61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 1. Ecologia Aplicada
PRÁTICAS RURAIS COMO RISCO À QUALIDADE DE ÁGUA EM PROPRIEDADES SITUADAS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO RICO, JABOTICABAL/SP.
Argos Willian de Almeida Assunção 1
Luiz Augusto do Amaral 1, 3
Fernanda Michele Satake 1
Laudicéia Giacometti Lopes 2
1. Medicina Veterinária Preventiva - FCAV - Universidade Estadual Paulista - UNESP
2. Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Jaboticabal - SAAEJ
3. Orientador
INTRODUÇÃO:
A água é o mais importante recurso natural do mundo e sua utilização para o consumo humano a torna um importante meio de veiculação de patógenos e substâncias nocivas. Moradores da zona rural ficam ainda mais vulneráveis ao contato com essa contaminação devido à ausência de um sistema de tratamento público, enquanto que, a poluição decorrida de atividades rurais representa um dos mais importantes contribuintes para a contaminação de corpos hídricos em nossa sociedade. A contaminação fecal na água da zona rural é um problema grave como verificado por Zampieri et al. (2006) que durante um trabalho realizado em Santa Catarina em verificaram presença de coliformes fecais em 100% das amostras. Assim, esses moradores estão susceptíveis a contaminação que geram em sua propriedade, tornando a necessidade de boas práticas de manejo ambiental uma atitude de extrema importância para a conservação da qualidade da água e de um ambiente saudável. Para conhecimento das práticas adotadas nas propriedades rurais a entrevista é bastante adequada, pois permite obtenção de informações acerca do que as pessoas sabem, crêem, esperam, pretendem fazer, fazem ou fizeram, bem como acerca das suas explicações ou razões a respeito de coisas precedentes (GIL, 2007). Baseado no exposto, e em decorrência das poucas informações em nosso país sobre a qualidade da água de fontes privadas no meio rural, e a inexistência de informações na região a ser estudada é que o presente trabalho foi realizado. Os objetivos do estudo foram conhecer o manejo ambiental utilizado por produtores rurais da região de aplicação do estudo e verificar qual sua relação com a qualidade da água consumida nas propriedades.
METODOLOGIA:
A área de desenvolvimento deste projeto está vinculada ao Comitê de Bacias do Rio Mogi Guaçu (SÃO PAULO, 1974), constituindo-se em parte da bacia hidrográfica do Córrego Rico (das nascentes do Tijuco e do Rico em Monte Alto até a confluência destes em Jaboticabal). Esta Bacia está localizada na porção centro-norte do Estado de São Paulo, região administrativa de Ribeirão Preto, e abrange em sua totalidade, os municípios de Monte Alto, Jaboticabal, Santa Ernestina, Taquaritinga e Guariba no Estado de São Paulo). Foram visitadas 30 propriedades rurais da região, e coletadas amostras de água nas fontes de abastecimento e consumo humano, nas épocas de chuva e seca. Dessas amostras foram analisados coliformes totais e Escherichia coli, pelo método do substrato cromogênio, microrganismos mesófilos heterotróficos, turbidez (APHA, 1992) e nitrato (HACH, 2001). Para preenchimento do questionário foram utilizados dados do Levantamento Censitário de Unidade de Produção Agrícola do Estado de São Paulo (LUPA) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA, 1997) e realizadas entrevistas com os proprietários, durante as coletas, sobre as práticas de manejo de cada propriedade. As repostas foram comparadas com resultados de análise da qualidade da água consumida nessas propriedades para obtenção do valor de risco relativo de algumas práticas do cotidiano na zona rural. Também foi feito o mapeamento das propriedades ao longo da Microbacia utilizando um GPS (“Global Posicion System”) e inserido no Sistema de Informações Geográficas Ambiental (SIGAmbiental) da Bacia Hidrográfica do Córrego Rico.
RESULTADOS:
Foram visitadas 30 propriedades rurais durante as épocas de chuva e seca, entretanto, no período de estiagem um dos proprietários não foi encontrado impossibilitando a coleta nesse local. Assim, os resultados comparados são com 29 propriedades. Todas as propriedades em que foram realizadas as colheitas apresentaram amostras de água para consumo humano com qualidade microbiológica em desacordo com o estabelecido pela portaria 518/04 do Ministério da Saúde (BRASIL, 2004). Verificou-se que 100% das amostras de água das fontes de abastecimento e do consumo humano referentes à época das chuvas estavam comprometidas devido a contaminação por coliformes totais, apresentando pequena diminuição durante a estiagem. A presença de Escherichia coli foi verificada no período chuvoso em 15 propriedades na fonte de abastecimento e 14 no consumo humano, enquanto no período de seca as amostras contaminadas foram de 14 no abastecimento e 11 no ponto de consumo, no presente estudo ficou evidenciado que as contaminações por E. coli que atingem o consumo humano ocorrem principalmente na fonte de abastecimento. As análises referentes à turbidez e nitrato não demonstraram resultados alarmantes como as análises microbiológicas. Foram realizadas entrevistas para caracterização do manejo ambiental aplicado em cada propriedade e somente 25 aceitaram responder, eles foram questionados sobre atividades que podem influenciar direta ou indiretamente no meio ambiente e, conseqüentemente, na qualidade de água. Observou-se que em relação ao destino dos resíduos sólidos, 48% dos proprietários os queimam, 36% transportam para fora da propriedade para recolhimento público e 16% depositam em locais específicos da propriedade. Quanto aos resíduos orgânicos, a fossa negra é utilizada em 76% das propriedades, 12% dos proprietários despejam os dejetos a céu aberto e 4% despejam direto no curso d´água. Somente 8% das propriedades utilizam a fossa asséptica como opção de destino desses resíduos. As respostas possibilitaram constatar que todos os proprietários acham que a qualidade da água da propriedade é melhor que a água da cidade e 56% acreditam que a água não transmite doença alguma para o ser humano. Com o cálculo do risco relativo ficaram evidentes algumas das situações que contribuem para a contaminação da água em propriedades rurais e observou-se que a queima de resíduos representa 1,7 vezes mais risco de contaminação, a ausência de tampa nos poços apresentou um risco a mais de 1,5, a localização do poço em pontos baixos dos terrenos apresentou 1,43 de risco e que o lançamento de resíduos orgânicos a céu aberto representa 1,5. A utilização de fossa negra foi o principal fator de contaminação segundo o cálculo de risco relativo, com resultado de 4,5 mais chance de contaminação com a utilização desse destino para os resíduos orgânicos.
CONCLUSÃO:
O trabalho demonstrou que a baixa qualidade da água consumida em propriedades rurais na Microbacia do Córrego Rico, Jaboticabal/SP, pode ser decorrente da falta de acesso à informação e o desinteresse em questões ambientais dos moradores da microbacia. As propriedades que apresentaram melhores condições de qualidade da água pertencem à proprietários que adotam medidas que visam à preservação a ambiental e higiene sanitárias, como a utilização de fossas sépticas e correta instalação do poço, independente do nível de instrução. Dessa forma, faz-se necessário o desenvolvimento de estratégias de prevenção, que esclareçam para a população da Microbacia do Córrego Rico quanto à adoção de medidas como preservação das fontes de abastecimento, destinação adequada e/ou tratamento de resíduos, tratamento da água comprometida e monitoramento de sua qualidade.
Instituição de Fomento: FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
Palavras-chave: saúde pública, qualidade de água, risco relativo.