61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 10. Microbiologia - 2. Microbiologia Aplicada
ANTIBIOSE DE EXTRATOS DE FUNGOS E ACTINOMICETOS ENDOFÍTICOS ISOLADOS NA AMAZÔNIA BRASILEIRA DE DUGUETIA STELECHANTHA CONTRA BACILLUS CEREUS
Fabiana Greyce Oliveira Almeida 1
Maria do Socorro Teodoro Costa 1
José Odair Pereira 1
Roberto Amaro Bianco 1
Afonso Duarte Leão de Souza 1
Antonia Queiroz Lima de Souza 2
1. Universidade federal do Amazonas - UFAM
2. Universidade do Estado do Amazonas
INTRODUÇÃO:

Entre a imensa biodiversidade da Amazônia estão os microrganismos, com destaque para os fungos, estimados em mais de 1.500.000 espécies. Os microrganismos contribuem para existência do planeta através da fixação do nitrogênio e da reciclagem da matéria orgânica e têm diversas aplicações nas indústrias farmacêutica e alimentícia, entres outras utilidades. Com a descoberta de fungos endofíticos produtores de Taxol, droga anticancer de seios e ovários, também produzido pela planta Taxus andrenae, iniciou-se a busca de microrganismos produtores de metabolitos bioativos semelhantes aos das plantas hospedeiras, justificada pela co-evolução planta/microrganismos que pode originar uma transferência gênica horizontal. A família Annonaceae é endêmica da Amazônia e seus representantes são utilizados pelos nativos contra câncer e como antiinflamatório e antiprotozoário. Neste contexto isolaram-se fungos e actinomicetos de Duguetia stelechantha (Annonaceae), que foram fermentados para obtenção dos extratos e avaliados quanto aos potenciais de antibiose contra Bacillus cereus (cepa padrão produtora de enterotoxinas). As enterotoxinas causam intoxicação alimentar, com mal estar, vômito e diarréias, entre outros sintomas, sendo uma das principais causa de morte infantil na região.

METODOLOGIA:
Fragmentos de folhas, caules, raízes, galhos e frutos da planta D. stelechantha, coletada nas matas da Fazenda Experimental da UFAM, foram inoculados em BDA, contendo 50 mg/mL de terramicina e ampicilina para isolar fungos, ou em ISP2 e aveia com 50 mg/mL de terramicina e cetoconozol, para isolar actinomicetos. Procedeu-se a incubação em BOD, por um mês, alterando-se a temperatura a cada oito dias para: 18, 26 e 40 oC. A partir do terceiro dia de incubação, fragmentos do meio de cultura com os endófitos foram transferidos para tubos de ensaio com meio apropriado. As culturas foram purificadas pela metodologia de cultura monospórica ou por repiques sucessivos, conforme o caso, e preservadas em Castellani, óleo mineral e água com glicerol 15%. Os ascomicetos e Micelia sterilia foram também preservados em placas de petri a 4o C. 11 isolados selecionados foram fermentados em meio líquido, estático, a temperatura ambiente por 21 dias. O micélio foi separado do meio fermentado por filtração a vácuo e extraído com etanol e acetato de etila/metanol 7:3; o meio fermentado foi extraído com acetato de etila e acetato de etila/isopropanol 7:3. Uma fração de 2 mg de cada extrato, dissolvida em 1 mL de DMSO e água 1:9, foi ensaiada pela metodologia de difusão em ágar contra Bacillus cereus
RESULTADOS:

Dos tecidos de D. stelechantha foram isolados 125 actinomicetos e fungos endofiticos, distribuídos em 24 grupos, dos quais foram preservados representantes selecionados de cada grupo na coleção de microrganismos do grupo de pesquisa GEMA. Pelas avaliações macro e micro-morfológicas das estruturas vegetativas e reprodutivas identificaram-se os gêneros de fungos Trichoderma, Fusarium, Phomopsis, Pestalotiopsis, Xylaria, Penicillium, Aspergillus, Colletotrichum, três espécies de Streptomyces, de coloração amarela e uma vermelha, além da observação de outras linhagens de fungos e actinomicetos não agrupados. Dos 22 extratos obtidos das linhagens fermentadas, 19 foram ensaiados e seis apresentaram antibiose contra B. cereus. O melhor resultado foi encontrado para o extrato do micélio de um Aspergillus niger, com halo de inibição de 15 mm de diâmetro, seguido dos extratos do meio fermentado e do micélio de um Penicillium sp., com halos de 14 e 12 mm, respectivamente, e dos extratos dos micélios de três Streptomyces, dois amarelos e o vermelho, com halos de 10, 12 e 10 mm, respectivamente. Os halos permaneceram por 96 horas comprovando a atividade bactericida e não houve a formação de colônias resistentes, indicando que as substâncias ativas possivelmente não sejam mutagênicas.

CONCLUSÃO:
A metodologia direcionada para o isolamento de actinomicetos e fungos endofíticos foi apropriada ao objetivo deste trabalho e os resultados confirmam a existência de microrganismos endofíticos em D. stelechantha com potencial para a produção de metabólitos secundários bioativos contra B. cereus. Considerando a importância do surgimento de cepas resistentes aos antibióticos atuais e que a produção de antibióticos e outros medicamentos, como anticancerígenos, a partir de vegetais causam grande impacto ambiental, a procura de novos medicamentos que tenham como fonte recursos renováveis a curto tempo e de fácil manipulação em laboratórios parece-nos aplicável e favorável aos microrganismos endofíticos, como sugerem os presentes resultados.
Instituição de Fomento: CNPq
Palavras-chave: Duguetia stelechantha, Antibiose dos Extratos, Bacillus cereus.