61ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 4. Jornalismo e Editoração
DE HOUSE ORGAN À DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA: A REVISTA PESQUISA FAPESP E O JORNALISMO DE INFORMAÇÃO CIENTÍFICA.
Bruno de Pierro 1
José Salvador Faro 1
1. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
INTRODUÇÃO:

O principal propósito da pesquisa foi investigar e verificar como ocorre a transformação do discurso científico em informação jornalística, dentro do contexto da divulgação científica. Para tanto, partiu-se da idéia de que, mais que simples ponte entre Ciência e sociedade, o Jornalismo é agente fundamental, no sentido de possuir métodos, lógica, objetivos e linguagem própros, referentes à divulgação e criação de conhecimentos. A partir do conceito de complexidade trabalhado por Morin, tentou-se mostrar que, assim como em outras coberturas jornalísticas, o reducionismo e a “máscara” da imparcialidade intensificam a produção de um jornalismo acrítico e ininteligível.

METODOLOGIA:

A metodologia do trabalho foi a utilização de uma bibliografia que não se limitasse apenas a questões próprias do Jornalismo, mas que também incluísse conceitos da Filosofia da Ciência, da pós-modernidade, da lingüística e da literatura. Só depois da abordagem de tais conceitos é que a revista Pesquisa FAPESP foi aproveitada como objeto de estudo, e dela foram analisadas matérias especiais. Também foram realizadas entrevistas com jornalistas que atuam, ou atuaram, na área científica, como, por exemplo, Eugênio Bucci e José Hamilton Ribeiro. Basicamente, o leitmotiv da metodologia foi avançar numa reflexão da divulgação e da democratização do conhecimento a partir dos conceitos de interdisciplinaridade e complexidade dos sistemas.

RESULTADOS:

.Por meio de fundamentos históricos da divulgação científica, pôde-se discutir a relação entre Ciência e recodificação de sua linguagem, retomando questões acerca da legitimidade da Ciência enquanto reprodutora fiel da realidade.

. A Ciência moderna mostrou que as teorias são mutáveis e refutáveis, assim como a incerteza se faz presente na Ciência no momento em que esta pretende refletir o real. A partir de novos paradigmas, pode-se verificar como a divulgação, de fato, nasceu com a própria Ciência, pois quanto esta muda, as formas de sua divulgação também se transformam.

. Chegou-se ao conceito de “espetacularização científica”. O Jornalismo utiliza as pesquisas tecno-científicas em seu jogo de espetáculo, levando a público produtos da “ciência imediata”. A Ciência é parte do showbusiness.

. Esse sistema comunicacional não funciona senão reduzindo a complexidade. Entre os indivíduos, a circulação das mensagens é restrita. Na sociedade do espetáculo, a redução da complexidade nas informações está ligada ao desempenho dos indivíduos, ou seja, à performance.

. A revista Pesquisa FAPESP surge com um projeto que pretende iluminar a produção científica local, aproximando-se mais da crítica do que da tradução.

. Analisando-se primeiro o formato de revista, pôde-se entender que esse tipo de publicação permite que se faça uma cobertura contextualizadora, não no sentido de que “ouve os lado” (até porque sempre há inúmeros lados), mas porque reflete, em suas páginas, os embates e convergências de diversas áreas do conhecimento, fomentando um diálogo interdisciplinar. A autonomia de cada campo é mantida, entretanto.

. Foram analisadas cinco matérias da revista; praticamente todas tratando de assuntos relativos à medicina, saúdo, genética. À última, porém, deu-se um enfoque especial, por se tratar de uma espécie de divulgação da divulgação científica. Observou-se que a revista, enquanto cobriu o caso da Xylella fastidiosa, agravou, no meio acadêmico, a popularidade do feito brasileiro, mas exaltando e festejando “o novo produto brasileiro”. Com isso, pôde-se verificar que há, sim, uma relação entre a publicação e as pesquisas financiadas pela FAPESP, que acaba, em alguns casos, obscurecendo uma cobertura mais crítica e racional.  

CONCLUSÃO:

. A divulgação científica não é “um favor” que se presta à Ciência. E, ao contrário do que se pensa, a Ciência, que também é comunicação em sua essência, necessita ampliar-se como informação a toda sociedade.

. Dentro da divulgação científica, há o Jornalismo, que teria a função de recodificar o discurso científico, desconstruí-lo e democratizá-lo. Porém, a imprensa de um modo geral apenas se limita a promover simples traduções. Falta aos profissionais dessa área uma formação que não se restrinja a debater e pensar apenas sobre si mesma, mas que ofereça meios de compreender conceitos básicos da Sociologia, da Filosofia, da Psicologia, etc. Só assim é que um Jornalismo de Ciência poderá ser mais crítico.

. A investigação tecno-científica avança e, ao mesmo tempo, crescem os poderes de grandes empresas detentoras de patentes, que partem do conhecimento para estabilizar poderes políticos e econômicos. Uma das preocupações do Jornalismo de Ciência deveria ser a investigação desses jogos de poder.

. O Jornalismo Científico toma o discurso da Ciência como verdade absoluta. A relação com as fontes é, em muitos casos, apenas de mão única, isto é, a fonte é tida como autoridade irrefutável.

Instituição de Fomento: PIBIC - CEPE
Palavras-chave: Jornalismo, Ciência, FAPESP.