61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 4. Botânica - 8. Botânica
DIVERSIDADE FLORISTICA DAS ROÇAS DE AGRICULTORES TRADICIONAIS DO MUNICIPIO DE BENJAMIN CONSTANT, AMAZONAS
Jucélia Oliveira Vidal 1
Hiroshi Noda 1, 2
Iêda Leão do Amaral 1, 2
Sandra do Nascimento Noda 1, 3
Danilo Fernandes da Silva Filho 1, 2
Antonia Ivanilce Castro da Silva 1, 4
1. Núcleo de Estudo Rurais e Urbanos Amazônico
2. Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia
3. Universidade Federal do Amazonas
4. Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia – UFAM
INTRODUÇÃO:
Os sistemas de produção adotados pelos agricultores tradicionais amazônicos são constituídos principalmente pelos componentes: floresta, sítio, roça, criação e áreas de pousio (capoeira). As roças são clareiras abertas dentro da vegetação primária ou secundaria em diferentes estádios de sucessão, onde os agricultores tradicionais preparam a áreas principalmente através do corte e queima, e após este processo cultivam espécies de ciclos curtos, cultivadas em “miscelânea” ou como cultivos solteiros, e após alguns ciclos de cultivos são deixados em pousio. O ciclo produtivo varia de dois a três, com o tempo de pousio da ordem de dez anos, para a recuperação da fertilidade e eliminação de plantas invasoras, e em seguida são reutilizadas na produção de alimentos. Para a caracterização da fisionomia de uma área de roça, é necessário reconhecer as espécies presentes no local e fazer uma avaliação da estrutura horizontal e vertical. Assim a estrutura horizontal permite a determinação da densidade, dominância, freqüência e o valor de importância das espécies a estrutura vertical analisa o estádio de desenvolvimento vegetação, com base na distribuição das espécies nos diferentes estratos. O presente estudo visa avaliar se o manejo das áreas de roças influencia na diversidade de espécies desse componente utilizado pelos agricultores tradicionais do Município de Benjamin Constant, um importante recurso do sistema de produção agrícola tradicional.
METODOLOGIA:
O estudo desenvolveu-se em ecossistemas de terra firme, nas comunidades de Guanabara II (4º24’21”S e 69º54’29”W) e Nova Aliança (4º21’00”S e 69º36’27”W) do município de Benjamin Constant, Amazonas. Para se ter idéia da dinâmica da vegetação das roças foi demarcada 19 pontos, e nestes fez-se uma classificação da vegetação local por estrato. No estrato I abordaram-se todas as formas de vida vegetal, com DAP > 5 cm. No estrato II todas as formas de vida vegetal, foram classificadas em categoria de tamanho: Classe I – 0 a 0,5m; Classe II – 0,5m à 1,50m; Classe III – 1,51m á 3,0 m; Classe IV – ≥ 3,0m e DAP < 5 cm. Na coleta dos dados do estrato I instalaram-se parcelas quadradas de 10 x 10 m, e para o estrato II instalou-se aleatoriamente 4 subparcelas de 1 x 1 m nas parcelas do estrato I. Os espécimes coletados foram identificados conforme o sistema de classificação da APGII. A florística foi analisada através de classificação taxonômica família, gênero e espécie. Na análise estrutural da vegetação considerou-se a densidade absoluta, freqüências absolutas, área basal, dominâncias absolutas e valor de importância das espécies. E a estimativa de importância ecológica das famílias realizou-se através do Valor de Importância Familiar.
RESULTADOS:
Na área inventariada de 1600m2 de roças registrou-se a ocorrência de 10.678 indivíduos amostrados, distribuídas em 290 indivíduos no estrato I e 10.388 indivíduos no estrato II. Os indivíduos correspondem a 186 espécies, sendo exclusivamente, 8 do estrato I, 166 no estrato II e 12 em comum aos estratos I e II. As espécies totalizaram a presença de 62 famílias botânicas, distribuídos em 1 no estrato I, 48 no estrato II e 13 em comum aos estrato I e II. Entre as espécies amplamente distribuídas nas roças, houve um significativo predomínio das formas de vida erva (30,65%), árvore (20,43%), liana lenhosa (12,37%) e arbusto (11,29%). Quanto à auto-ecologia verificou-se a ocorrência de espécies classificadas como de clímax (34,59%), invasoras (28,65%), pioneiras de ciclo curto (16,22%), pioneiras de ciclo longo (6,49%), plantadas (11,35%) e desconhecidas (2,70%). Dentre as 20 espécies ocorrentes no estrato I, as que apresentaram com maior valor de importância foram a Musa sp. (17,60%), Cecropia concolo, Oenocarpus bacaba (13,14%) e Inga edulis (13,12%). No estrato II apresentou 179 as espécies, sendo as mais freqüentes foram Paspalum distachyon (13,87%), Panicum pilosum (13,86%), Erechtites hieraciifolius (10,22%) e Piper umbellatum (9,15%).
CONCLUSÃO:
As roças dos agricultores tradicionais de Benjamin Constant apresentam uma composição florística bastante diversificada, contendo muitas espécies com importância sócio-econômica. No estrato I, o recurso botânico de maior importância para os agricultores tradicionais de Guanabara II e Nova Aliança é a banana (Musa sp.), em virtude de ser uma das principais frutas comercializadas nos mercados locais em função principalmente dos hábitos culturais da população do Alto Solimões. No estrato II, as espécies com maior freqüência foram as provenientes de regeneração natural, porém, a espécie de cultivo agrícola que mais se destacou foi a mandioca.
Instituição de Fomento: FAPEAM, GEF-BiosBrasil, FINEP, CNPq
Palavras-chave: Agricultura Familiar, Composição florística, Densidade de espécies.