61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 6. Farmacologia - 4. Farmacologia
ESTUDO DA ATIVIDADE HIPOTENSORA E VASODILATADORA DA FRAÇÃO BUTANÓLICA DE Virola surinamensis (Rol.) Warb.
Mirtes Midori Tanae 1
Thiago Mattos de Araújo Lima 2, 3
Caden Souccar 1
Maria Teresa Riggio de Lima-Landman 1
Antônio José Lapa 1, 2, 3
1. Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP/EPM
2. Centro de Biotecnologia da Amazônia - CBA
3. Universidade Federal do Amazonas - UFAM
INTRODUÇÃO:

A Virola surinamensis, conhecida popularmente como “ucuúba”, é uma árvore que cresce em várzeas e em bancos de areia nos rios amazônicos. A planta é conhecida pelos seus diversos usos etnofarmacológicos. A resina da casca é utilizada na medicina popular para o tratamento de erisipelas e o chá das folhas é indicado em cólicas, dispepsia e processos inflamatórios (Schultes e Holmsted, 1971; Berger, 1992). Os estudos químicos são numerosos (Lopes et al. Planta Med 64:667-8, 1998) mas poucos os farmacológicos. O objetivo deste trabalho foi estudar a ação hipotensora e vasodilatadora da fração butanólica (FBut) obtida do extrato aquoso das folhas da Virola surinamensis nativa na região de Manaus.

METODOLOGIA:
O pó das folhas secas da V. surinamensis foi extraído em água (5%, 72oC, 30 min), concentrado a vácuo e liofilizado. O EA foi particionado com n-butanol originando uma fração butanólica (Fbut) ativa e uma aquosa (FA) de baixa atividade na pressão arterial. A pressão arterial carotideana foi registrada de ratos anestesiados com uretana (600 mg/kg, i.p.) + pentobarbital (40 mg/kg, i.p.). As drogas foram injetadas endovenosamente pela veia ilíaca externa. A ação vascular do extrato foi estudada na aorta de ratos com tônus induzido com noradrenalina (10-7 M) em órgão com endotélio intacto ou sem endotélio. O ducto deferente serviu de contraprova da ação na musculatura lisa. O órgão foi isolado e mantido em líquido nutritivo sem Mg2+. Curvas concentração-efeito de noradrenalina (10-8 a 10-4 M) foram obtidas na ausência e na presença da fração butanólica.
RESULTADOS:

A injeção endovenosa da FBut (1, 3, 10 e 30 mg/kg, n=3) produziu hipotensão de 3; 15, 28  e 50   mm Hg, respectivamente, máxima em 1 min com reversão em 3 min após a maior dose, sem alterar a freqüência cardíaca. A hipotensão não foi bloqueada pela injeção prévia de atropina (1 mg/kg). Após injeção de Fbut (10 mg/kg, e.v.), as repostas pressóricas à noradrenalina (NOR 0,1; 0,3 e 1 μg/kg) foram reduzidas de 39%, 42% e 52%, respectivamente (n=3) e as respostas à adrenalina (ADR 0,1; 0,3 e 1 μg/kg) foram reduzidas de 100%, 35% e 37%, respectivamente, às vezes invertidas com as menores doses. A incubação da FBut 100 μg/mL na aorta com endotélio reduziu o tônus vascular induzido pela noradrenalina em 89%; relaxamento total foi obtido na aorta com endotélio destruído. No ducto deferente de rato a incubação prévia da FBut 0,1 a 0,3 mg/mL deslocou a curva concentração-resposta de noradrenalina para a direita. Na presença da maior concentração a CE50 aumentou de 1,694e-006 para 4,347e-006 M, Concentrações maiores inibiram a contração máxima à noradrenalina.

CONCLUSÃO:

O efeito hipotensor da Fbut não foi bloqueado pela atropina descartando uma ação colinomimética do extrato. A inibição das respostas à adrenalina e à noradrenalina, e a inversão do efeito das menores doses de adrenalina, indica uma provável ação bloqueadora de receptores α1-adrenérgicos. O efeito relaxante da Fbut no tônus produzido pela noradrenalina na aorta de rato com e sem endotélio reforça a indicação de se tratar de uma ação específica em receptores α1-adrenérgicos. O deslocamento das curvas concentração–efeito de noradrenalina no ducto de rato, sem diminuição do efeito máximo, indica mais uma vez, uma atividade bloqueadora α1–adrenégica tipo competitiva da FBut. O isolamento dos compostos constituintes permitirá estudos moleculares mais específicos.

Instituição de Fomento: CBA/UFAM, CNPq, FAPEAM
Palavras-chave: V. surinamensis, farmacologia, pressão arterial.