61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana
A CHEIA DO RIO SOLIMÕES E SUAS CONSEQUÊNCIAS SOCIO ECONOMICAS PARA AS COMUNIDADES DE LIMEIRA E PRAIA DE FÁTIMA NO MUNICIPIO DE TABATINGA – AM.
Ivanei de Melo Rodrigues 1
Mauro do Nascimento 1
Iatiçara Oliveira 1
Valdilene Curico da Silva 1
Antonia Garcia 1
Leilane Aimane Martins 1
1. Universidade do Estado do Amazona - Centro de Estudos Superiores de Tabatinga
INTRODUÇÃO:

A agricultura de várzea foi uma das principais atividades econômica das antigas civilizações, como os egípcios, às margens do rio Nilo. Quanto aos rios brasileiros, principalmente as planícies de inundação, serviram de base para o desenvolvimento da agricultura de subsistência tanto para os nativos que ocupavam essas áreas antes da colonização como para aqueles que vieram depois. Sabe-se que ribeirinhos do Alto Solimões ainda hoje vivem de forma tradicional, cultivando os produtos de subsistência para o sustento de suas famílias e que o regime do rio é fator determinante e que influência diretamente no cotidiano do agricultor que já está adaptado ao ritmo de cheias e vazante dos rios. Para FRAXE (2002) a agricultura na Amazônia é baseada em sua maioria, na unidade de produção assentada na mão-de-obra familiar com a participação dos filhos, esposa e geralmente algum agregado familiar. Então deste modo buscou-se identificar quais as dificuldades enfrentadas pelos agricultores quando as águas do rio (determinante ambiental) começam a subir, descrevendo como são armazenadas as reservas de sementes e alimentos para esse período em que não poderão ser cultivar e apontar quais os reflexos desse fato para a população da área urbana de Tabatinga alem de contribuir com novas informações sobre o tema principalmente para a geografia e as áreas afins. As comunidades de Limeira e Praia de Fátima no Município de Tabatinga-AM são segundo MEGGERS (1958) apud ADAMS et. al. (2005) comunidades tradicionais que ainda cultivam as margens dos rios, nas áreas de inundação produtos agrícolas para a subsistência de suas famílias.

METODOLOGIA:

Os dados foram coletados nas duas Comunidades (Limeira e Praia de Fátima) durante o período de 2008/2009 em três atividades de campo, em cada uma foi aplicado questionários com demandas focadas nos objetivo, ou seja, com indagações que procuravam identificar quais os comportamentos das populações locais tanto nos períodos de cheia como no de seca do rio Solimões. Foi através da observação direta e conversa informal com agricultores, que foi possível identificar quais as maiores dificuldades enfrentadas no período da enchente, descrevendo-se quais os procedimentos para seleção e armazenagem das sementes para o próximo plantio e também como são definidos as condições quanto reservas de alimentos, por ultimo apontar quais os reflexos quanto ao abastecimento de produtos agrícolas produzidos por ambas comunidades e comercializados na área urbana de Tabatinga

RESULTADOS:

Com uma população de 242 pessoas, as comunidades de Limeira e Praia de Fátima sofrem anualmente as conseqüências do período de cheia do rio Solimões, normalmente acarretando em perdas de partes ou da totalidade da sua produção. Para este período de cheia, segundo os moradores, o nível do rio subiu rapidamente entre os meses de fevereiro/março, acarretando uma antecipação do pico de cheia, o que era esperada somente para o mês de abril. A água já cobre todo o solo na área da comunidade de Praia de Fátima, e em Limeira (no momento da ultima visita) faltavam poucos centímetros para que toda área também ficasse sob as águas. Como conseqüências desse fato podem ser apontadas as seguintes situações: a criações tanto de galinhas, de gado como de outros animais são afetada, por não haver espaço e dificuldade para obtenção de alimentos, como por exemplo, a pastagem para os bovinos, as plantações que não foram colhidas são perdidas reduzindo assim a renda do produtor.

No campo da saúde também se observou alguns problemas principalmente vinculado a falta de um sistema apropriado de saneamento, pois a população usa a água do rio para fazer todos os afazeres domésticos. Porem nota-se que os moradores são obrigados a fazerem suas necessidades fisiológicas diretamente no rio, com isso, o surgimento de doenças como a diarréia, febre, gripe, hepatite entre outras é inevitável.

As sementes são preservadas em recipientes de plásticos, outras como da mandioca (mudas em estacas), são fincadas no solo para garantir o próximo plantio, mas com a enchente não tem como resistirem até a semeadura. Dentre os produtos cultivados o que todos ainda podem aproveitar é a mandioca porque as famílias se reúnem em mutirão e preparam a farinha de mandioca que será armazenada em sacos de fibra, baldes, “paneiros” e tambores como reserva para o período da entre safra.  A produção de Limeira e Praia de Fátima são escoadas diretamente para Tabatinga que nesse período da enchente sente o impacto com a falta desses, uma vez que aumenta a procura pelos produtos influenciando alta nos preços, assim como gera o desemprego de revendedores que dependem desse trabalho para o sustento de suas famílias.

CONCLUSÃO:

Embora as cheias dos rios da bacia amazônica seja uma condição natural a população ribeirinha normalmente vive momentos críticos com a cheia do rio Solimões, a produção animal e vegetal foi afetada de forma que a população precisa se reunir para não perder toda a produção, com isso, o mutirão mostra a forma de trabalho predominante. A principal razão para tudo isso é a variabilidade tanto espacial como temporal desse fenômeno natural, não se tem como prever a data e muito menos o nível que a cheia ira ocorrer assim as populações residentes e que exploram estas áreas não tem como se prepara/ prevenir para superar este período sem nenhum problema. Alem de tudo a falta de saneamento mostra que a população está vulnerável às doenças, comprometendo sua qualidade de vida. Em Tabatinga os reflexos são vários, visto que a maioria dos produtos chega das comunidades ribeirinhas a procura pelos mesmos acarreta aumento do preço, assim como o desemprego de atravessadores.

 

REFERENCIAS

 

FRAXE, T. J. P. ; VASQUES, Marinete da Silva. ; MIGUEZ, S. F. ; CASTRO, A. P. DE . Horta comunitária como alternativa para a agricultura familiar em comunidades ribeirinhas do Rio Solimões, Amazonas. In: VII Congresso da Sociedade Brasileira de Sistemas de Produção, 2007, Fortaleza. Agricultura Familiar e Inclusão Social, 2007. acessado em http://www.cnpat.embrapa.br/sbsp/anais/Trab_Format_PDF/75.pdf

 

ADAMS, Cristina; MURRIETA, Rui Sérgio S.  and  SANCHES, Rosely Alvim. Agricultura e alimentação em populações ribeirinhas das várzeas do Amazonas: novas perspectivas. Ambient. soc. [online]. 2005, vol.8, n.1, pp. 65-86. Acessado em http://www.scielo.br/pdf/asoc/v8n1/a05v08n1.pdf

 

Instituição de Fomento: Fapeam
Palavras-chave: produção agrícola, comunidades ribeirinhas, pulso de cheia.