61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 6. Farmacologia - 1. Farmacologia Bioquímica e Molecular
ESTUDO DO ENVOLVIMENTO DO RECEPTOR NUCLEAR PPARγ NA INFECÇÃO
Clarissa Campbell Menezes 1
Bárbara D´Alegria Silva 1
Cláudia Valéria Araújo 1
Marco Aurélio Martins 1
Hugo Caire de Castro-Faria-Neto 2
Adriana Ribeiro Silva 1
1. Laboratório de Inflamação - DFF/FIOCRUZ
2. Laboratório de Imunofarmacologia - DFF/FIOCRUZ
INTRODUÇÃO:

A sepse é a causa mais comum de óbito em unidades de tratamento intensivo. Essa síndrome é caracterizada por uma produção exacerbada de mediadores inflamatórios em resposta a componentes bacterianos, podendo resultar em choque séptico, falência múltipla dos órgãos e morte do indivíduo. Sendo assim, a regulação da expressão de mediadores inflamatórios constitui uma importante ferramenta terapêutica no tratamento da sepse. Atualmente, abordagens alternativas baseadas em intervenções na regulação do sistema de comunicação bacteriano vêm sendo estudadas. Este sistema de sinalização conhecido como quorum sensing utiliza compostos chamados autoindutores para regular a expressão de genes relacionados à virulência nos microorganismos. Há evidências de que algumas bactérias secretam autoindutores capazes de se ligarem ao receptor nuclear PPARγ. Este receptor participa amplamente da modulação da resposta imune do hospedeiro; portanto, o estudo do seu envolvimento nos processos infecciosos pode trazer à luz novas possibilidades no tratamento da sepse. Em nosso trabalho, procuramos caracterizar o papel do receptor nuclear PPARγ em um modelo de sepse de ligadura e punção cecal (CLP), capaz de reproduzir as principais alterações observadas nos indivíduos acometidos por esta síndrome.

METODOLOGIA:

Para o modelo de indução de sepse, camundongos c57bl6 foram anestesiados com cetamina (80 mg/kg) e tiopental (40 mg/kg). Após assepsia local, os cecos dos animais foram externados e ligados com fio de algodão 4-0. A punção cecal foi feita com uma agulha de 18G e uma pequena quantidade de fezes foi extravasada pelo orifício antes da recolocação do ceco na cavidade abdominal. O abdômen foi suturado em camadas com nylon 3-0. A reposição volêmica foi realizada com 0,5 mL de solução salina estéril por via subcutânea e o tratamento com o agonista de PPARγ rosiglitazona (0,25mg/kg) foi ministrado por via intraperitoneal uma hora após o procedimento. Experimentos in vitro com macrófagos peritoneais de camundongos c57bl6 recrutados com tioglicolato foram realizados para avaliar o efeito da rosiglitazona (5mM) sobre os níveis da molécula quimioatraente de neutrófilos CXC/KC no sobrenadante de cultura após seis horas de estímulo. Ensaios para avaliação do efeito de ligantes de PPARγ sobre o crescimento de Escherichia coli foram realizados incubando-se por uma hora 105 bactérias/mL na presença de 0,1, 1 ou 10μM de seu agonista rosiglitazona ou de seu antagonista GW9662. O crescimento bacteriano foi medido pelas Unidades Formadoras de Colônias contadas 24 horas após plaqueamento em Agar TSA.

RESULTADOS:

O tratamento com o agonista de PPARg rosiglitazona mostrou-se capaz de reduzir em 40% a mortalidade dos animais submetidos à ligadura e punção cecal, sendo esta redução significativa pela análise de variância (ANOVA) seguida pelo teste t de Student-Neuman-Keuls (SNK). Os experimentos in vitro com macrófagos peritoneais estimulados com rosiglitazona demonstraram que esta droga é capaz de aumentar os níveis da quimiocina CXC/KC no sobrenadante de cultura de maneira significativa (ANOVA seguida pelo teste t de SNK). A análise do efeito dos ligantes de PPARγ sobre o crescimento bacteriano (ANOVA seguida pelo teste t de Tukey) demonstrou que não há tendências significativas de aumento ou redução do mesmo. Portanto, é possível que a proteção conferida pelo tratamento com rosiglitazona no modelo de indução de sepse se deva ao aumento dos níveis da quimiocina CXC/KC durante a fase inicial da infecção, resultando num recrutamento mais intenso de neutrófilos para o foco infeccioso e na conseqüente resolução da infecção antes da instauração de uma resposta sistêmica.

CONCLUSÃO:

Nosso estudo demonstrou que a ativação precoce do receptor nuclear PPARγ após a indução de sepse é capaz de aumentar a sobrevida de animais submetidos à ligadura e punção cecal. Esse efeito protetor não parece ser mediado por uma intervenção direta do agonista de PPARγ rosiglitazona no crescimento bacteriano, mas possivelmente se deve a um aumento na produção da quimiocina atratora de neutrófilos CXC/KC pelos macrófagos peritoneais. O aumento nos níveis desta quimiocina in vivo resultaria num maior recrutamento de neutrófilos para o sítio de injúria, facilitando a eliminação do foco infeccioso pela intensa atividade bactericida dos polimorfonucleares. A rápida eliminação dos microorganismos no sítio de injúria previne que grandes quantidades de mediadores inflamatórios sejam produzidas, evitando uma resposta inflamatória sistêmica prejudicial ao hospedeiro. Para confirmarmos nossa hipótese, tencionamos dosar os níveis de CXC/KC no lavado peritoneal de animais submetidos à CLP e tratados com rosiglitazona. Caso seja confirmada, uma nova estratégia terapêutica no combate à sepse poderá ser desenvolvida baseada em nosso estudo do envolvimento do receptor nuclear PPARγ na infecção.

Instituição de Fomento: CNPq, FAPERJ, PAPES/FIOCRUZ
Palavras-chave: Infecção, Sepse, PPARγ .