61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 2. Ecologia Aquática
PRESENÇA DE METAIS PESADOS NA ÁGUA EM NOVE LAGOS DO RIO SOLIMÕES, NO TRECHO ENTRE COARI E MANAUS, SOB INFLUÊNCIA DA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO
Karen Yuri Suguiyama da Silva 1
Ronildo Oliveira Figueiredo 1
Rafael Mendonça Duarte 1
Fabíola Xochilt Valdez Domingos 1
Vera Maria Fonseca de Almeida e Val 1
Adalberto Luís Val 1
1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA)
INTRODUÇÃO:

A bacia do rio Solimões-Amazonas é um típico sistema de grande rio, com amplas planícies adjacentes submetidas a um ciclo hidrológico previsível, com inundações anuais decorrentes do transbordamento lateral da água do canal principal do rio em direção à planície.  Os ecossistemas aquáticos têm sido expostos a crescentes perturbações antrópicas como conseqüência da incessante busca por melhores condições de vida para o ser humano. A contaminação aquática por petróleo é, sem dúvida, um problema ambiental mundial. Entre os diversos efluentes gerados na indústria de petróleo destaca-se a água de formação, que é uma solução com altas concentrações de íons, metais pesados, sulfatos, bicarbonatos, cloretos e fenóis. As altas concentrações de metais pesados encontradas na água de formação facilitam a sua incorporação e acumulação pela biota aquática. Dessa forma, o presente trabalho teve como objetivo identificar possíveis alterações no ambiente aquático mediante a determinação da concentração de cinco metais dissolvidos na água em nove lagos do Rio Solimões, sob influência da indústria do petróleo no Amazonas, visando contribuir para o monitoramento da qualidade dos ecossistemas aquáticos amazônicos.

METODOLOGIA:

As mostras de água foram coletadas nos anos de 2007 e 2008, acompanhando o ciclo hidrológico local, que corresponde aos períodos de enchente (Março), cheia (Junho), vazante (Setembro) e seca (Dezembro) do Rio Solimões, no âmbito do Projeto Piatam IV. As amostras foram coletadas em triplicata em nove lagos (Baixio, Preto, Iauara, Ananá, Campina, Maracá, Poraquê, Aruã e Urucu), ao longo do trajeto Coari – Manaus, além de um ponto próximo ao terminal do Solimões (Tesol). As amostras foram acondicionadas em garrafas plásticas de 300 mL e acidificadas com HNO3 10%. As amostras foram filtradas em membrana de 0,45 µm (Millipore), sendo a concentração dos metais cobre (Cu), cádmio (Cd), níquel (Ni), chumbo (Pb) e vanádio (V) quantificada por meio de espectrofotometria de absorção atômica (Perkin-Elmer, AA-800), seguindo as especificações do fabricante para cada um dos elementos. A concentração dos metais dissolvidos na água foi expressa em µg/L, e os resultados obtidos foram expressos como Média ± SEM. Diferenças significativas na concentração dos metais na água entre os períodos de coleta, em cada um dos lagos avaliados, foram determinadas por meio de análise de variância de um fator (ANOVA, one way), seguido, quando indicado, pelo teste de comparação múltipla de Tukey.

RESULTADOS:

As concentrações de Cu na água dos lagos Baixio, Ananá, Campina, Poraquê e Aruã foram 12,2; 13,5; 16,3; 14,2 e 10,0 µg/L, respectivamente, durante o período de cheia de 2007, ultrapassando o limite máximo permitido pela resolução CONAMA 357/2005 para água doce de classe 2 (9µg/L). No ano de 2008, no período de seca, apenas a água coletada no ponto Tesol (9,6µg/L) apresentou teores de Cu que ultrapassaram os limites da resolução CONAMA.A concentração de Pb na água ultrapassou os valores máximos permitidos pelo CONAMA (10,0µg/L) nos lagos Iauara (19,9µg/L), Poraquê (15,0µg/L), Tesol (43,1µg/L) e Aruã (18,0µg/L) no período de enchente, no lago Poraquê (19,0µg/L) na cheia, e no lago Aruã (18,0µg/L) durante a vazante de 2007. Já em 2008, concentrações elevadas de Pb foram encontradas nos lagos Baixio (15,8µg/L), Tesol (15,6µg/L), Aruã (11,7µg/L) e Urucu (26,8µg/L) na seca, e nos lagos Aruã (13,8µg/L) e Urucu (11,7µg/L) durante a vazante. As concentrações de Cd, Ni e V não ultrapassaram os valores máximos estabelecidos pelo CONAMA em nenhum dos lagos amostrados durante as amostragens.

CONCLUSÃO:

Entre os metais analisados, apenas as concentrações de Cu e Pb ultrapassaram os limites máximos permitidos pela Resolução CONAMA, em alguns dos lagos avaliados. Os maiores níveis de Cu foram detectados no período de cheia de 2007 (Campina e Poraquê) e seca de 2008 (Tesol), enquanto os níveis de Pb apresentaram-se elevados no ponto Tesol durante a enchente de 2007, e no lago Urucu na seca de 2008. Embora a concentração destes dois metais tenha sido detectada em vários lagos do trecho Coari-Manaus, os lagos adjacentes à região de Coari apresentaram maiores quantidades refletindo sua localização próxima à Província Petrolífera de Urucu. Considerando que a presença de metais foi detectada em diferentes localidades ao longo do trecho estudado, durante dois anos consecutivos, sugere-se que a continuidade do monitoramento da região é de extrema relevância para (1) o entender da distribuição desses metais no ambiente aquático; (2) o acompanhar de sua presença e quantificação nos lagos da região e (3) subsidiar ações de manejo e preservação.

Instituição de Fomento: PIATAM-FINEP,Petrobrás,INPA, CNPq,FAPEAM
Palavras-chave: metais pesados, poluição aquática, monitoramento ambiental.