61ª Reunião Anual da SBPC
E. Ciências Agrárias - 7. Ciência e Tecnologia de Alimentos - 1. Ciência de Alimentos
PERFIL QUÍMICO, FÍSICO-QUÍMICO E VALOR NUTRICIONAL DE MÉIS DE ABELHAS SEM FERRÃO (HYMENOPTERA, APIDAE) DA AMAZÔNIA
Kemilla Sarmento REBELO 1
Lídia Medina ARAÚJO 2
Klilton Barbosa da COSTA 3
Gislene Almeida CARVALHO-ZILSE 4
1. Mestranda do PPG em Biotecnologia–UFAM, Nutricionista, GPA/INPA.
2. Co-orientadora, Departamento de Química, Dra. em Biotecnologia, UFAM.
3. Colaborador, Doutorando do PPG em Entomologia–INPA, MSc em Entomologia, GPA/INPA
4. Orientadora, Dra. em Genética, Grupo de Pesquisas em Abelhas, GPA-CPCA-INPA.
INTRODUÇÃO:

O cultivo de abelhas sem ferrão ou meliponínios é uma atividade tradicional dos povos da Amazônia. Muitas espécies têm sido exploradas comercialmente, dando aos criadores uma nova e rentável fonte econômica, com grande aceitação na agricultura familiar, sendo um modelo de manejo não agressivo ao ambiente.

As abelhas produzem mel a partir do néctar das flores e de exsudatos sacarínicos de plantas e/ou animais. O mais utilizado e, portanto, comercializado em todo o mundo é o mel de abelhas do gênero Apis. Contudo o mel das abelhas sem ferrão, além de apresentar agradável sabor, atinge um valor de mercado superior ao mel da abelha Apis.

Apesar do crescente consumo e aumento da produção de mel dessas abelhas no Amazonas, pouco se sabe sobre suas propriedades nutracêuticas e características constituintes. O atual Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Mel, que é baseado no mel produzido pelas abelhas do gênero Apis, e estabelece os critérios para fins de comercialização do mel no Brasil, só atende às características do mel de A. mellifera, fato que dificulta a inserção do mel de meliponínios no mercado.

Com intuito de contribuir com informações sobre o mel de meliponínios da Amazônia, este trabalho analisou o perfil químico, físico-químico e valor nutricional de amostras de mel de M. compressipes e M. seminigra oriundas de Manaus – AM.
METODOLOGIA:

Amostras de méis foram coletadas com auxílio de seringa descartável, das colméias de M. seminigra e M. compressipes (meliponário GPA-CPCA-INPA), nos meses de setembro, novembro e dezembro de 2006. Foram armazenadas em frascos esterilizados e desmineralizados, e conservados sob refrigeração.

Nas análises físico-químicas o pH foi determinado por potenciometria; os sólidos solúveis com auxílio de refratômetro de campo (Biosystems®); a acidez por titulação utilizando potenciômetro para monitorar o pH, e a atividade de água em aparelho determinador específico (Pawkit, Braseq®).

Para a análise do valor nutricional o percentual de umidade foi determinado por refratometria a 20ºC, com auxílio da Tabela de Chataway; proteína pelo método Micro Kjeldhal para nitrogênio total, utilizando-se o fator de 6,25 para conversão; lipídeos pelo método Soxhlet; cinzas por incineração em mufla a 600ºC; carboidratos pela diferença entre 100 e a soma das porcentagens de água, proteína, lipídeos e cinzas; e o valor energético de acordo com o sistema Atwater 4-4-9 kcal/g.

Os componentes inorgânicos (micro e macrominerais) foram determinados pelo método de espectrometria de absorção atômica, mediante curva de calibração com solução padrão de cada elemento analisado.

RESULTADOS:

Neste trabalho, o valor médio de pH verificado no mel de M. seminigra foi 4,9, já no mel de M. compressipes foi 4,2. Os sólidos solúveis tiveram média de 72 e 73ºBrix para M. seminigra e M. compressipes respectivamente. Os valores médios de atividade de água encontrados foram 0,68 para M. seminigra e 0,65 para M. compressipes. A acidez apresentou valor médio de 34,6meq/kg no mel de M. seminigra e 66,1meq/kg no mel de M. compressipes. O regulamento atual, baseado no mel de A. mellifera, estabelece um limite de 50meq/kg de acidez neste alimento. Portanto, é esperado que os valores de acidez determinados sejam variáveis de acordo com a espécie de abelha e com o pasto apícola utilizado pelas mesmas. Esta variação de valores constitui um dos fatores que justifica a análise regional e espécie-específica dos méis, a fim de estabelecer uma padronização para certificação do produto com fins comerciais.

O teor médio de umidade encontrado no mel de M. seminigra foi de 26,7% e M. compressipes 26,0%. De acordo com a legislação brasileira, a umidade máxima do mel deve ser 20%, valor este que não se aplica às espécies de abelhas sem ferrão, cujos méis vêm apresentando valores superiores. O percentual de proteína encontrado nos méis de M. seminigra e M. compressipes foi respectivamente 0,26% e 0,36%. Quanto aos lipídeos obteve-se a média de 0,24% nos méis de M. seminigra e 0,16% nos méis M. compressipes. A quantidade de cinza encontrada foi 0,07% para M. seminigra e 0,05% para M. compressipes. Os carboidratos apresentaram média de 72,7% para méis de M. seminigra e 73,4% para méis de M. compressipes. O valor calórico médio do mel de M. seminigra foi 294kcal, enquanto que no mel de M. compressipes foi 296kcal por 100g de amostra.

Em relação aos minerais foram constatadas para o mel da espécie M. seminigra médias de 1,90mg/g e 3,02mg/g para os microminerais Fe e Zn, e 0,14mg/g e 0,02mg/g para os macrominerais Ca e Mg, respectivamente. Para M. compressipes as médias foram de 2,01mg/g; 7,38mg/g; 0,10mg/g e 0,01 mg/g para Fe, Zn, Ca e Mg.

CONCLUSÃO:

Concluímos que houve diferença das variáveis do mel de abelhas nativas tanto interespecífica quanto entre amostras de períodos diferentes, principalmente quanto à acidez e umidade, havendo necessidade do estabelecimento de parâmetros espécie-específicos ou regionais para méis de meliponíneos visando sua comercialização, coibição de falsificação e intensificação da venda de produtos adequados para o consumo humano.

Instituição de Fomento: Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Amazonas – FAPEAM.
Palavras-chave: Legislação, Meliponínios, Nutrição.