61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 10. Microbiologia - 2. Microbiologia Aplicada
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO E SOROLÓGICO DE ESCHERICHIA COLI ENTEROPATOGÊNICA (EPEC) E ESCHERICHIA COLI ENTEROHEMORRÁGICA (EHEC) EM CRIANÇAS DE 0-10 ANOS DE IDADE, QUE DERAM ENTRADA COM DIARRÉIA NOS HOSPITAIS ESTADUAIS DA CIDADE DE MANAUS- AM
Mauricio Andrei Ruiz Del Aguila 1, 2
Paula Taquita Serra 1, 3
Raquel Oliveira Pessoa 1, 3
Andréa Fagundes Grava 1
Patrícia Puccinelli Orlandi 1
1. Intituto Leônidas Maria Deane - Fiocruz
2. Universidade Federal do Amazonas
3. Universidade do Estado do Amazonas
INTRODUÇÃO:
E. coli é um bacilo Gram-negativo que faz parte da microbiota natural do trato digestivo, entretanto algumas cepas patogênicas podem causar infecções variadas e diarréia. No Brasil, como na maioria dos países em desenvolvimento, a diarréia continua sendo uma das causas mais comuns de morbidade e mortalidade em crianças. Condições de higienização precárias, saneamento básico deficiente, presença de animais domésticos em contato com crianças, são os maiores responsáveis pela infecção. Manaus viveu muitas fases de imigração de outras regiões do Brasil e inclusive do interior do Amazonas. Essas correntes de entrada de contingente populacional impulsionaram um crescimento desordenado da periferia da cidade, e junto com ela, todos os problemas de saúde pública que derivam de uma ocupação desordenada e mal planejada, principalmente a diarréia, que ainda é muito freqüente principalmente na periferia da cidade. Não existem registros epidemiológicos da prevalência de diarréia em crianças causada por E. coli diarreiogênica, o que torna importante um estudo desse gênero para facilitar o diagnóstico. Para isso, está se procedendo a análise de prevalência dos patótipos E. coli em fezes diarréicas de crianças de zero a dez anos atendidas nos Hospitais Infantis de Manaus.
METODOLOGIA:
Incluídas um total de 150 amostras de fezes de crianças de zero a dez anos, no período de setembro de 2007 a março de 2008, provenientes do serviço de pronto atendimento de pronto-socorros infantis de Manaus. Um questionário com informações sobre sexo, idade, estado clínico, tempo de duração, qualidade da água, entre outros, foi utilizado na análise. Para o exame bacteriológico, a parte mais patológica das amostras foi colocada em meio de transporte Cary-Blair. O isolamento feito pelo método de semeadura em meios de culturas MacConkey, Shigella-Salmonella, mantidos a 37oC por 18 horas. Logo foram coletadas até cinco colônias lactose positivas e uma negativa. Testes bioquímicos foram realizados: EPM, MILi e Citrato de Simmons. As cepas foram armazenadas em meio “Brain Heart Infusion” (BHI) acrescido de 15% de glicerol a -70ºC, e em meio de Lignières a temperatura ambiente. As colônias com características bioquímicas condizentes com E. coli diarreiogênica foram ressuspensas da superfície do meio EPM, com 0,3 ml de solução salina (0,85% - p/v) e submetidas ao teste de aglutinação em lâmina para determinação dos sorotipos.
RESULTADOS:
Foi incluído um total de 55 pacientes provenientes do serviço de pronto atendimento de pronto-socorros infantis de Manaus. A faixa etária predominante das crianças foi de zero a três anos. Na faixa de 0 a 1 ano, 42% das crianças apresentaram diarréia, na de 1 a 2, 35% e de 2 a 3, 15 % do total. O questionário a respeito da água de abastecimento de suas residências mostrou que 60% do total utilizavam água encanada e 40% água de poço. Quanto à água de consumo das crianças, 51% das casas utilizavam água de poço, enquanto 24% água encanada, sem qualquer tipo de tratamento, o restante filtrava, fervia ou coava a água. Quanto à sintomatologia, 70,9% dos pacientes apresentou febre, a mesma porcentagem dos que apresentaram vômitos. Desidratação esteve presente em 58,2% das crianças, e houve presença de sangue visível nas fezes em apenas 21,8%. Na pesquisa de sangue oculto, apenas 18% foi positivo e 22% das amostras foram positivas para rotavirus. Quanto ao bairro de proveniência dessas crianças, houve predominância das zonas leste (38%), sul (31%) e norte (15%). Os hospitais com maior influxo de crianças foram os das zonas leste e sul, com 45% cada. Nos testes sorológicos houve predominância significativa de EPEC sobre EHEC, em concordância com a literatura consultada.
CONCLUSÃO:
A E. coli é um dos principais agentes etiológicos na diarréia infantil. Como descrito na literatura, os primeiros anos de vida são os mais acometidos por diarréia cuja etiologia é a E. coli diarreiogênica. Bairros como João Paulo e Zumbi, que fazem parte da zona leste e Colônia Oliveira Machado, Educandos, que compõem a zona sul, por representarem grandes aglomerados populacionais, possuem a maior parte da casuística de diarréia no município. Nestes, grande parte da população não conta com saneamento básico apropriado e possui hábitos não salutares no tratamento da água. Esta é proveniente, na grande maioria, de poços artesianos que muitas vezes não são feitos com a profundidade recomendada, e sem outro tratamento, esta água configura como um importante foco de infecção. A sintomatologia predominante é condizente com síndrome diarreica aguda, com febre, vômitos e desidratação, cujo tratamento em sua maioria se restringe a hidratação do doente e avaliação constante do estado geral, muitas vezes não necessitando de antibioticoterapia. Esta sintomatologia é principalmente característica da diarréia causada pelo patotipo EPEC, enquanto sangue foi visível em poucos casos, podendo ser característico de EHEC.
Instituição de Fomento: CNPq e FAPEAM
Palavras-chave: Escherichia coli, Multiplex PCR, Diarréia Infantil.