61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 3. Ecologia Terrestre
EFEITO DE LONGO PRAZO DO AUMENTO DA DISPONIBILIDADE DE NUTRIENTES SOBRE A PRODUÇÃO DE SERAPILHEIRA EM UMA COMUNIDADE DE CERRADO SENTIDO RESTRITO NO BRASIL CENTRAL
Lucas Evangelista Gonçalves 1
Mercedes Maria da Cunha Bustamante 1
Tamiel Khan Baiocchi Jacobson 1
Lícia Nunes de Oliveira 1
Gleide Dislene Keila Nepomuceno 1
Milene Pimenta dos Santos 1
1. Departamento de Ecologia, Universidade de Brasília – UnB
INTRODUÇÃO:
Atualmente no Cerrado, a intensa atividade da agricultura (pastos e cultura de soja) é o que mais contribui para a entrada antropogênica de nutrientes no solo. Entender o funcionamento dos ecossistemas e suas respostas às alterações provocadas pelo homem é de grande importância, especialmente no contexto do Cerrado. Um dos métodos de estudo para tal finalidade é a estimativa da produção de serapilheira de comunidades vegetais. A serapilheira é a camada de matéria orgânica que se forma na superfície do solo, formada principalmente de restos vegetais como folhas e cascas, além de material particulado não identificável e restos de animais. A produção da serapilheira seguida de sua decomposição é o principal meio de transferência de nutrientes para o solo, tornando-os disponíveis para a comunidade vegetal. Nesse sentido, a produção de serapilheira é uma função essencial para manter a produtividade dos ecossistemas e possui papel importante no ciclo biogeoquímico. Nesse estudo quantificou-se a produção de serapilheira no período de um ano em uma área de cerrado sentido restrito submetido à adição de nutrientes.
METODOLOGIA:
O estudo teve início em junho de 2006 na Reserva Ecológica do IBGE - DF. O clima é tropical sazonal com inverno seco, sendo a precipitação anual entre 1100 e 1600 mm/ano. A fitofisionomia da área de estudo, o cerrado sentido restrito, é caracterizada por uma cobertura contínua de gramíneas com árvores e arbustos espaçados. O solo é classificado como Latossolo Vermelho. Foram aplicados quatro tratamentos de adição de nutrientes e o controle sem fertilização, replicados quatro vezes em vinte parcelas de 15 m X 15 m. Os tratamentos em cada parcela foram escolhidos ao acaso sendo eles controle (C), nitrogênio (N), fósforo (P), cálcio (Ca), e fósforo mais nitrogênio (NP), como a combinação dos dois tratamentos. Os nutrientes foram aplicados no solo, duas vezes ao ano. Em cada parcela de 225 m2 foram instalados aleatoriamente 5 bandejas coletoras de serapilheira de 0,5 m x 0,5 m com fundo de tela de malha de 2 mm. O material foi coletado quinzenalmente durante o período de um ano, seco em estufa a 60º C por 72 horas, separado nas frações folha e miscelânea e então pesado. Considerou-se somente o material oriundo de espécies lenhosas e todo o material animal foi descartado.
RESULTADOS:
Em todos os tratamentos observou-se sazonalidade da produção mensal de serapilheira para a fração folhas, com maior produção nos meses de estação seca (abril a setembro), enquanto nos meses de estação chuvosa (outubro a março) a produção foi menor. A produção de serapilheira de miscelânea não seguiu o padrão sazonal observado para a fração folhas. O tratamento NP apresentou, em todo o período analisado, maior produção que os outros tratamentos para ambas as frações da serapilheira. As parcelas controle apresentaram produção para a fração folhas de 669,5kg.ha-1.ano-1 e de 488,5 kg.ha-1.ano-1 para a fração miscelânea. O tratamento NP produziu 982,7 kg.ha-1.ano-1 de folhas e 1975,3 kg.ha-1.ano-1 de miscelânea. A menor produção foi para o tratamento P (folhas = 410,1 kg.ha-1.ano-1 e miscelânea= 397,5 kg.ha-1.ano-1). A produção da fração folhas da serapilheira no tratamento N foi intermediária entre os tratamentos controle e NP enquanto no tratamento Ca os valores foram similares ao tratamento controle (folhas = 737,4 kg.ha-1.ano-1 e miscelânea= 308,4 kg.ha-1.ano-1). Quando analisada a proporção entre as frações na produção mensal de cada tratamento, fica evidenciada a forte participação da fração miscelânea na composição da serapilheira.
CONCLUSÃO:
Quando comparado com trabalhos anteriores de produção de serapilheira realizados na mesma área de estudo, a produção de serapilheira foi menor para os tratamentos C, Ca, N e P e maior para o NP. O comportamento observado para toda a área de estudo pode ser explicado pela passagem do fogo em uma queimada acidental em 2005. Houve uma redução geral na produção de serapilheira quando comparando aos trabalhos anteriores, resultado da mortalidade das espécies lenhosas, exceto para o NP que apresentou maior produção. Houve também grande quantidade de cascas e ramos queimados perdidos pelas espécies lenhosas, o que acarretou a mudança da proporção entre as frações e na grande produção encontrada para o tratamento NP. Em relação à contribuição dos tratamentos na produção de folhas da serapilheira, os resultados mostram maior produtividade no tratamento NP, a segunda maior para o N e a menor no tratamento com P. Isso indica a limitação por N, pois os tratamentos que tiveram a disponibilidade desse nutriente apresentaram a melhor resposta, enquanto apesar da limitação por P, esse elemento disponível individualmente não apresentou resposta de aumento da produtividade da parte aérea. Os resultados corroboram com a tese de co-limitação e resposta conjunta dos dois elementos.
Instituição de Fomento: CNPq, NASA/LBA e UnB
Palavras-chave: cerrado sentido restrito, nutrientes, serapilheira.