Esse trabalho objetiva apresentar dados do projeto de Levantamento e Resgate Arqueológico do Gasoduto Coari Manaus, coordenado por Eduardo Góes Neves, em curso desde 2005. A obra está sendo financiada pela empresa Petrobrás S/A, ao longo de cerca de 400 quilômetros, cruzando os municípios de Coari, Codajás, Anori, Anamã, Caapiranga, Manacapuru, Iranduba e Manaus. No total foram identificadas 35 áreas com material arqueológico, sendo 17 com pequena ocorrência de material ou sítios fora do trecho da obra e 18 sítios arqueológicos com resgate e análise laboratorial. Essa parceria possibilitou um maior alcance na área de pesquisa do Projeto Amazônia Central (PAC) que desde 1995 vem atuando nas áreas de confluência dos rios Negro e Solimões. Dessa forma, aumenta o cenário de discussões acerca do modo de vida das populações pré-contato dessa região.

Realizadas por uma equipe multidisciplinar, as atividades dividiram a metodologia em dois momentos distintos: os trabalhos desenvolvidos em campo e em laboratório. Em campo, foram realizadas prospecções sistemáticas e assistemáticas na identificação dos contextos, percorrendo as áreas de impacto direto e indireto da obra. Na identificação de sítio arqueológico, o resgate empregou uma metodologia já utilizada pelo PAC na escavação de sítios da região amazônica, com delimitação da área, mapeamento topográfico e escavação estratigráfica. Os trabalhos desenvolvidos em laboratório contemplaram os estágios de limpeza, triagem, pesagem, quantificação, análise e reconstituição formal do material recolhido durante etapas de resgate. Concomitante, foram desenvolvidas atividades no âmbito da educação patrimonial com profissionais e moradores envolvidos na obra.

Foram identificadas 35 áreas com potencial arqueológico, das quais 18 sofreram resgate, gerando uma bateria de dados capazes de embasar discussões sobre a antiguidade do homem nessa região. Tal ocupação recua a pelo menos o século III A.C. Dos 18 sítios identificados, 6 estão inseridos em projetos de pesquisa concluídos e em andamento, como iniciação científica, mestrado e doutorado. Os dados gerados por essas pesquisas apontam para a identificação da forma e tamanho dos assentamentos, como por exemplo, no caso da ocupação Paredão, datada entre os séculos VII e XII DC com um padrão de ocupação em aldeias circulares, como no Alto Xingu, além da complexidade e densidade dos sítios de Terra Preta, marcador cronológico e cultural de sociedades sedentárias na região Amazônica, ou ainda a dispersão da Tradição Polícroma associada à dispersão de grupos Tupi.

A possibilidade de uma análise macro espacial, abrangendo a região do médio Solimões, abre portas às novas discussões no âmbito da arqueologia amazônica, refutando ou provando conceitos estabelecidos em pesquisas anteriores. Novas hipóteses foram propostas para a forma como se deram as relações entre as populações que aí habitavam. Novas questões foram e estão sendo suscitadas, permitindo assim a continuação dos estudos.