61ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 1. Epidemiologia
VIGILÂNCIA DE SÍNDROME FEBRIL AGUDA: DIAGNÓSTICO DAS FEBRES POR MAYARO E OROPOUCHE EM UMA UNIDADE TERCIÁRIA DE SAÚDE DO AMAZONAS
Giselle Souza da Silva 1
Gustavo Henrique Nolasco Grimmer Davis 2
Elizabeth Galusso 3
João Bosco Gimaque 3
Michele Souza Bastos 3
Maria Paula Gomes Mourão 3, 4, 5, 6
1. Universidade Federal do Amazonas (UFAM)
2. Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD-FIOCRUZ/AM)
3. Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMTAM)
4. Universidade do Estado do Amazonas (UEA)
5. Centro Universitário Nilton Lins (UNL)
6. Médica Infectologista, Doutora em Medicina Tropical (Orientadora)
INTRODUÇÃO:

No Brasil, as arboviroses provocadas pelos gêneros Flavivirus, Bunyavirus e Alphavirus são as mais importantes causadoras de epidemias. Apesar de inúmeros estudos acerca das arboviroses prevalentes na região amazônica, apenas os vírus dengue e febre amarela são investigados no diagnóstico de rotina. Na FMTAM, centro de referência para doenças tropicais e infecciosas do Amazonas, apenas 30%, em média, dos pacientes febris que se submetem diariamente à pesquisa plasmódio tem, de fato, infecção malárica. Adicionalmente, em períodos inter-epidêmicos, até 50% dos pacientes indicados para diagnóstico específico de dengue tem resultado negativo. Esses fatos indicam a possível presença de patógenos ainda não investigados pela rede pública de saúde, incluindo-se os arbovírus. Tais agentes também podem ser responsáveis por doença febril de grande importância epidemiológica, cursando muitas vezes em epidemias localizadas e silenciosas. O conhecimento da etiologia e da freqüência das principais endemias da Amazônia é de grande valor para a programação das ações de saúde na região. Esta pesquisa avaliou a freqüência de infecções pelos arbovírus Oropouche e Mayaro em pacientes com síndrome febril aguda indiferenciada e descreveu os principais aspectos clínicos e epidemiológicos dessas viroses.

METODOLOGIA:

Foram coletadas prospectivamente 632 amostras de soro de pacientes atendidos no Ambulatório de Síndrome Febril da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas no período de abril de 2007 a dezembro de 2008. Os pacientes que participaram do estudo apresentavam mais de quatro dias de febre, foram previamente testados e obtiveram resultado negativo para malária (gota espessa) e para dengue (MAC-ELISA). Foi realizada a padronização do ensaio imunoenzimático (ICC-ELISA) para a detecção de anticorpos IgM contra Mayaro (MAYV) e Oropouche (OROV), baseando-se no ensaio descrito por Figueiredo (1990). O método utiliza células C6/36 de Aedes albopictus infectadas in vitro com cada tipo viral como matriz antigênica para captura do anticorpo específico. 

RESULTADOS:

Entre as 632 amostras testadas, 128(20%) foram positivas para OROV e 33(5,2%) para MAYV. O sexo feminino foi o mais afetado pelo OROV representando 60,2% de positividade, enquanto que para MAYV não se observou essa discriminação entre os gêneros. A faixa etária mais afetada foi a de jovens adultos entre 23,0±13(6-65) anos por MAYV e 29,5 ±14(2-81) anos por OROV. A distribuição espacial dos casos na cidade de Manaus mostrou um maior predomínio de pacientes com síndrome febril aguda provenientes da Zona Centro–Oeste, sendo 6(33,3%) casos de infecção por MAYV e 26(30,2%) por OROV. Os meses de janeiro [16(41,0%)], fevereiro [11(21,1%)] e março [11(20,3%)] representaram o período do ano de maior ocorrência dos casos de febre por OROV, enquanto a febre por MAYV mostrou uma distribuição mais homogênea no decorrer do ano. As manifestações clínicas mais freqüentes foram cefaléia, mialgia, artralgia, exantema e dor no globo ocular. O exantema esteve presente em 54(42,2%) pacientes com febre por OROV e em 8(24,2%) pacientes com febre por MAYV. Ocorreu sangramento em 20(15,5%) dos pacientes com OROV e em 4(12,1%) com MAYV. Em pacientes com febre por OROV observou-se ainda rigidez na nuca (10), síndrome respiratória (3) e anorexia (3)  o que não ocorreu entre os pacientes com febre por MAYV.

CONCLUSÃO:

O método ICC-ELISA mostrou-se eficiente para o diagnóstico sorológico de infecções agudas por OROV e MAYV, podendo ser utilizado como importante ferramenta para a elucidação diagnóstica de síndrome febril aguda. Embora grande parte das arboviroses desencadeie uma doença febril aguda auto-limitada, o diagnóstico rápido e específico faz-se necessário tanto para o manejo adequado do paciente, quanto para a adoção das ações de vigilância em saúde e o monitoramento da circulação de doenças emergentes. Este trabalho evidencia a circulação permanente de OROV e MAYV na zona urbana de Manaus.

 

Instituição de Fomento: CNPq
Palavras-chave: arboviroses, ICC-ELISA, síndrome febril aguda.