61ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 5. Farmácia - 4. Farmacotecnia
POTENCIAL FARMACOLÓGICO DOS POLISSACARÍDEOS SULFATADOS DA ALGA Lobophora variegata
Maria Emilia Barreto Bezerra 1
Marília da Silva Nascimento 1
Almino Afonso de Oliveira Paiva 1
Lissandra Souza Queiroz 1
Allisson Jhonatan Gomes Castro 1
Edda Lisboa Leite 1
1. DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA - UFRN
INTRODUÇÃO:

Polissacarídeos sulfatados compreendem um complexo grupo de macromoléculas com uma ampla faixa de propriedades biológicas importantes. A heparina embora seja um potente anticoagulante muito empregado na clínica apresenta algumas limitações, que incluem variedades farmacocinéticas, efeito hemorrágico residual, trombocitopenia, inibição da função plaquetária, entre outros. Essas limitações têm levado ao desenvolvimento de novos agentes anticoagulantes, e entre as fontes alternativas temos os polissacarídeos sulfatados das algas marinhas, como as fucanas. Várias atividades biológicas têm sido atribuídas as fucanas. Além da sua bem conhecida atividade anticoagulante elas apresentam atividade antitrombótica, ação antiinflamatória, tem efeitos antiadesivos e antiproliferativos. Diante da necessidade da obtenção de drogas que inibam o processo hemostático e atuem, ao mesmo tempo, como antiinflamatórios no tratamento clínico de doenças que ocasionam danos a hemostasia e induzem a inflamação, esse trabalho se propõe a avaliar a ação de polissacarídeos sulfatados da alga marinha marrom Lobophora variegata na atividade anticoagulante (PT e APTT), na agregação plaquetária e no sistema complemento, como uma forma de obter fucanas farmacologicamente viáveis para esse tipo tratamento.

METODOLOGIA:

As fucanas foram extraídas por proteólise e purificadas por precipitação com volumes crescentes de acetona. Foram feitas análises químicas por dosagens colorimétricas em que foram analisadas os teores de açucares totais, proteína e sulfato. Foi realizada uma cromatografia no sistema descendente em papel, com o sistema de solvente, ácido isobutírico:amônia (5:3). As frações foram submetidas à eletroforese em gel de agarose em um tampão PDA. Os ensaios de agregação plaquetária foram feitos em um agregômetro através do método turbidimétrico de Born e Cross (1963). Os agentes agonistas utilizados nesse experimento foram ADP a 3 µM, solução de cloreto de sódio a 0,9% e soluções de polissacarídeos das frações F1,0 e F2,0  contendo 0,1, 0,2, 0,5, 1,0 e 2,0 μg/µL. Os testes para se avaliar as atividades anticoagulantes foram realizados por meio de kits da LABTEST, SP, Brasil. Os tempos de coagulação foram mensurados através de um coagulômetro (Drake Ltda., SP, Brasil). Para a verificação da via alternativa do complemento foram usados eritrócitos de coelho que ativam a via independente de anticorpos específicos. A análise estatística das atividades biológicas testadas foi feita através do teste ANOVA.

RESULTADOS:

Através do processo de extração e fracionamento por precipitação foram obtidas seis frações de polissacarídeos da L. variegata, que apresentaram altos teores de açucares e baixos níveis de proteínas. Entre as frações, a F1,0 (9%) e a F2,0 (14%) apresentaram os maiores teores de sulfato e, por isso, foram escolhidas para os ensaios biológicos. O cromatograma demonstrou que todos os polissacarídeos continham galactose, glicose, xilose, fucose e pequenas quantidades de ácido glucurônico. Na eletroforese as frações obtidas mostraram-se metacromáticas com perfil polidisperso. A F1,0 induziu a agregação plaquetária de forma dose dependente (p<0,001). Para a F2,0 foi verificado um perfil de hipoagregação  (p<0,001). Os resultados obtidos para o APTT, mostraram que a F1,0 e a  F2,0 apresentaram atividade anticoagulante. Para o PT os resultados obtidos mostraram uma pequena ação anticoagulante de forma dose dependente (p<0,001). Todas as concentrações da F1,0 exerceram influência significativa na atividade hemolítica do complemento quando comparado ao grupo controle. A F2,0  nas concentrações de 0,2 e 0,5 mg/mL apresentou efeito inibitório na ordem de 45 e 46%, respectivamente (p<0,001). Enquanto que, nas concentrações 1 e 2 mg/mL foi observado um efeito indutor (p<0,001).

CONCLUSÃO:

As frações obtidas da alga L. variegata após extração e fracionamento com acetona apresentaram altos teores de açúcares totais, sulfato e baixa contaminação protéica. Essas frações tratam-se de heterofucanas pois contêm galactose, xilose, glicose e ácido glucurônico, além de fucose. As frações F1,0 e  F2,0 possuem atividade anticoagulante nas vias intrínseca e extrínseca da cascata de coagulação. As frações F1,0 (nas concentrações 0,1 e 0,2 µg/µL) e a F2,0 (em todas as concentrações) além de possuírem atividade anticoagulante apresentam um perfil hipoagregante, podendo serem empregadas como anticoagulantes sem oferecerem riscos tromboembólicos. As frações F1,0 (em todas as concentrações) e a F2,0 (nas concentrações 0,2 e 0,5 mg/mL) inibiram a ação hemolítica da via alternativa do sistema complemento, sugerindo um efeito antiinflamatório. No entanto, nas concentrações 1 e 2 mg/mL, a F2,0 estimulou a ação hemolítica da via alternativa do sistema complemento, podendo ser empregada como imunoestimulador. Além disso, tais compostos são naturais e não citotóxicos.

Instituição de Fomento: CAPES e CNPQ
Palavras-chave: Polissacarídeos sulfatados, Agregação plaquetária, Sistema Complemento.