61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 8. Genética - 6. Genética
AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE MUTAGÊNICA DOS ALCALÓIDES OCOTEÍNA E DICENTRINA E DA ATIVIDADE ANTIMUTAGÊNICA DE PROANTOCIANIDINAS EM CÉLULAS SOMÁTICAS DE Drosophila melanogaster.
Mário Antônio Spanó 1
Alexandre Azenha Alves de Rezende 1
Zaira da Rosa Guterres 2
1. Instituto de Genética e Bioquímica, Universidade Federal de Uberlândia - UFU
2. Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul - UEMS
INTRODUÇÃO:

Estima-se que mais de cem mil metabólitos secundários são produzidos pelas plantas, os quais podem ser utilizados como matéria prima para a síntese de diferentes substâncias com atividades biológicas diferenciadas. Os metabólitos secundários podem ser divididos em três grupos quimicamente distintos: 1) terpenos; 2) compostos fenólicos; e 3) compostos nitrogenados. Diversos extratos obtidos de plantas, e alguns de seus metabólitos secundários, possuem atividade antioxidante, inibem a peroxidação lipídica, impedem a atividade das topoisomerases (I e II), estimulam enzimas de detoxificação, e induzem apoptose. No presente trabalho, foram avaliadas as atividades genotóxicas de dois alcalóides isoquinolínicos: ocoteína (OCT) e dicentrina (DIC), isolados de folhas de Ocotea acutifolia por meio do cruzamento padrão do Somatic Mutation And Recombination Test (SMART) em células de asas de Drosophila melanogaster; e de proantocianidinas (polifenol) extraídas de sementes de Vitis vinifera, por meio dos cruzamentos padrão e de alta bioativação do SMART. Foram ainda avaliadas, por meio de ambos os cruzamentos, a atividade antigenotóxica de proantocianidinas de V. vinifera, contra os efeitos mutagênicos e recombinogênicos do agente antineoplásico cloridrato de doxorrubicina (DXR).

METODOLOGIA:

Para a realização do cruzamento padrão (ST), fêmeas da linhagem flr3 foram cruzadas com machos da linhagem mwh. Para a realização do cruzamento de alta bioativação (HB), fêmeas da linhagem ORR; flr3 foram cruzadas com machos mwh. Para avaliar a atividade genotóxica dos alcalóides OCT e DIC, larvas de terceiro estágio (72 horas) de D. melanogaster foram tratadas com 0,1; 0,2 ou 0,4mM de OCT e com 0,1; 0,2 ou 0,4mM de DIC. Para a avaliação genotóxica e antigenotóxica de proantocianidinas, larvas de terceiro estágio de ambos os cruzamentos foram tratadas com diferentes concentrações (1,680; 3,375 ou 6,750 mg/mL) de proantocianidinas isoladamente ou em combinação com 0,125 mg/mL de DXR. Como controles negativo e positivo foram utilizados, respectivamente, água ultra pura (obtida de sistema MilliQ) e DXR (0,125mg/mL). As asas dos adultos emergentes desses cruzamentos foram distendidas e fixadas entre lâmina e lamínula com solução de Faure, e analisadas quanto à ocorrência de pêlos mutantes, em microscópio óptico de luz, com aumento de 400x. Para análise estatística foi realizado teste do X2 para proporções, bicaudal, com nível de significância: α=β=0,05.

RESULTADOS:

A análise dos descendentes MH mostrou que as diferentes concentrações de OCT e DIC induziram aumentos estatisticamente significativos nas freqüências de manchas mutantes, quando comparadas com as observadas no controle negativo. As freqüências de manchas mutantes observadas nos tratados com proantocianidinas isoladamente não diferiram estatisticamente, quando comparadas com as do controle negativo, e diminuíram de forma significativa (P≤0,05) nas moscas tratadas com DXR associado às diferentes concentrações de proantocianidinas, quando comparadas com as do controle positivo, nos cruzamentos ST e HB.

CONCLUSÃO:

Os resultados obtidos permitem concluir que a OCT e a DIC apresentam efeitos citotóxico e genotóxico, aumentando de forma estatisticamente significativa as freqüências de manchas mutantes. Comparando-se os resultados observados nos descendentes MH e BH, conclui-se que esses alcalóides induziram altas freqüências de recombinação mitótica. Os resultados sugerem que a genotoxicidade dos alcalóides isoquinolínicos está relacionada com suas estruturas químicas, que inibem a atividade das topoisomerases I e II, fixando as quebras simples e duplas de DNA, induzidas por estas enzimas, favorecendo a ocorrência de eventos recombinacionais. Os resultados obtidos com proantocianidinas nos dois cruzamentos foram similares. As proantocianidinas não demonstraram genotoxicidade, mas inibiram os danos ao DNA induzidos pela DXR, de forma dose-dependente. Comparando as freqüências de manchas observadas nas asas das moscas heterozigotas marcadas (MH) com as observadas nas heterozigotas balanceadas (BH), foi verificado que a principal resposta ao tratamento com DXR foi a recombinação mitótica. Nos tratamentos simultâneos, as proantocianidinas demonstraram atividade anti-mutagênica e anti-recombinogênica. No entanto, a ação anti-recombinogênica foi preponderante.

Instituição de Fomento: CAPES, UFU
Palavras-chave: Dicentrina, Ocoteína, Proantocianidina.