61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 3. Educação Ambiental
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A PEDAGOGIA DE PROJETOS NO CONTEXTO ESCOLAR
Evelyn Maia de Araújo 1
1. Universidade Federal do Amazonas
INTRODUÇÃO:
Abordar questões ambientais não é apenas falar de crise ecológica, mas principalmente dos aspectos que estão diretamente relacionados com a ética e que norteiam as relações sociais, de trabalho e consumo que estruturam a sociedade. Segundo Santos (2007, p.28), se faz necessário “entender a crise como um fenômeno complexo, global, emergente, que apresenta características próprias mais graves (...)”, e para isso é imprescindível pensar em um novo modelo de conhecimento que permita entender a complexa crise ambiental, oferecendo alternativas para a construção de relações sociais mais igualitárias e justas na sociedade contemporânea. A abordagem do tema transversal Meio Ambiente no contexto escolar visa formar cidadãos e cidadãs conscientes de seus direitos e deveres, capazes de opinar, decidir e implementar medidas que estejam comprometidas com a ética e valores de uma sociedade preocupada com relações sócio-ambientais mais harmônicas. Dessa forma, a Pedagogia de Projetos inserida no contexto escolar apresenta-se como metodologia capaz de oferecer aos sujeitos do processo educativo a compreensão das múltiplas e dinâmicas dimensões da realidade. Nesse sentido, o presente estudo é resultado de uma investigação realizada numa Escola Estadual da Zona Norte de Manaus, com o objetivo de apreender as concepções que os alunos e suas professoras possuem sobre o Meio Ambiente, Educação Ambiental e Pedagogia de Projetos, proporcionando às educadoras uma reflexão a partir do referencial teórico construído. Deste modo, buscou-se não só visualizar uma prática, mas compreendê-la a partir dos pressupostos teóricos desta pesquisa. Como resultado apontamos alternativas para superar a concepção deformada que se tem de metodologias que possuem potencialidades de transformar o fazer docente e elevar a qualidade da aprendizagem dos educandos.
METODOLOGIA:
Adotou-se como marco teórico o enfoque fenomenológico-hermenêutico, por proporcionar uma reflexão a respeito das subjetividades dos sujeitos envolvidos nesta pesquisa. O uso da abordagem qualitativa oportunizou a observância dos fatos, situações, comportamentos e dos próprios sujeitos da forma que permitisse responder a problemática que norteia este trabalho. Foram utilizados como procedimentos metodológicos a pesquisa bibliográfica, fichamento, observação participante e o estudo de caso porque a investigação foi direcionada ao trabalho desenvolvido pelas professoras num projeto organizado por uma empresa privada do pólo industrial de Manaus que tratava justamente de questões ambientais. Segundo Molina (2004, p.98), “o estudo de caso pode ser definido como aquele que se ocupa da compreensão de uma ação educativa numa dimensão específica”. Utilizou-se da pesquisa documental para analisar as propostas transcritas nos documentos que fundamentam o projeto realizado na escola. Os questionários e a entrevista estruturada foram utilizados para se perceber representações que as professoras possuem perante o fenômeno em investigação. Com os alunos utilizou-se de “conversas informais” e de desenhos para que os mesmos pudessem expressar os conceitos trabalhados pelo referido projeto. O universo da pesquisa foi limitada a uma escola estadual da Zona Norte de Manaus, com 04 professoras e seus respectivos alunos. Durante o processo de sistematização e análise dos dados, optou-se pelos sistemas de categorias, onde se organizou as informações a partir da compreensão de Meio Ambiente, Problemática Ambiental e da Pedagogia de Projetos, pois esse agrupamento de dados foi estabelecido conforme as características que as informações possuíam em comum.
