61ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 13. Serviço Social - 6. Serviço Social do Trabalho
O porto da Feira da Panair: o trabalho precário dos carregadores e transportadores de bagagens
Meiry Jane Vasconcelos de Souza 1
Érica Oliveira de Castro 1
Elenise Faria Scherer 1, 2
1. Universidade Federal do Amazonas, Departamento de Serviço Social-UFAM
2. CNPQ
INTRODUÇÃO:

Manaus (AM) formou-se a beira dos rios. Nos municípios amazônicos os rios são como estradas, sendo o único acesso de se chegar a maioria das vilas, povoados ou cidades, por isso a vida social e econômica tende a girar a partir dos portos. O Porto da Panair, localizada na orla fluvial da cidade de Manaus é um dos espaços urbano-fluvial em que ocorre o desembarque, comercialização e distribuição de pescado que vem de várias regiões do Amazonas.  O objetivo da pesquisa é identificar a precarização em que trabalham os carregadores e transportadores de bagagens desse porto, avaliando as contradições e a relação homem/trabalho/meio ambiente a partir do capitalismo, pois muitos vieram para a capital em busca de trabalho no Pólo Industrial de Manaus (PIM) e como não correspondiam as exigências das multinacionais, buscaram a informalidade, como forma de sobrevivência. Os carregadores de bagagens do porto da Panair, realizam suas atividades laborais em um ambiente precário, insalubre, vulnerável a doenças e acidentes sujeitos a riscos contínuos, pelo excesso de peso que carregam aproximadamente 120 kg., e  pela (in) sustentabilidade ambiental no local. Lidam ainda, com a enchente e vazante dos rios, tornando seu trabalho mais difícil e o trajeto mais longo, portanto mais penoso.

METODOLOGIA:
Na metodologia da pesquisa utilizamos as observações sistemáticas acompanhada de diários de campo e entrevistas com os carregadores de bagagens e donos das balsas flutuantes do porto da Panair. O estudo realizado a partir das observações demonstrou a falta de infra-estrutura, a precariedade do trabalho, o descaso dos poderes vigentes para com esses carregadores, expondo as seqüelas  e a questão social trazida pelo capitalismo. O processo de pesquisa está sendo pautado por levantamento bibliográfico e documental de modo a subsidiar a nossa compreensão a respeito do trabalho precário desenvolvido pelos carregadores transportadores de bagagens no  Porto da Panair.
RESULTADOS:
O comércio de peixe no porto da Panair movimenta toda a economia local, apesar disso e das leis de proteção ambiental, o que se constata é um total descaso, gerando uma desordem à beira-rio, infestado de urubus atraídos pelos restos de peixes, esgotos a céu aberto, sem saneamento básico. Nesse ambiente, os carregadores e transportadores de bagagens são os únicos a realizar o serviço de carga e descarga de peixes, mercadorias e passageiros dos barcos que atracam no porto. Carregam entre 120 a 150 kg sob a cabeça, até as bancas de peixes, comércios locais ou automóveis, cobram de R$ 5,00 a 10,00 por carregamento. Suas atividades começam na madrugada e se estendem ao longo do dia, pois não possuem carga horária. A psicodinâmica do trabalho (Dejours, 1987), afirma que a relação homem/trabalho está ligado ao sofrimento e prazer, buscando estratégias defensivas individuais e coletivas que lhes permitam evitar as doenças e preservar o equilíbrio psíquico, mesmo se ele ocorre ao preço de um sofrimento. Diante das contradições, a interação homem-natureza e a solidariedade entre os trabalhadores, constituem um cenário positivo, porém à medida em que avançam as obras do terminal pesqueiro da Prefeitura de Manaus no local, paira no ar a incerteza quanto ao futuro desses trabalhadores.
CONCLUSÃO:
O porto e a Feira da Panair apresenta-se como um local precário em muitos aspectos: falta de  infra-estrutura desde das pranchas de madeiras erguidas entre os barcos e o porto, oferecendo perigo constante para os carregadores de bagagens e para os passageiros, até a estrutura onde é feito o comércio e a distribuição de peixes, sem condições higiênicas. Em tempos que a preservação do meio ambiente e da Amazônia é um termo recorrente em todas as discussões, o que se constata nesse local é a (in) sustentabilidade ambiental em que se encontra; ausência de políticas ambientais e trabalhistas que prejudicam tanto os carregadores de bagagens do porto da Panair, quanto quem depende das negociações realizadas através dele. A figura do carregador de bagagens existe desde tempos das primeiras catraias que aportavam antes dos barcos no porto, seu trabalho já era executado desde então, porém esses trabalhadores nunca foram reconhecidos como tais pelos órgãos governamentais e ficaram à margem das leis de proteção que envolve todos os trabalhadores reconhecidos. Acompanham o progresso, como um mero expectador, contribuindo com a sua força de trabalho para o desenvolvimento da cadeia produtiva da cidade, sem tomar conhecimento do lugar que ocupa, invisível aos olhos do poder publico.
Palavras-chave: trabalho precário, (in) sustentabilidade ambiental, porto da Panair.