61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 5. Educação de Adultos
TRABALHO E EDUCAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E SUA REALAÇÃO COM O MUNDO DO TRABALHO.
Maria Sônia Souza de Oliveira 1
1. Secretaria Municipal de Educação/SEMED
INTRODUÇÃO:
Este estudo surgiu, inicialmente, da necessidade de compreender o abandono e a rotatividade dos educandos na Educação de Jovens e Adultos. A observação ao longo de dois anos trabalhando como assessora pedagógica nas escolas municipais de Manaus, nessa modalidade de ensino nos levou as várias indagações. Como por exemplo: quais fatores influenciavam e/ou dificultava a permanência dos educandos no processo de escolarização? O que levava a retorná-los à escola ao mesmo tempo em que a abandonavam com tanta facilidade? Uma vez que a nossa experiência apontava que a rotatividade se dava principalmente entre os jovens. Assim, na tentativa de entender esse movimento optamos por estudar a relação da EJA com o mundo do trabalho, considerando as mudanças no mundo da produção, a crise do desemprego estrutural e as relações de trabalho. Nesse sentido o objetivo de nossa pesquisa buscou entender a percepção que os educandos têm sobre a escola, a educação, o conhecimento, a EJA e o trabalho, as contribuições dessa modalidade de ensino para a vida laboral dos mesmos, bem como, até que ponto a EJA contribui para a inserção deles no mundo do trabalho. Dessa feita, o texto traz a luz os resultados obtidos na pesquisa Educação e Trabalho: Um olhar sobre a educação de jovens e adultos e a relação com o mundo do trabalho, dando destaque as falas dos educandos de 18 a 25 anos do segundo segmento do Centro Municipal de Educação de Jovens e Adultos – CEMEJA, situado na Zona Leste de Manaus, dos turnos vespertino e noturno.
METODOLOGIA:
A pesquisa foi realizada na escola Centro Municipal de Educação de Jovens e Adultos – CEMEJA, situado na Zona Leste de Manaus, cujo funcionamento ocorre nos turnos da manhã, tarde e noite, com o segundo segmento da EJA nos cursos presenciais. Dada à necessidade de desvelamento do objeto do conhecimento a partir do processo empírico de investigação, levou-nos a selecionar os alunos de um universo aproximadamente de 1.200 alunos, somente dos turnos vespertino e noturno. Tomamos como critério a idade dos pesquisadores por considerar a complexidade de cada grupo etário: seja o adolescente, o jovem, o adulto, bem como as peculiaridades individuais. Assim, optamos por trabalhar com a faixa etária de 18 a 24 anos, de ambos os sexos escolhidos aleatoriamente. O levantamento dos dados ocorreu em dois momentos: primeiro, foi realizado a observação geral na escola, com o apoio da pedagoga, diretora e demais funcionários, o que proporcionou acesso a documentação primária referente a proposta curricular, evolução de matriculas e etc. o segundo envolveu os alunos da escola e os egressos. A metodologia inseriu-se numa abordagem qualitativa do tipo estudo de caso. A investigação foi conduzida de maneira a viabilizar o levantamento de dados em situação de observação dos jovens em diferentes momentos de atividades focais, observação livre e entrevista semi-estruturada. Levou-se em conta na pesquisa a recomendação de Burke, no sentido de reconhecer que tarefa do investigador social é “proporcionar ao leitor confiança em sua competência metodológica”. (BURKE, 1992, p.7)
RESULTADOS:
O presente estudo foi uma tentativa de compreender a relação trabalho e educação na EJA, e as expectativas criadas por essa modalidade em relação à vida laboral dos educandos. O foco na juventude fez-nos perceber as diferentes concepções no Brasil, em torno do seu papel social, condições de existência, oportunidades e limites com relação à escolarização, cultura, lazer, violência e trabalho. Dessa indefinição, resulta na ausência de política pública para os jovens numa perspectiva emancipadora. As propostas e ações baseiam-se nos aspectos negativos da condição juvenil, enfatizando as condições de marginalidade, focando as ações para áreas que representam maior “risco social” com efeitos imediatista e assistencialista. O tema educação e trabalho passam a ser a tônica para adaptar a necessidade do jovem às demandas do capital. “a cisão entre educação escolar e formação do trabalhador” (CÊA, 2000, p. 95), fomentou o surgimento de programas pontuais e fragmentados na EJA, sob a responsabilidade do Ministério do Trabalho, inviabilizando o acesso das classes populares aos níveis mais elevados de escolarização. Ao mesmo tempo, ampliaram-se as possibilidades desse público obter a certificação por meio desses cursos. Diferentemente do resto do país, Manaus responde por 92% dos cursos da EJA, sob a responsabilidade do estado e do município. Assim, entendemos que a reconfiguração da EJA, assume caráter emergencial. Seu reconhecimento não garante uma educação digna e de qualidade e nem assegura a inserção dos jovens da classe popular no trabalho formal.
CONCLUSÃO:
Diante das possibilidades e dos limites do nosso estudo, concluímos que a educação de jovens e adultos passa por um processo de inclusão e exclusão. Inclusão quando assegurada na Constituição Federal e ratificada na LDB 9.394/96, embora com algumas ressalvas. E exclusão à medida que o estado desloca a sua responsabilidade para a sociedade – iniciativas privadas e ONG’s –, desencadeando na pulverização de recursos, para a promoção e gerenciamento de cursos, sob a justificativa de “formar e qualificar” essa demanda para o mundo do trabalho, ou para a empregabilidade. Ou seja, na prática, as oportunidades desses jovens são demarcadas, por pertencerem, sobretudo, às camadas mais baixas da população. A EJA é um viés de identificação dessas camadas; sob o rótulo de fracas, são marginalizadas em toda sua dimensão humana e social. A diversidade de estudos nessa área, sem uma definição teórico-metodológica, amplia ainda mais as possibilidades de fragmentação dessa modalidade. Mesmo diante das possibilidades que sinalizam a configuração da EJA, é preciso chamar atenção para o Ensino Fundamental. A preocupação dessa reconfiguração é resultante de uma categoria jovem que abandona o Ensino Fundamental por vários motivos e optam pela EJA. assim, faz-se necessário repensar a escola para os jovens, reinventar novas possibilidades de inclusão na escola a partir de uma filosofia de educação, incluindo a educação digital, considerando a cultura dos jovens, sem deixar de lado os saberes necessários para a formação integral dos sujeitos.
Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos, Juventude, Trabalho.