61ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 6. Arquitetura e Urbanismo - 5. Arquitetura e Urbanismo
ESTUDO DOS CONTEXTOS URBANO E AMBIENTAL DAS PALAFITAS DA CIDADE DE MANAUS
Taissa Dias Barros 1
Mirna Feitoza Pereira 1
Márcia Honda Nascimento Castro 1
1. Centro Universitário do Norte (UNINORTE)
INTRODUÇÃO:

Este trabalho apresenta os resultados de estudo sobre os contextos urbano e ambiental das palafitas da cidade de Manaus. Palafitas são moradias tradicionais da cultura ribeirinha amazônica, incidindo ao longo dos rios da região. Em Manaus, essa moradias ocorrem no entorno dos igarapés que cortam a cidade, conferindo ao espaço urbano da capital amazonense traços da cultura ribeirinha. O estudo foi realizado por meio de pesquisa bibliográfica, documental e observação de campo e integra o projeto “Espaços semióticos urbanos: palafitas como texto da cultura amazônica”, coordenado pela Profa. Dra. Mirna Feitoza Pereira, no UniNorte, com o objetivo de investigar a relevância dessas habitações no contexto da cultura amazônica.

O projeto de pesquisa tem ainda como objetivo, a investigação das relações entre as palafitas e os igarapés que compõem o espaço urbano de Manaus e a documentação das áreas estudadas por meio de registro fotográfico.

A arquitetura das palafitas, caracterizada aqui como vernacular, integra há bastante tempo o espaço urbano de Manaus e atualmente está desaparecendo da cidade em face às ações do poder público para revitalizar os igarapés do perímetro urbano. Estes constituem ambientes onde as palafitas historicamente foram construídas na cidade, fazendo parte do espaço urbano. Desse modo, antes que a paisagem composta pelas palafitas e os igarapés desapareçam da cidade, é importante que haja um estudo que explore a relevância cultural dessas habitações no contexto da cidade.

METODOLOGIA:

Este projeto contou com técnicas de pesquisa e coleta de dados como pesquisa bibliográfica, observação de campo e pesquisa documental, por meio de registros fotográficos e análise de mapas das áreas de estudo, todos necessários ao desenvolvimento do trabalho.

As pesquisas bibliográficas envolveram levantamentos, leituras e fichamentos de artigos científicos, dissertações, referências e outras referências (revistas, jornais) que auxiliaram na coleta de dados a respeito do objeto de pesquisa. As observações de campo também foram técnicas importantes, para análise e compreensão das características referentes ao espaço compreendido pelas ‘palafitas urbanas’ e os igarapés.

Os igarapés visitados foram:

- Igarapé do Franco (06/03/08)

- Igarapé de Educandos (25/04/08)

-Igarapé de São Raimundo (02/05/08)

- Igarapé 13 de maio (27/07/08)

Além das técnicas de pesquisa relatadas, também fizeram parte do processo de desenvolvimento e execução do projeto, a participação nas aulas de metodologia do trabalho científico e reuniões semanais do grupo de pesquisa de comunicação (GPCOM)- Projeto Palafitas ministradas pela Profa. Dra. Mirna Feitoza Pereira.

RESULTADOS:

Para desenvolver o estudo e alcançar os resultados desta pesquisa, houve a necessidade de buscar bases para a fundamentação teórica e por conseguinte, aprimorar a definição conceitual de categorias elementares como: espaço geográfico, espaço urbano e paisagem.

Milton Santos (2008) reivindica para a geografia o lugar de excelência a discussão do conceito de espaço geográfico, ele define o espaço em diferentes categorias: conjunto de fixos e fluxos, configuração territorial e relações sociais; sistemas de objetos e sistemas de ações. Numa primeira hipótese, o espaço é considerado como um conjunto de fixos e fluxos, onde os fixos, fixados em cada lugar, permitem ações que modificam o próprio lugar e os fluxos, novos ou renovados, recriam as condições ambientais e as condições sociais, e ainda redefinem cada lugar. A segunda possibilidade é a de trabalhar a definição de espaço com um outro par de categorias formado pela configuração territorial e as relações sociais. A terceira proposta é a de trabalhar o espaço como o conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações que se interagem. Além do conceito de espaço geográfico em categorias distintas por Milton Santos, também houve a necessidade de buscar o conceito de paisagem, fundamentado pelo mesmo autor. Segundo ele, a paisagem se dá pelo conjunto de formas ou elementos naturais e artificiais que fisicamente caracterizam uma área e num dado momento, exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre homem e natureza. É apenas a porção da configuração territorial; já o espaço ‘são essas formas mais a vida que as anima’. (SANTOS, 2008, p.103).

