Este projeto de pesquisa visa interpretar o projeto político-pedagógico de constituição do Movimento de Educação de Base (MEB), no município de Tefé-AM (1955-1966), tendo em vista as lacunas tocantes a sua origem e também os impactos de atuação desse movimento em Tefé, e na região Amazônica do médio Solimões. O MEB foi criado pela Igreja Católica no início de 1961, através da Conferência Nacional de Bispos no Brasil (CNBB) com objetivo de desenvolver um programa de educação popular por meio de escolas radiofônica, especificamente em áreas rurais das regiões centro-oeste, Norte e Nordeste do país.

Dom Joaquim, então Bispo da Prelazia de Tefé esteve presente e interessou-se, pois através das escolas radiofônica poderia atingir a população de sua prelazia. O MEB/Tefé esteve presente nos seminários de preparação, mas sua atuação no município de Tefé data do ano 1964. A periodização do presente projeto tem início em 1955, por nesse ano ter ocorrido os primeiros contatos do Bispo da Igreja de Tefé-AM, Dom Joaquim de Lange, junto aos Ministérios do Governo Federal responsáveis pela autorização de instalação e funcionamento de emissora radiofônica com caráter educativo. Alonga-se até 1966, pois essa data marca o fim da primeira fase de atuação em nível nacional (1961-1966).

Toda pesquisa de articula com um lugar de produção sócio-econômica, político e cultural e o presente estudo trata de interpretar a evolução do Movimento de Educação de Base em Tefé-AM (MEB: 1955-1966), norteando-se pelas seguintes questões: por que foi criado o MEB em Tefé? Para quem? Para quê? Que forças personificadas na figura de Dom Joaquim de Lange foram responsáveis pela criação e desenvolvimento do MEB em Tefé e na região Amazônica do médio Solimões? Tendo em vista essas questões e a análise do projeto político-pedagógico do MEB/Tefé, no período proposto.

Contou-se com o auxílio de fontes impressas (relatórios, regulamento, fotografias) localizadas no acervo histórico da prelazia de Tefé-AM, levantamento bibliográfico, técnica de história oral com o intuito de recuperar as “vozes” dos sujeitos sociais envolvidos no movimento (ex-aluno, ex-professores, ex-monitores, ex-coordenadores), resgatando informações a respeito do objeto pesquisado. Além de fundamentação de pressupostos teórico-metodológicos que direcionem para a “reconstrução” do objeto em estudo. 

O MEB em Tefé surgiu a partir de Dom Joaquim era Bispo de Tefé na ocasião, e queria achar um meio de atingir toda a população, aqueles que viviam nos paranás, nos lagos, nas áreas inacessíveis da floresta. Em 1955 ele foi a uma reunião na cidade de Medelim (Colômbia) e conversando com um Prelado de Dom Salcedo de Sutatenza que explicou que eles tinham alcançado toda população da sua prelazia através de uma rádio e com essa idéia Dom Joaquim voltou, e entrou em contato com as autoridades e conseguiu uma rádio para Tefé. Conjuntamente com a criação do MEB (1961), ele tinha alcançado as ferramentas básicas para o seu trabalho.

A partir de então houve a preparação da equipe de trabalho através de vários seminários de estudos sobre educação de base, e funcionamento de escolas radiofônicas realizadas em diversos estados. As áreas de atuação era principalmente a população das comunidades do município de Tefé-AM, e a educação dos jovens e adultos baseadas na perspectiva metodológica: ver, julgar e agir de Paulo Freire. Além de treinamento para a população local exercer as diversas atividades promovidas pelo MEB (saúde, educação, cultura, organização comunitária).

Apesar da relevância dos impactos promovidos pelo MEB/Tefé ainda são escassos os estudos que procuram historiar a origem e o processo de desenvolvimento no referido município e na região do médio Solimões. O MEB/Tefé durante os primeiros anos de atuação era rico em atividades educativas, principalmente na sua preocupação em partir do linguajar do caboclo para lhes alfabetizar, ao mesmo tempo em que objetivava mudar sua estrutura social de subjugado do patrão através da conscientização (ver, julgar, agir), colocando aos ribeirinhos a importância de sua participação enquanto cidadão na construção de uma sociedade.

 Articulou também o envolvimento social através da criação e organização das comunidades para os próprios comunitários reivindicassem suas necessidades com as autoridades. Trabalhou com o resgate e a preservação da cultura através os festivais folclóricos e incentivos ao artesanato. E foi através da materialização da Radio Educação Rural de Tefé que se conseguiu penetrar e alcançar as populações mais longínquas estabelecendo um meio de comunicação entre os atuantes do movimento. Em vista disso o trabalho de pesquisa visa preservar e divulgar história de um importante e significativo Movimento de Educação de Base de Tefé.