O objetivo central desse trabalho é promover a discussão acerca do fenômeno bullying a fim de compreender a ecologia social da violência no contexto escolar através das formas de presença dos vários outros que habitam o lugar em questão, entendido como ideológico, social, econômico e geográfico. À Lingüística, como ciência humanizadora, cabe um papel de suma importância, como área cada vez mais comunitária à construção da paz. A prática de ensino interculturalista proporciona aos aprendizes a compreensão de outras cosmovisões à conseqüente compreensão do caráter socializante da escola, valorizando a formação de atitudes que celebra a construção da cidadania em uma sociedade pluriétnica e pluricultural. Assim o interesse dessa pesquisa se justifica pela possibilidade de construir uma inteligibilidade aos conflitos crescentes de nossos tempos; questionar e pensar sobre o que se opõe deliberada, intencional e planejadamente à razão como é o caso de um tipo de ação cujo cerne é a violência – o bullying.

A fim de que pudéssemos conduzir a discussão acerca do fenômeno em questão nas Células Culturais – Escolas dos Ensinos Fundamental e Médio da Rede Pública Estadual do Bairro de Santo Amaro, território pólo das ações das Políticas Integradas (Recife-PE), como uma estratégia da Política Pública de Cultura da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco – FUNDARPE, com foco no tecido social, coadunado com o Programa “Governo Presente” como forma de prevenir e reduzir a violência, esse estudo envolve a participação de gestores, professores, alunos e educadores de apoio de forma a contemplar um problema que interessa no presente tanto à coletividade como, também, à esfera educativa, visto que pesquisas têm demonstrado que jovens cujos comportamentos apresentam transgressão e violência têm mais probabilidade de assumir comportamentos problemáticos na adultidade como a delinqüência. O conhecimento que esse trabalho busca se fundamenta na abordagem intercultural – trazer para o contexto escolar o mundo plural e tentar, dessa forma, acabar com visões estereotipadas – e nos pressupostos teóricos do Círculo Bakhtiniano – o encontro do discurso da violência com a argumentação discursiva de outrem, o fenômeno do dialogismo.

A promoção da discussão acerca do fenômeno bullying possibilita a comunidade escolar pensar outras sociabilidades para a vida nesta esfera, de modo a poder imaginar novas ações políticas, considerando a linguagem em uma perspectiva de totalidade, integrada à vida humana – a comunicação verbal não pode ser compreendida fora de sua ligação com uma situação concreta, só se age na interação, só se diz no agir. Ao perceber o encontro do discurso da violência com a argumentação discursiva de outrem, a comunidade em questão das escolas envolvidas compreende outros discursos que circulam em diferentes contextos enunciativos e que buscam atender as exigências do novo milênio à dimensão educativa e, portanto, ao sujeito social heterogêneo como compaixão amigável, tolerância, visão de uma cultura de paz, dentre outros, empoderando-se interculturalmente.