61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 2. Geografia Regional
ALAGAÇÕES DE ABRIL EM MANAUS
Denise Rodrigues Cruz 1
Reinaldo Correa Costa 2
1. Universidade Federal do Amazonas
2. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazonia (orientador)
INTRODUÇÃO:
Manaus é uma cidade assentada entre duas rias fluviais, em um plano tabular terciário cortado por vertentes de vales de fundo chato. Possui em seu regime climático duas estações bem demarcadas, o período chuvoso (novembro a maio) e o de estiagem (junho a outubro). O rápido crescimento populacional e urbano proporcionado pela implantação de fábricas ocorreu sem o controle e acompanhamento político, favorecendo a ocupação de locais sem estrutura nenhuma ao estabelecimento de moradias. Transbordamento de igarapés, casas e ruas alagadas, enxurradas, voçorocas feitas pela chuva, provocando queda de muros e árvores são as notícias mais comuns nos meses de janeiro a abril em Manaus. Algumas comunidades e conjuntos também são recorrentes nessas notícias, dando-nos uma noção dos locais susceptíveis aos riscos decorrentes das chuvas do verão amazônico. Esses eventos em Manaus não são exceção do que acontece em outros estados brasileiros, mas com individualidades regionais que caracterizam o que representa o risco para o cidadão manauara. Para Capel e Urteaga são os fatores singulares que constituem as combinações necessárias ao objetivo do estudo geográfico e deste modo interpretado também para compreender a paisagem formada pelas áreas de risco de alagamento.
METODOLOGIA:
O metabolismo urbano (Ab’Saber), referente ao ambiente total da manifestação da natureza, da apropriação e transformação de ação coletiva das paisagens urbanas, se constitui como um referencial metodológico para a compreensão das áreas com risco de alagações em Manaus. Como parte desse processo a proposta de Milton Santos sobre Formação Econômico Social complementa o entendimento espacial da totalidade que a sociedade movimenta. E neste intuito foram identificados, através do noticiário impresso local, alguns grupos sociais noticiados no período de chuvas intensas em abril de 2007. Foram mapeadas ocorrências registradas pela Secretaria Municipal de Defesa Civil –SEMDEC, entidade governamental responsável pela articulação e coordenação das ações preventivas, de socorro, assistenciais e recuperativas, destinadas a evitar os desastres- para revelar as áreas de maior incidência de alagamentos. Os dados sobre as chuvas (milímetros), também permite esclarecer um pouco a dinâmica climática interagindo com os processos humanos na constituição das paisagens urbanas com áreas de risco de alagamento.
RESULTADOS:
O ano de 2007 teve um número considerável de ocorrências de alagação. Foram 1.297 chamadas atendidas pela SEMDEC em todo o período chuvoso. O mês de abril concentrou 65% das chamadas de alagação devido a uma excepcionalidade em seu regime climático. Somente em um dia (09) foram coletados pelo CPRM 76,32 milímetros de chuva constante que durou cerca de 3 horas. Nos três dias que sucederam a este, também choveu bastante, fazendo o governo decretar estado de Emergência devido aos danos causados e com aproximadamente duas mil pessoas desabrigadas. As áreas que mais tiveram chamadas foram as zonas norte e leste, com transbordamento de tributários do igarapé do Passarinho e do Mindu. O bairro Cidade Nova cheio de comunidades e conjuntos situados próximos a igarapés foi um dos mais atingidos além do Colônia Terra Nova. Na zona leste, os bairros que se destacam são, Tancredo Neves, Jorge Teixeira e Armando Mendes. Grande parte dos afetados pelas alagações eram pessoas de baixo poder aquisitivo que já haviam sofrido outras alagações de menor intensidade. Algumas ocorrências também foram registradas por pessoas de uma classe diferencialmente mais abastada, morando em condomínios construídos próximo a igarapés na zona centro-sul.
CONCLUSÃO:
A forma e o tipo de expansão urbana, sem o devido acompanhamento político, tiveram papel fundamental na constituição de áreas com riscos a alagamentos. Loteamentos clandestinos abriram caminho ao assentamento de pessoas em locais sem o serviço básico, saneamento ou atenção pública. Essas estruturas são construídas aos poucos e somente depois de algum tempo são reconhecidas como bairro. Devido a isso há uma infinidade de comunidades e conjuntos situados nas zonas norte e leste pois são áreas de expansão da cidade e têm, em sua maioria, problemas de ordem estrutural. A pouca representatividade da zona sul nas ocorrências deve-se ao fato de ser uma das áreas mais antigas e no referido ano o Poder Público já realizar obras de “recuperação”, mudança, paisagística dos igarapés. As poucas famílias de poder aquisitivo mais elevado, atingidas pelas alagações, são de construções próximas a igarapés como algumas do bairro Parque Dez de Novembro atingido pelo transbordamento do igarapé do Mindu. O igarapé do Mindu corta transversalmente a cidade e tem passado por alterações devido à sua extensão, começa nas proximidades da Reserva Alfredo Ducke bem ao norte de Manaus e passa por quase todas as áreas de recente ocupação. Na zona centro-sul este igarapé sofre uma espécie de estrangulamento devido às construções de prédios e condomínios nas suas margens. Apesar das agruras denunciadas diariamente pelos moradores em diversos meios de comunicação, o problema é estrutural e persiste. Há necessidade de elaboração de políticas fundiárias que englobem não somente o embelezamento dos lugares mas a provisão das necessidades estruturais bem como a inclusão da educação ambiental como parte do currículo escolar.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
Palavras-chave: Áreas de risco de alagação, Expansão urbana, Políticas públicas.