61ª Reunião Anual da SBPC
E. Ciências Agrárias - 5. Medicina Veterinária - 3. Medicina Veterinária Preventiva
 ASPECTOS MICROBIOLÓGICOS E DE QUALIDADE DO LEITE BOVINO EM PROPRIEDADES RURAIS
Daniel da Silva Penachio 1
Helio Langoni 2
Juliana Cristina Cardoso Citadella 3
Felipe Laurino 1
Patricia Yoshida Faccioli 4
1. Graduando FMVZ - UNESP - Botucatu
2. Prof. Titular Depto. de Higiene Veterinária e Saúde Pública FMVZ - UNESP
3. Graduanda FMVZ - UNESP - Botucatu
4. Doutoranda Depto. de Higiene Veterinária e Saúde Pública FMVZ - UNESP
INTRODUÇÃO:

                     O leite é um alimento fundamental na dieta humana. A qualidade tanto do leite como dos derivados que chegam aos consumidores, se deve em grande parte à qualidade do leite que é produzido nas propriedades rurais.

A mastite se caracteriza por alterações físicas, químicas e bacteriológicas do leite, e por alterações patológicas do tecido glandular mamário, e é a principal afecção do gado destinado à produção leiteira, que impacta negativamente a economia, considerando-se a sua alta prevalência nos rebanhos. Trata-se de resposta inflamatória da glândula mamária, e as perdas econômicas se devem a vários fatores: diminuição da produção, custo com mão-de-obra, honorários profissionais, gastos com medicamentos, morte ou descarte precoce de animais, queda na qualidade do produto final com diminuição no rendimento industrial. 

                 Considerando-se a importância da obtenção de leite de boa qualidade nas propriedades rurais, os objetivos do presente estudo foram: estudar aspectos da flora microbiana aeróbica no leite de dez propriedades rurais; realizar a CCS de amostras compostas de todas as vacas que apresentassem pelo menos uma teta positiva ao CMT, bem como de uma amostra do tanque de cada propriedade; realizar o exame da contagem de unidades formadoras de colônias - UFC de amostra do tanque de cada propriedade; bem como de amostra composta de leite dos animais que apresentassem pelo menos uma teta positiva ao CMT.

 

 

METODOLOGIA:

                    

                Foram examinadas todas as vacas em lactação de dez propriedades rurais. Inicialmente os animais foram examinados quanto às características do leite, avaliando-se os primeiros jatos em caneca de fundo negro (Prova do Tamis) para diagnóstico de casos clínicos.

                Os animais foram submetidos ao exame do California Mastits Test-CMT, considerando-se como positivas as reações a partir de uma cruz (+). Neste caso bem como nas mastites clínicas foram colhidas amostras de leite em frascos estéreis para realização de exame microbiológico. De cada animal que apresentou pelo menos uma teta com CMT positivo foi obtida amostra de leite composta da vaca para a realização da CCS eletrônica em aparelho SOMACOUNT-300 (Bentley).

                A pesquisa da flora bacteriana aeróbica foi realizada semeando-se 0,01 ml de leite de cada amostra em meio de ágar base adicionado de 5% de sangue ovino e em ágar MacConkey, em duplicata. Foram repicadas colônias de cada microrganismo de origem bacteriana, em meio de caldo cérebro coração (BHI) para realização de antibiogramas. Para contagem de UFC, foram procedidas diluições a 10-1, 10–2 e 10-3, semeando-se 0,1 mL de cada diluição, em placa de Petri com meio de ágar sangue ovino 5%,

                Para o estudo da flora fúngica, cultivou-se 100 mL em meio de Sabouraud Dextrose Agar (SDA). Foram procedidas às provas bioquímicas de auxanograma e zimograma, bem como a produção de tubo germinativo para as espécies do gênero Candida sp.

RESULTADOS:

              

                Foram analisados 1090 tetos. Os resultados do CMT variaram de 1,42 a 47,8%.

                Os microrganismos causadores de mastite foram Corynebacterium bovis (38,98%), Streptococcus dysgalactiae (15,39%), Staphylococcus aureus (13,85%), Streptococcus agalactiae (9,23%), Staphylococcus epidermidis (8,72%), Streptococcus uberis (3,59%), Nocardia spp (2,57%), Escherichia coli (2,05%), Klebsiella pneumoniae (1,54%), Pseudomonas aeruginosa (1,02%), Pasteurella multocida (0,51%), Streptococcus bovis (0,51%), Staphylococcus hyicus (0,51%), Staphlococcus intermedius (0,51%). Também foram identificados Trichosporon spp (0,51%), Candida krusei (0,51%). Foram identificados Candida guilhermondii e Trichosporon spp, no tanque de uma propriedade e Candida krusei no tanque de outra.

               As médias e medianas da CCS apresentaram uma variação de 35.000 a 1.362.820 e 9.000 a 793.000 células/mL de leite, respectivamente. Verificou-se correlação positiva entre a CCS e UFC em quatro de seis propriedades analisadas estatisticamente.

            A sensibilidade microbiana in vitro, revelou ser a cefalexina a droga de melhor ação. A tetraciclina mostrou-se superior a cefalexina, para C. bovis, apresentando uma sensibilidade de 100%.

 

 

 

            

CONCLUSÃO:

               

                 Os resultados revelam a alta prevalência de mastite subclínica na maioria das propriedades, variando entre elas de 1,42 a 47,8%, provavelmente devido ao fato de que vacas de menor produção são mais rústicas, submetidas à ordenha manual, com menor prevalência de mastite subclínica quando se compara a vacas de alta produção, em regime de ordenha mecânica.

                Além das bactérias mostram importância, porém em menor escala, na etiologia da mastite, os fungos e as leveduras.

                Quanto às médias das CCS/mL os resultados são variáveis, e em oito delas encontram-se dentro da normalidade estabelecida pela legislação brasileira, podendo-se considerar como boa a qualidade do leite oferecido para consumo nas propriedades estudadas. O estudo da correlação entre a CCS e UFC mostra a importância do monitoramento da CCS, na qualidade do leite oferecido para consumo.

                Pode-se concluir pela ampla etiologia nas mastites bovinas, com a participação inclusive de leveduras e fungos, e a importância dos aspectos de educação sanitária, pois foram encontradas enterobactérias nas amostras de leite dos tanques de expansão, sem o respectivo isolamento dos casos de mastites nas propriedades, o que mostra contaminação pós ordenha ou higiene inadequada antes da ordenha. Desta forma deve haver um programa de educação sanitária para a obtenção, e oferecimento de um leite de melhor qualidade para a população.

Instituição de Fomento: FAPESP
Palavras-chave: qualidade do leite, mastite , bovina.