61ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 5. Teoria Literária
A LEITURA LITERÁRIA E A NARRAÇÃO DE HISTÓRIAS COMO PROCESSOS DE INCLUSÃO
Marilda Aparecida de Oliveira Effting 1
1. 1.Universidade Federal de Santa Catarina
INTRODUÇÃO:
O NETI – Núcleo de Estudos da Terceira Idade -, da UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina –, desenvolve, desde 1982, projetos de valorização do idoso. E em 1983, a portaria  nº 484, da UFSC, reconhece o Núcleo como órgão de coordenação, execução e avaliação de programas voltados à gerontologia.  Convém ressaltar que o principal objetivo de iniciação do Núcleo foi, e ainda o é, a inclusão do idoso no contexto acadêmico e na sociedade de um modo geral, não se restringindo as discussões medicinais e de assistência social.  Assim, muito antes da criação do Estatuto do Idoso no Brasil, através da Lei nº 10.741, de 1º de outubro de  2003, o NETI dá um importante passo aos enfretamentos dessa camada social, cada vez mais crescente em nosso país e com políticas de atenção ainda incipientes.  O NETI oferece, atualmente, para a comunidade idosa, 24 atividades entre cursos e grupos continuados. Desse universo, para esta pesquisa, selecionamos o curso Contadores de Histórias, criado em 1987. Já conhecíamos algumas práticas do Curso estudado e, em 2007, desenvolvemos, junto à equipe, atividades com conteúdos de técnicas literárias. Nosso foco foi verificar, em que medida, as leituras de textos literários animam e colaboram no processo de inclusão acadêmica e social na terceira idade.
METODOLOGIA:
Ao integrarmos a equipe interdisciplinar do NETI, no âmbito do curso Contadores de Histórias, em 2007, direcionamos, num primeiro momento, dentro do possível e do tempo destinado aos encontros específicos, técnicas de procedimentos para leituras e análises literárias. Depois, num segundo momento e em conjunto com os demais profissionais da equipe (uma fonoaudióloga, uma pedagoga, uma psicóloga e um bacharel em artes cênicas), os cursantes foram iniciados à prática, efetiva, de Narração de Histórias.   Os encontros, com duração de duas horas cada um, ficavam divididos em uma explanação dialogada, com abordagens teóricas e, em seguida, uma contextualização, que, dependendo do interesse do grupo, poderia ser social, histórico ou cultural. As leituras literárias, na sua maioria, indicadas por nós, algumas vezes confrontavam-se, mas de maneira saudável às partes interessadas, com as preferências individuais. As discussões, sob a diversidade de leituras, funcionavam como ativadores de memórias nos participantes. Os alunos, os novos contadores de histórias, eram lembrados, com frequência, da adequação nas escolhas dos textos literários, para as suas performances narrativas, considerando, principalmente, as faixas etárias do público ouvinte.
RESULTADOS:
As ações do NETI, entendendo o idoso como agente socialmente ativo e produtivo, vem se estabelecendo e ganhando notoriedade a cada ano que passa. No caso do curso: Contadores de Histórias, os resultados são surpreendentes e animadores em termos de qualidade e de quantidade. Os participantes, alguns, que, no início das atividades, demonstravam os efeitos nocivos da marginalização familiar e/ou social, ao final do Curso  reconheciam-se como seres potencialmente vivos, reflexivos e, inclusive, promotores de mudanças conceituais e comportamentais nas comunidades pelas quais passaram (e ainda passam) praticando, com muita propriedade, a Narração de Histórias.
CONCLUSÃO:
Ao término do Curso, daquele ano, e ao obtermos informações dos resultados dos anos anteriores, concluímos que a leitura literária, para a Comunidade Narrativa do NETI, restaura, integra, agrega, inclui o idoso à vida social. Pois a leitura que é um ato individual e solitário, ganha, para os idosos do Núcleo, contornos de coletividade.  Praticamente, todo o trabalho de leitura é realizado com fins de apresentações performáticas. A preocupação, por parte dos Contadores de Histórias, formados pelo Curso pesquisado, quanto a receptividade dos ouvintes, leva-os a outras leituras complementares, com o objetivo de aperfeiçoamento, o que demonstra um entendimento de que a leitura é fonte de renovação e complementariedade. E que os textos literários são campos abertos à imaginação e ao deleite para quem conta, depois de lê-los, e para quem ouve, sejam eles pertencentes à literatura clássica, contemporânea ou os advindos da cultura popular, como os contos populares. Para alguns, poder participar de uma comunidade acadêmica, na terceira idade, além de ser um privilégio significa oportunidade única que ajuda a manter acesa a chama da vida.
Palavras-chave: Literatura, Leitura, Inclusão.