61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 7. Fisiologia - 2. Fisiologia Comparada
O NASCIMENTO TRAUMÁTICO DE UMA ARRAIA DE ÁGUA DOCE (POTAMOTRYGONIDAE): UMA ABORDAGEM FISIOECOLÓGICA
Juliana Luiza Varjão Lameiras 1
Oscar Tadeu Ferreira da Costa 1
Daniel Victor Souza 1
Loren Suelen Liborio Vaz 1
Marisa Narciso Fernandes 2
Wallice Paxiúba Duncan 1
1. Departamento de Morfologia, Universidade Federal do Amazonas, Manaus, AM
2. 2Departamento de Ciências Fisiológicas, Universidade Federal de São Carlos
INTRODUÇÃO:

As arraias da família Potamotrygonidae são vivíparas aplacentárias (THORSON et al., 1983; CHARVET-ALMEIDA, 2001). Durante a gestação, cerca de 3 a 5 embriões desenvolvem-se num ambiente altamente salino e nutritivo. Potamotrygon sp. e P. schroederi têm período de gestação estimado em 3 e 6 meses, respectivamente (CHARVET-ALMEIDA et al., 2005). Após o nascimento, os neonatos são facilmente encontrados nas praias (P. schroederi) ou nas áreas rasas dos igapós (P. aff. histrix) do rio Negro. Se considerarmos o enorme gradiente osmótico entre o fluido uterino  e o ambiente de água doce, o nascimento de uma arraia de água doce provavelmente pode ser um evento extremamente traumático. Com base nisso, foi investigado as concentrações de eletrólitos (Na+, K+, Cl- e Ca++), além dos valores de osmolalidade e uréia no plasma e fluido uterino em fêmeas grávidas de duas espécies de água doce (Potamotrygon sp., arraia cururu, e Potamotrygon schroederi).

METODOLOGIA:

Três fêmeas grávidas da espécie Potamotrygon sp. (arraia cururu) e duas da espécie Potamotrygon schroederi foram coletadas no Médio Rio Negro, na região de Barcelos (AM) com uso de rapichés. Todos os animais foram aclimatizados durante 24-48 horas antes das coletas. O fluido uterino foi coletado e armazenado em N2-líquido para análise da concentração de íons, uréia e determinação da osmolalidade. As concentrações dos íons sódio ([Na+]) e potássio ([K+]) foram determinados por fotometria de chama (Digimed DM-61). O método colorimétrico da ortocresolftaleína-complexona foi utilizado para determinar a concentração de cálcio ([Ca+2]). O método da urease foi usado para determinar a concentração de uréia. A concentração de cloreto foi determinada por meio de método colorimétrico. Em todos os ensaios espectrofotométricos foram utilizados os “kits” comerciais In Vitro Diagnostica (Barbacena, São Paulo). A osmolalidade foi estimada por osmometria usando um m-Osmette Precision. Todos os procedimentos foram realizados em duplicatas.

RESULTADOS:

As concentrações dos eletrólitos fluido uterino de Potamotrygon sp. e P. schroederi estão dentro dos intervalos encontrados no plasma. No entanto, as concentrações de uréia no fluido uterino (5,9 a 10,2 mmol/L) são ligeiramente superiores aos intervalos encontrados no plasma. Por causa da aparente similaridade na concentração dos osmólitos entre fluido uterino e plasma, os valores de osmolalidade (257 a 305 mOsmol/kg) também são semelhantes. No entanto, os valores dos eletrólitos e osmolalidade do fluido uterino são extremamente mais elevados que no ambiente de água doce.

CONCLUSÃO:

Os embriões das arraias se desenvolvem num líquido (uterino) que é iso-osmótico em relação ao plasma e, altamente hiperosmótico em relação à água do rio. Assim, o nascimento pode ser um evento extremamente traumático para uma arraia do rio Negro. Isso implica num profundo impacto sobre os mecanismos osmorregulatórios dos neonatos logo após os momentos posteriores ao nascimento. No entanto, é provável que a transição entre o ambiente uterino e ambiente aquático seja um processo gradual, de maneira a evitar um choque osmótico que comprometa a sobrevivência do neonato.

Instituição de Fomento: PIPT /FAPEAM (W. P. Duncan)
Palavras-chave: Potamotrygonidae, osmorregulação, Adaptação osmorregulatória.