61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 2. Arqueologia - 2. Arqueologia Pré-Histórica
SÍTIO ARQUEOLÓGICO NOVO ENGENHO VELHO
Vinícius Eduardo Honorato de Oliveira 1
Renato Kipnis 1
Eduardo Góes Neves 1
1. Scientia Consultoria Científica
INTRODUÇÃO:

O sítio arqueológico Novo Engenho Velho localiza-se no alto rio Madeira, município de Porto Velho, Rondônia. A região é marcada por uma série de debates acerca do início de práticas agricultoras, da domesticação de espécies vegetais como a pupunha (Bactris gasipaes) e a mandioca (Manihot esculenta), da dispersão de povos falantes de línguas do tronco Tupi, dentre outras. Dados obtidos por pesquisas anteriores indicam que é possível que a terra preta antropogênica mais antiga conhecida na Amazônia localiza-se nessa região, datada em cerca de 4.500 anos antes do presente.

A antiguidade da cerâmica policroma presente no alto Madeira é outro aspecto importante dos trabalhos de Eurico Miller e que coloca a área onde o sítio Novo Engenho Velho situa-se no centro de uma importante discussão. A subtradição Jatuarana, segundo Miller, tem datas entre cerca de 2.730 e cerca 2.340 anos antes do presente, sendo até o atual estado de conhecimento a mais antiga da Tradição Polícroma da Amazônia.

As pesquisas no sítio Novo Engenho Velho deu-se no âmbito do lincenciamento da UHE Santo Antônio realizado pela Scientia Consultoria Científica com coordenação científica de Renato Kipnis e Eduardo Neves.

METODOLOGIA:

Os procedimentos metodológicos que pautaram o resgate do sítio arqueológico Novo Engenho Velho podem ser resumidos em dois pontos principais, a saber, delimitação por furos-testes e escavações sistemáticas. Ao ser identificado o sítio, uma equipe de pesquisadores executou furos-testes separadas por uma distância de 20 m. Tais furos tiveram como objetivos indicar a extensão da distribuição do material arqueológico em sub-superfície, gerar dados iniciais sobre a estratigrafia do pacote arqueológico, produzir informações sobre a natureza dos vestígios arqueológicos, e indicar áreas com diferentes concentrações dos vestígios. Buscamos nessa etapa identificar possíveis mudanças antrópicas na paisagem, como presença de valas ou montículos construídos pelos antigos habitantes.

Após essa primeira etapa iniciamos os trabalhos de escavação sistemática. Foram escavadas dezoito quadras de 1 m² cada. A escavação das quadras foi feita seguindo níveis artificiais de 10 cm e para cada nível foi preenchida uma ficha com as características dos vestígios arqueológicos coletados e do sedimento escavado. Ao fim da escavação é feito um desenho do perfil para futuras apreciações em laboratório e gabinete.

Foi feito um trabalho de topografia detalhado para melhor caracterizar os montículos artificiais identificados.

RESULTADOS:

Com as escavações e tradagens pudemos identificar áreas com diferentes contextos deposicionais. Na área central do terraço fluvial onde o sítio se localiza poucas foram as tradagens que apontaram a presença de vestígios cerâmicos. Já nas bordas do terraço a quantidade desses vestígios foi significativamente maior.

Identificamos que ao redor dessa área central com menor quantidade de vestígios arqueológicos havia uma série de montículos artificiais. Observamos um padrão morfológico para esses montículos. Apresentavam uma face com declividade mais abrupta que outra. As escavações dos montículos apontaram um padrão de deposição dos vestígios arqueológicos no qual a face com desnível mais suave apresentava maior quantidade de vestígios arqueológicos (alguns fragmentos cerâmicos apresentaram quebra in situ), maior escurecimento do sedimento e alinhamentos de blocos de laterita e trempes de argila que possivelmente formaram no passado uma estrutura de combustão.

A maior parte dos artefatos resgatados é constituída por fragmentos cerâmicos. Destacam-se entre eles algumas peças com pintura vermelha sobre engobo branco.

CONCLUSÃO:

Ao fim dos trabalhos no sítio Novo Engenho Velho concluímos que trata-se de um sítio cerâmico unicomponencial. É possível dizer que no passado o terraço onde o sítio está implantado foi utilizado para fins habitacionais. Os montículos artificiais identificados possivelmente eram unidades de habitação sendo que as estruturas encontradas nos fundos das casas apontam para atividades domésticas. Nesses locais podemos afirmar que há um contexto primário de deposição com fragmentos cerâmicos quebrados in situ e alinhamentos de trempes de argila e blocos de laterita.

Analisando o sítio como um todo, notamos que claramente há uma área central que possivelmente passava por limpeza constante (o que reflete a ausência ou baixa quantidade de vestígios arqueológicos) e que serviu como área de circulação ou como um pátio. Ao seu redor estão localizados os montículos que resultaram do colapso das antigas moradias. As bordas podem ser caracterizadas como zonas de descarte secundário e quase a totalidade das tradagens apresentou resultado positivo.

Além de caracterizar-se por ser uma antiga aldeia com diferentes áreas de utilização reconhecidas no registro arqueológico os fragmentos cerâmicos que apresentaram pintura apontam para uma possível ocupação Jatuarana.

Palavras-chave: rio Madeira, montículos, sub-tradição Jatuarana.