O rio Juruá extende-se por cerca de 3.200 km, similar ao rio Purus, porém dado o elevado número de meandros a extensão exata destes rios é dependente da medida dos canais, ainda que ambos sejam os afluentes mais longos do rio Amazonas depois do rio Madeira. Considerando o porte destes rios é esperada uma enorme diversidade de peixes, já que o rio Madeira, por exemplo, têm uma expectativa de atingir 800 espécies identificadas e o rio Negro de 700 espécies. A ictiofauna do rio Juruá é muito pouco conhecida, com escasso material coletado presente em coleções especialmente pela eventual passagem de naturalistas e pesquisadores em sua extensa bacia hidrográfica. A família dos ciclídeos é um grupo de peixes conhecidos popularmente como acarás ou carás no Brasil. O grupo constitui uma das mais numerosas famílias de vertebrados, com ao menos 1.300 espécies reconhecidas e podendo alcançar cerca de 1.900 espécies, sendo mais de 291 espécies na América do Sul. Destaca-se que foram registradas na bacia do rio Juruá até o presente apenas 12 espécies de ciclídeos.

Identificações das espécies foram realizadas sob microscópio estereoscópico, com auxílio de chaves de identificação e descrições científicas na literatura pertinente. Quando necessário foi empregado um paquímetro digital para obter dados morfométricos. Exemplares foram diafanizados para checar caracteres osteológicos. Posteriormente, procedeu-se comparação com listas taxonômicas de espécies identificadas para o rio Juruá, e checagem da distribuição geográfica, ocorrências, das espécies em revisões taxonômicas. O material analisado está disponível na Coleção de Peixes parte integrante da Coleção Zoológica Prof. Paulo Bührnheim da Universidade Federal do Amazonas (CZPB-UFAM). Os espécimes em coleção estão acondicionados em álcool 70%, tendo sido fixados em formol 10%. O material triado, identificado e tombado na coleção, é procedente do rio Juruá e foi obtido em coletas empregando diversos aparelhos de pesca, realizadas no período de 12 a 16 de junho de 2008, no município de Carauari, Amazonas.

Foram registradas 15 novas ocorrências de ciclídeos para a bacia do rio Juruá. Estas espécies não foram citadas formalmente em listas e revisões taxonômicas publicadas até o presente para esta bacia. Respectivamente, as espécies são Acarichthys heckelii, Apistogramma bitaeniata, Apistogramma regani, Biotodoma cupido, Chaetobranchus flavescens, Chaetobranchus semifasciatus, Cichla monoculus, Crenicichla regani, Crenicichla reticulata, Crenicichla inpa, Crenicichla santosi, Heros efasciatus, Mesonauta festivus, Pterophyllum scalare  e Satanoperca acuticeps.

Registrou-se espécies ainda não identificadas para o rio Juruá, indicando a necessidade de inventários da ictiofauna da região do Juruá. Portanto, ressalta-se a importância da identificação das espécies para o conhecimento da biodiversidade de peixes, especialmente do rio Juruá. Implantações de coleções científicas zoológicas como base para estudos de taxonomia e sistemática, são fundamentais para a criação de políticas públicas e o uso sustentável dessa biodiversidade e de sua conservação. Embora espécies de importância comercial alimentícia sejam referidas em literatura, como o tucunaré Crenicichla monoculus, há necessidade de acurada identificação taxonômica para a confirmação das espécies exploradas economicamente na região do rio Juruá, principalmente considerando a expectativa de espécies endêmicas e elevado número de espécies novas ainda por serem descritas da bacia do rio Juruá. Adicionando os 15 novos registros de espécies junto às 12 espécies anteriormente reconhecidas, chega-se a 27 espécies de Cichlidae catalogadas para a bacia do rio Juruá.