61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 4. Ecologia
Fluxo de CO2 a partir do rio Negro para a atmosfera
Jonismar Souza da Silva 1
Hillândia Brandão da Cunha 1
Maria de Fátima Fernandes Lamy Rasera 2
1. INPA
2. CENA/USP
INTRODUÇÃO:
As altas temperaturas causadas pelo crescente aumento da concentração de gases de efeito estufa, resultou no interesse de pesquisadores em conhecer melhor o ciclo carbono, um dos principais responsáveis pela manutenção da temperatura dos ecossistemas. Nesse contexto tem-se levado em consideração o papel dos sistemas fluviais que durante anos foi considerado somente como exportador de carbono para os oceanos. Em estudos realizados mostrou-se que os sistemas fluviais têm um papel ambíguo nesse ciclo, sendo que pode haver troca gasosa entre a atmosfera e as águas supersaturadas dos rios em função do gradiente de concentração, colaborado também pelo aumento significativo da temperatura nesses sistemas alterando seu equilíbrio e acarretando em mais emissões desses gases. Em trabalhos já realizados mostrou-se a importância das taxas de emissão de CO2 dos ambientes aquáticos da Amazônia para a atmosfera, indicando que essas taxas são equivalentes ao carbono seqüestrado pela floresta. Pesquisas com esse foco têm aumentado com o objetivo de se conhecer melhor a dinâmica do carbono em ambientes aquáticos. No presente estudo objetivou-se obter suficientes medidas de fluxo evasivo de CO2 no rio Negro abrangendo todo o regime hidrológico e compreender as variações espaço-temporais.
METODOLOGIA:
As coletas foram realizadas no rio Negro, próximo à localidade do lago do Tatu. A estação de coleta está localizada nas coordenadas 03 03’ 378” S e 06 17’ 969” W. Nessa região predominam as chamadas águas pretas, ricas em carbono orgânico dissolvido (ácidos húmicos e fúlvicos), proveniente da decomposição de matéria orgânica. As características químicas das águas dessa bacia, associadas à intensa radiação solar, tornam a região rica em processos químicos e fotoquímicos complexos, que influenciam diretamente o ciclo biogeoquímico de todos os elementos ali presentes. Foram realizadas coletas quinzenais no período entre abril de 2006 a junho de 2007. As medidas de fluxo de CO2 foram realizadas utilizando-se uma câmara flutuante, acopladas ao analisador de CO2 da marca IRGA, modelo LI-820. A caixa é mantida em um flutuador, para permanecer sobre a água durante as medidas. As leituras se baseiam na relação linear entre tempo e concentração do CO2 até a saturação. Os fluxos evasivos de CO2 foram calculados apartir da fórmula elaborada por Frankignoulle, sendo ela: FCO2 = (δpCO2/δt)(V/RTA.
RESULTADOS:
O fluxo de CO2 é diretamente influenciado pela pressão parcial de CO2 (pCO2) e pelas concentrações de carbono orgânico dissolvido (COD) na água, outros fatores influenciam, mas em menos proporção neste ponto de amostragem. Com isso observou-se nos meses de maior precipitação (cheia) os seguintes valores respectivamente: COD (9,94mg/L); pCO2 (3534,95 ppm) e fluxo evasivo de CO2 (8,52 μmol CO2 m-2s-1). Enquanto que no período de menor precipitação (seca) esse padrão se inverte tendo os seguintes valores: COD (4,74mg/L); pCO2 (2262,80ppm) e fluxo evasivo de CO2 (4,08 μmol CO2 m-2s-1). Esses valores no período de maior precipitação são influenciados pelo aumento das chuvas que lavam os solos, ocorrendo lixiviação da matéria orgânica dos igarapés para o rio maior, nesse caso o rio Negro e deixa as águas supersaturadas de carbono. Já no período de menor precipitação, a drenagem dos igarapés diminui, havendo significativa perda de COD tornando as águas pouco menos saturadas diminuindo a pCO2 bem como o fluxo evasivo de CO2.
CONCLUSÃO:
Os resultados apresentados para fluxo evasivo de CO2 no rio Negro demonstram o quanto este rio tem uma dinâmica marcada por dois momentos bem distintos em sua hidrografia, apresentando fluxos diferentes nos períodos de menor e maior precipitação. Contudo, apresentando sempre fluxo positivo do rio para a atmosfera. Esses resultados afirmam o que já foi mostrado em estudos anteriores, de que os rios têm um papel duplo no ciclo de carbono, não agindo somente como exportador para o oceano, mas estando também ativamente liberando CO2. O rio Negro mostrou-se sempre supersaturado de CO2 em relação à atmosfera, mesmo no período de menor precipitação, o que nos leva a concluir que a dinâmica no que se refere ao papel dos rios amazônicos deve ser alvo de avaliações de balanço regional desse elemento. Os dados apresentados mostram a importância dos fluxos evasivos no ciclo biogeoquímico do carbono nos sistemas fluviais da Amazônia, uma vez que a evasão de CO2 a partir dos sistemas aquáticos é uma fonte significativa de carbono para atmosfera nos ambientes tropicais. Estudos com esse objetivo vem sendo estudado por esse projeto desde 2004, pretendendo avançar com pesquisas nessa área para entender a dinâmica do carbono em rios amazônicos.
Instituição de Fomento: CNPq
Palavras-chave: Fluxo , CO2, rio Negro.