Seguindo as bases teóricas de Milton Santos e partindo dos conceitos sustentados por ele, pode-se dizer, que os igarapés são os elementos fixos e as palafitas os fluxos, estas consideradas de tal modo, por serem responsáveis pelas transformações no ambiente onde elas se instalam, nos igarapés. A paisagem se modifica e são inúmeras as alterações, tanto nos aspectos ambientais, quanto nos paisagísticos e em outras categorias que não nos cabe nesta discussão. A confirmação deste raciocínio se concretiza quando Santos diz que “fluxos se instalam nos fixos, modificando a sua significação e o seu valor, ao mesmo tempo em que, também se modificam”.  Mas se partimos para uma forma macro de pensar, e considerarmos este espaço como um todo, ou seja, formado pelo igarapé e as palafitas como elementos indissociáveis, também teremos que estes modificam a cidade, e agora poderão ser identificados como fluxos e a cidade como fixo. No entanto, esta será fluxo se comparado ao Estado e assim por diante. Então, para efeito deste estudo, utilizou-se apenas, a tratativa de igarapés e palafitas como elementos fixos e elementos fluxos, respectivamente.  

Para o desenvolvimento da pesquisa, buscou-se também o conceito de espaço urbano sustentado por Lobato Corrêa (2005), que o define como um conjunto de diferentes usos da terra justapostos entre si, definindo áreas e acrescenta ainda que o espaço é formado por partes e que cada uma mantém relações espaciais entre si, ainda que de intensidade muito variável, considerando desta forma, que o espaço urbano é simultaneamente fragmentado e articulado.

Analisando as bases conceituais de Lobato Correia, pode-se concluir que o espaço compreendido pelas palafitas e o igarapé, obedece a essa dinâmica de relações espaciais, estabelecidas pelo translado dos moradores a diferentes lugares para finalidades diversas.  Roberto Lobato Corrêa constata ainda que o espaço urbano é simultaneamente fragmentado e articulado, e que esta divisão articulada é a expressão espacial de processos sociais, sendo, portanto reflexo da sociedade.

Ainda, em busca da compreensão do espaço em estudo, foi necessário recorrer às técnicas de compreensão das cidades proposta Lucrecia Ferrara (2006). Segundo ela, a cidade organiza-se como linguagem, em outras palavras, se expressa por meio da constituição de seu espaço urbano. Ferrara distingüe o “ver” do “observar”, e incube ao último a compreensão da paisagem, de forma a despí-la nas suas diversas nuances. Para Ferrara, a percepção da cidade está na interpretação do observador, ou ‘na própria inteligência que percebe’. É preciso saber “ler” a cidade, diante do ‘leitor/ observador, faz-se lugar de igualdades e diferenças, de cheios e reentrâncias de sentidos, mas, sobretudo, de comparações’ (FERRARA,2006, p.12). Este exercício de leitura do espaço estudado, tornou-se possível por meio das observações de campo e registros fotográficos, que permitiram a comparação de imagens e a produção de ‘uma sintaxe, uma lógica dos significados das imagens e das suas inteligibilidades’.

Por fim,para efeito de compreensão das palafitas urbanas como texto cultural manauara, buscou-se como fundamentação teórica a Semiótica da Cultura. O principal legado dessa vertente de estudos semióticos é a abordagem da cultura como texto. Na semiótica da cultura, ao tomar-se um objeto cultural como texto supõe-se que ele esteja codificado de alguma forma, por no mínimo duas lingüagens, ainda que os códigos que o entrelaçam sejam, num primeiro momento, desconhecidos pelo investigador (LOTMAN, 1998b:119).

CONCLUSÃO:

Seguindo as bases de fundamentação teórica desta pesquisa, foi possível alcançar as seguintes conclusões:

 

- As palafitas co-existem com os igarapés urbanos, estabelecendo uma forte relação de dependência com o corpo d’água. Desse modo, o igarapé é a condição ambiental necessária para a incidência de palafitas na cidade, sem o qual, elas desaparecem;

- Ao mesmo tempo, essas habitações tradicionais da cultura ribeirinha estabelecem uma importante relação com a urbe, compondo o espaço urbano de Manaus;

- Essa relação empresta às palafitas elementos da cidade, tanto nos aspectos arquitetônico e urbanístico como paisagístico;

- Assim materiais como alvenaria e concreto passam a fazer parte da arquitetura das palafitas da cidade. Do mesmo modo, as passarelas em madeira, comuns aos aglomerados de palafitas urbanas, constituem-se, pode-se dizer, uma forma de urbanização, com a função de passeios públicos, ainda que de maneira intuitiva;

- Portanto, as palafitas da cidade de Manaus, aqui chamadas de “palafitas urbanas”, são herança da cultura ribeirinha da região, apresentando características similares a esta. Ao mesmo tempo, recebem e expressam forte influência da cidade;

- Nos aglomerados urbanos de palafitas, a arquitetura tradicional ribeirinha se torna mais presente conforme a proximidade da habitação com o igarapé. Concomitantemente, quanto mais distante do leito e próxima das ruas, maior é a influência da urbe na sua arquitetura.

Instituição de Fomento: PROBIC/ UNINORTE
Palavras-chave: Palafitas-arquitetura vernacular, Igarapés, Espaço urbano.