no Amazonas onde é conhecida como Surucucumirá cujos estudos prévios com folhas e raízes, identificou-se alcalóides e limonóides. No presente trabalho reportamos a investigação química do caule desta espécie visando contribuir para o perfil químico e quimiossistemático.
METODOLOGIA:
O material vegetal de S. excelsa foi coletado na Reserva Adolfo Ducke, no Km-26 da Rodovia AM-010 (Manaus-Itacoatiara). Para preparação dos extratos, partes do caule (2,8 kg) foram secos, moídos e submetidos a maceração sucessiva em hexano, diclorometano e metanol. O extrato metanólico (16,6 g) foi fracionado em coluna de sílica gel (70-230 mesh), eluída em hexano, Hex:DCM(1:1), DCM, DCM:MeOH (8:2→1:1) e MeOH, fornecendo 18 frações. As frações 6 (TSM-6), 8 (TSM-8) e 11 (TSM-11), foram submetidas a novos fracionamentos cromatográficos. TSM-6 submetida à filtração em coluna de celulose, as subfrações agrupadas 2-4 forneceram a mistura de ß-sitosterol e estigmasterol (1; 18 mg), as subfrações 6-9 tratadas com etanol resultou no isolamento de 2 (22 mg). A fração TSM-8 fracionada em coluna de sílica gel forneceu 33 subfrações, o refracionamento das subfrações 12-17 em coluna de sílica gel resultou no isolamento de 3 (3 mg). A fração TSM-11 (6,5 g) foi fracionada em coluna de sílica gel (200-400 mesh), seguida por filtração em Sephadex (LH-20) forneceu o isolamento da substância 4 (20 mg).
RESULTADOS:
As estruturas de todas as substâncias foram identificadas pelas análises dos dados espectroscópicos obtidos e comparação com os descritos na literatura. A identificação da mistura dos esteróides (1) foi efetuada com base nos dados de RMN de 1H e 13C. A substância 2 foi identificada como desacetilspathelina com base nos dados de IV, RMN de 1H e 13C e comparação em CCD pois este limonóide havia sido isolado nas folhas de S. excelsa. Com base nos dados de IV, RMN em 1D (1H e 13C) além dos espectros em 2D (HSQC e HMBC), a substância 3 foi identificada como o alcalóide 7,8-dimetoxiflindersina. Os derivados de flindersina que ocorrem em plantas de Rutaceae são 7-metoxiflindersina ou 8-metoxiflindersina, sendo este o primeiro registro do isolamento de 7,8-dimetoxiflindersina. A substância 4 foi identificada com base nos dados de IV, RMN em 1D (1H e 13C) e 2D (COSY, HSQC e HMBC) como 21,24-epoxi-7α,21α,23,25-tetraidroxi-4α,4β,8β,10β-tetrametil-25-dimetil-14,18-ciclo-5α, 13α, 14α,17α-colestano-3β-angeloil, um triterpeno glabretal ou protolimonóide descrito pela primeira vez na literatura.
CONCLUSÃO:
O presente estudo de investigação dos constituintes do caule de S. excelsa veio a contribuir com estudos realizados anteriormente em outras partes vegetativas, pois além da identificação dos esteróides, identificou-se metabólitos característicos de Rutaceae como o limonóide (com anéis A e D modificados), o alcalóide derivado do ácido antranílico além do triterpeno do tipo glabretal o qual tem sido encontrado em espécies da ordem Rutales. Apesar da ampla ocorrência dos derivados de flindersina na família Rutaceae, este é o primeiro registro do alcalóide (7,8-dimetoxiflindersina) na literatura bem como do triterpeno glabretal.
Instituição de Fomento: FAPEAM
Palavras-chave: Rutaceae, Limonóides, Quimiossistemática.