Este estudo faz parte da análise dos resultados de uma pesquisa sobre o acesso ao SUS das populações indígenas de Manaus realizada em 2007 (PPSUS/FAPEAM). A partir dos dados do módulo sócio-demográfico do questionário individual e dos dados do questionário domiciliar, o objetivo foi de mostrar como se combinam as etnias e as etno-regiões de origem dos moradores dos domicílios indígenas e mistos, dos chefes de família, e dos entrevistados, cônjuges e pais, acrescentando a categoria não-indígena. 

Trata-se inicialmente de um estudo transversal realizado a partir de uma amostragem aleatória estratificada proporcional por bairro, representativa da população indígena residente em Manaus (estimada em 9.294 indivíduos em 2005). Os questionários foram aplicados por 17 indígenas (homens e mulheres) representantes das associações indígenas da cidade de Manaus e capacitados para tal. A identificação dos domicílios foi feita pelos próprios indígenas através de relações de parentesco ou indicação de endereços de famílias indígenas por instituições indigenistas. A etnia foi declarada pelos próprios entrevistados. Nos 205 domicílios, foi analisada a composição étnica da casa e do chefe de família. Além disso, a partir dos 734 questionários individuais válidos, foram analisados as seguintes variáveis: estado civil, etnia, etnia do pai, da mãe e do esposo/a (quando casado) do sujeito entrevistado. Foram realizados freqüências e cruzamentos relativos à etnia do sujeito, etnia do seu esposo/a, etnia do pai, etnia da mãe, etnia do chefe de família, etno-região de origem e número de etnias por domicílio.

Foram observadas 40 etnias pertencendo a 6 etno-regiões: rio Negro (13 etnias), rios Andirá-Maráu (1 etnia: Sateré-Mawé), rio Solimões (4 etnias), rios Tapajós-Madeira (3 etnias), rios Juruá-Jutaí-Purus-Javari (8 etnias), e Outras regiões (12 etnias). Além dessas etnias, foi incluída a categoria não-indígena, pois uns 20% dos domicílios são de famílias onde tem também não-indígena(s) (geralmente um só). Em cada 5 a 6 famílias, uma é chefiada por um Sateré-Mawé ou um Tukano (rio Negro); e 10% têm como chefe um não-indígena. A proporção é semelhante quando o chefe é Ticuna (rio Solimões). Em 59% dos domicílios, há 2 etnias. Em 44% dos domicílios, tem apenas uma etnia. Somente 11 casas (5,4%) constam de 3 ou 4 etnias. A diversidade étnica dos componentes da casa ocorre dentro da mesma etno-região de origem, isso na metade dos casos em que tem 2 etnias (sem nenhum não-indígena). A associação não-indígena/indígena ocorre mais com etnias do rio Negro ou com a etnia Sateré-Mawé. Há pouca diferença entre homens e mulheres quanto à etnia do cônjuge. Porém, em todas as uniões indígenas/não-indígenas, é o homem que é não-indígena, com exceção de um caso em que a mulher não-indígena casou com um homem indígena.Também há mais uniões com não-indígenas na geração atual do que na anterior.

A tradicional exogamia dos povos em estudo mostra-se confirmada dentro das etno-regiões de origem. A miscigenação com não-indígenas na cidade aumentou em relação à geração anterior, mas quase somente homens não-indígenas casam com mulheres indígenas. Um estudo mais aprofundado por etnia poderá detalhar essas combinações de 40 etnias presentes na cidade de Manaus.