O presente trabalho consiste em um levantamento dos terreiros de umbanda situados em Boa Vista-RR, o qual tinha como finalidade não só perceber a localização destes, mas principalmente compreender a manifestação religiosa, linguagem e identidade desse grupo muitas vezes mal interpretado pela formação cultural judaico-cristã dominante em nossa sociedade. Tendo em vista o papel da antropologia para a visibilidade e valorização das culturas populares, esta pesquisa traz relatos das práticas vivenciadas e observadas na liturgia umbandista de dois terreiros, localizados na periferia da cidade, fornecendo elementos que contribuem também para uma discussão acerca das “invisibilidades” e mesmo preconceitos concretos em relação a essas culturas.

Uma vez que as práticas litúrgicas estão inseridas dentro de um sistema de práticas religiosas, sua natureza é complexa. As linguagens instituem diferentes mundos e diferentes problemáticas (CUNHA, 1987); constroem e reconstroem uma dinâmica social, sendo produto da movimentação que envolve as particularidades e as amplitudes dos sujeitos.

A pesquisa pode ser dividida em três etapas: 1. Aula presencial e levantamento bibliográfico sobre o tema; 2. Mapeamento dos terreiros de Umbanda da cidade de Boa Vista-RR e 3. Pesquisa participante em dois terreiros, onde também foram feitas entrevistas com os participantes e visitantes, dentre aqueles, Pais e Mães de Santo.

A pesquisa foi relevante, pois nos possibilitou conhecer não só a pluralidade cultural dos terreiros umbandistas, como também a compreender essa manifestação religiosa dentro da própria diversidade cultural, uma vez que estas práticas são marginalizadas pela sociedade. Percebemos como esses dois terreiros ressignificam sua liturgia de acordo com condições materiais e espirituais, como por exemplo, os estilos das vestimentas que marcam o tipo de liturgia, suas características e expressões, o sincretismo, a dinâmica e a incorporação dos elementos aos quais os componentes trazem em suas práticas religiosas.  Desta forma, entendemos que generalizações de caráter estático possivelmente não dariam conta de perceber essa prática como manifestação religiosa em toda sua amplitude.

Em relação ao fato desses terreiros estarem localizados geralmente na periferia e as condições econômicas dos participantes, isso nos fez concluir que a marginalização desses terreiros e, conseqüentemente desses atores é, não só cultural, como também social, econômica, regional, dentre outras formas de exclusões.