Utilizou-se como abordagem metodológica a pesquisa etnográfica, naturalista, a qual busca descrever a cultura na qual se está vivendo, tentando compreender o significado latente das atitudes, dos gestos, das práticas materiais, das expressões lingüísticas e dos símbolos manifestos no cotidiano. As técnicas da observação participante e da escuta ativa serviram como ferramentas auxiliares, necessárias no processo de interpretação dos dados e evidências coletados. Os quinze anos de convivência com os Yanomami deram a possibilidade de exercer, enquanto pesquisador, um papel de sujeito participante e observador atento ao contexto sócio-cultural e espiritual Yanomami, na medida em que exigiu o cultivo de atitudes típicas do etnógrafo: o respeito, a abertura, a empatia e a admiração. Tais atitudes concretizaram-se nas seguintes práticas: a) a maiêutica socrática; b) a experiência de convivência integral (sensitiva, emotiva, intelectual, volitiva, espiritual); c) a atitude fenomenológica (εποΧñ husserliana) de eliminar preconceitos familiares, tribais, sociais, econômicos, jurídicos, históricos, ideológicos, culturais, políticos, religiosos; e, por fim, d) o diálogo aberto ao diferente, que cultiva o respeito e a dignidade de todo e qualquer ser humano, e que busca no outro o sentido e os “sonhos” de uma pessoa que ama e quer ser amada.

Os dados coletados permitem colocar em evidência aspectos originais e surpreendentes da civilização Yanomami, os quais revelam domínio de técnicas particulares na produção de instrumentos materiais, oriundos de conhecimentos transmitidos e cultivados por via oral. Entre as observações feitas, destacam-se:

1) Quanto às técnicas:

a) a simples e eficaz técnica de friccionar, com uma técnica particular, dois pedaços secos do cacaueiro (Theoborma cacao), produzem o fogo.

b) a amarração de dois paus com o “cipó tiririca” (graminácea) produz um arco que permite ao Yanomami escalar uma pupunheira espinhenta (Guilielma Speciosa) e colher os cachos de pupunha

c) a preparação de flechas com três tipos de pontas (a saber: lanceolada - RAHAKA; arponada - ATARI; pontuda e entrecortada, embebida de curare - PEI NAMO), lhes assegura boa caça, boa pesca e excelente resultado bélico.

2) Quanto à dieta alimentar:

Os Yanomami possuem uma dieta básica permanente, que os preserva de doenças cardiovasculares e da obesidade: a) a banana (prato básico e indispensável); b) a pupunha (elemento básico das festas); c) os tubérculos, o milho e a brejeira de tabaco (elementos indispensáveis para superar a fome).

3) Quanto às terapias:

Os traços da cultura Yanomami apresentados nos impulsionam a fazer algumas considerações conclusivas:

a) Os Yanomami, enquanto participantes de nosso estudo etno-antropológico, são um povo que possui conhecimentos e técnicas que merecem profundo respeito e apreciação, pois condizem com achados recentes da ciência, relacionados, isto é, à dieta alimentar e a determinadas terapias;

b) A pesquisa coloca em evidência a pertinência dos saberes tradicionais presentes nas culturas indígenas e autóctones espalhadas na Amazônia. Tais saberes, contudo, estão sendo objeto de interesses espúrios de certos cientistas que compactuam com a biopirataria;

c) O estudo desperta o desejo de ver e de estimular a comunidade científica interessada nas culturas tradicionais a lutar pela continuação e preservação não só da cultura Yanomami, tomada como fonte desta pesquisa, mas de todas as culturas ameaçadas em sua dignidade. É preciso que se crie um clima de otimismo, de esperança e de solidariedade para com os povos autóctones e, em particular, da Amazônia. Sendo acolhidos e respeitados, em sua originalidade e singularidade, eles se sentirão convidados a colaborar e a oferecer o rico e extraordinário patrimônio de suas civilizações na construção de uma aldeia global mais sábia, bela, aberta à convivência e ao respeito recíproco.