RESULTADOS:
A compreensão de meio ambiente para as professoras investigadas denotam um ambiente onde há interação entre seres vivos e não vivos em um determinado espaço físico, esse pensamento retrata a representação determinada por seu contexto social que conseqüentemente são refletidos em suas práticas pedagógicas, porém é necessário não ficarmos atrelados a definições simplistas de fatores condicionantes da realidade. Concordamos com Leff (2003, p.31) quando ele diz que o ambiente pode ser entendido como “(...) uma estrutura sócio-ecológica holística que internaliza as bases ecológicas de sustentabilidade e as condições sociais de equidade e democracia”. Quando inquiridas sobre a importância de se trabalhar com o meio ambiente no Ensino Fundamental, as respostas expressam cuidados ao ambiente físico. As discussões em sala de aula sobre a problemática ambiental eram abordadas em momentos oportunos, como no dia da água, do índio, da árvore, ocasiões estas que já fazem parte do cronograma de qualquer escola. As atividades praticadas na escola e visualizadas no decorrer da pesquisa, resumiram-se a construção de cartazes com “mandamentos" na sala de aula (todos referentes ao lixo), “passeatas ecológicas" em torno da escola na Semana do Meio Ambiente com elaboração de cartazes com figuras de animais em extinção, com frases que clamavam pela preservação do Meio Ambiente. Em relação a operacionalização do Projeto, as professoras evidenciaram que o trabalho do professor limita-se a executar com seus alunos, através do material disponibilizado, atividades que julgam ser relevantes para o trabalho da Educação Ambiental na escola, visualizando que o papel docente é mediar os conhecimentos e que o aluno é aprendiz e personagem central do processo ensino-aprendizagem. A percepção de mediadoras de um conhecimento proposto por um projeto pensado e elaborado por profissionais que desconhecem a realidade do sistema educacional local, torna-se um tanto estranho quando a realização efetiva de um projeto deve emanar de um sonho atrelado aos interesses e necessidades do sujeito central desse processo, que é o aluno. Partindo dessa compreensão, um encontro com as professoras dessa escola, tornou-se uma vivência necessária, visto que objetivamos como compromisso da pesquisa proporcionar às mesmas uma reflexão a partir de sua prática docente na expectativa de que novos olhares sejam lançados em relação às questões ambientais aqui levantadas. Assim, utilizou-se de dinâmica, projeção de vídeo e discussões a respeito do assunto abordado. Percebeu-se que ao final houve uma melhor compreensão da proposta da Pedagogia de Projetos e da Educação Ambiental, porém, as dificuldades que envolvem o trabalho docente foram colocadas pelas professoras como superior a toda e qualquer necessidade de transformação.
CONCLUSÃO:
A empreitada que a Educação Ambiental deve enfrentar é a possibilidade de construir um projeto de civilização que atenda as necessidades típicas de cada sociedade, para trabalhar as relações entre povos, entre a humanidade e seus ambientes. A procura de soluções é incessante, por isso é preciso superar os modelos didáticos rançosos que se encontram cristalizados na escola, na perspectiva de construir novos olhares, enfoques e alternativas de ação que acenem soluções aos reais problemas que a sociedade enfrenta. A proposta pedagógica da escola deve proporcionar ao educador a possibilidade de desenvolver um trabalho que não esteja amarrado a um currículo estático que não proporciona significado algum ao aluno. Logo, optar por alternativas que possibilitem a construção e reconstrução do conhecimento de modo dialógico permite despertar nos discentes a compreensão da problemática ambiental em seu contexto global que possibilita o fortalecimento de ações coletivas e organizadas que beneficiem a sociedade como um todo. A Educação Ambiental enquanto práxis pedagógica possui um caráter processual que forçosamente implica num trabalho que busca promover a formação de cidadãos conscientes, atuantes e promotores de soluções para os problemas criados por nós mesmos, visto que as transformações visualizadas no futuro serão o resultado de um trabalho implementado no presente. E é nessa perspectiva que a Pedagogia de Projetos configura-se no contexto escolar, à medida que busca suplantar o ensino compartimentalizado, verticalizado e cumulativo, enfocando a realidade em sua dimensão dinâmica e exigindo da escola o acompanhamento das mudanças, no sentido de discutir, analisar, refletir e atuar sobre os conflitos que prejudicam os interesses e bem estar da coletividade.
Palavras-chave: Meio Ambiente, Educação Ambiental , Pedagogia de Projetos.