A expansão urbana de Parintins foi muito rápida nesses últimos anos, porém, na ilha ainda coexistem atividades urbanas e agrícolas. Nas comunidades periurbanas Parananema, Macurany e Aninga, são desenvolvidas atividades de pecuária e produção de hortaliças principalmente. A região central da ilha é localizada em área de terra firme com solos de baixa fertilidade natural limitando a produtividade agrícola. Tradicionalmente, os agricultores familiares da região de várzea utilizam diversos tipos de adubos orgânicos e apenas alguns utilizam adubos químicos em pequena quantidades. A adubação orgânica é uma prática necessária para o desenvolvimento de uma agricultura orgânica e sustentável porque permite restabelecer níveis de matéria orgânica adequados no solo e reduzir a perda de nutrientes. O objetivo deste estudo é caracterizar as práticas de adubação na ilha de Parintins com o objetivo de divulgar e apoiar as práticas mais sustentáveis. Em especial será avaliado o uso e fabricação de composto orgânico e a identificação dos materiais disponíveis na propriedade e na cidade com potencial para fabricação de composto orgânico, dando assim subsídios para o processo de transição agroecológica.

O estudo foi realizado na ilha de Parintins, localizada à margem esquerda do Rio Amazonas. As informações sobre as práticas de manejo do solo e adubação foram obtidas através de visitas na comunidade durante os meses de novembro a abril e a aplicação de questionários semi-estruturados durante os meses de fevereiro e março de 2009 com 12 famílias. Foram também realizadas caminhadas transversais nas propriedades. O questionário foi aprovado pelo comitê de ética da UEA. Informações sobre os recursos naturais disponíveis foram obtidas através de observações durante caminhadas na comunidade com agricultores. Os nomes comuns das espécies utilizadas para a agricultura e as espécies mais freqüentes, em especial as leguminosas, foram registrados. De maneira paralela, é realizado um levantamento dos recursos naturais disponíveis nas propriedades e na cidade.

Em Parintins, a maioria dos produtores (66.7%) produz as hortaliças em balcões suspensos. Apenas 25% dos produtores planta em leira e sem casa de vegetação. O tamanho das propriedades e a quantidade produzida são muito variáveis. Quando uma área é limpa na propriedade, antes de ser utilizada para plantar, 16,7% deixa o material para a coleta de lixo, 33,3% amontoa e queima e 41,7% amontoa e deixa no local. Todos os produtores utilizam esterco de gado ou de galinha. Apenas 25% desses produtores usam adubos químicos, chamado por eles de ‘NPK’, em associação com calagem. A cinza é utilizada para adubação por 42% dos agricultores e o paú por 75%. Muitos produtores ainda utilizam diversos tipos de materiais orgânicos especiais tais como folhas secas e ‘paú de aninga’. Apenas 25% dos produtores fabrica e utiliza composto orgânico e biofertilizante, porém, para cada um deles, a quantidade produzida não é o suficiente em relação à quantidade necessária.

Neste trabalho identificamos a diversidade das práticas de adubação orgânica existente em Parintins. A dificuldade em obter o esterco de gado e de galinha, principalmente em épocas de inverno, limita a produção de hortaliças e em conseqüência o abastecimento para o mercado local. O uso dos recursos naturais para adubação é conhecido pela grande parcela dos produtores, como resto de culturas, pau, adubo verde, cobertura morta e biofertilizante. Porém, muitos materiais ainda são desperdiçados e poderiam ser utilizados para a produção de composto. Com o objetivo de buscar alternativas para a população periurbana e todos os cidadãos de Parintins, se faz necessário a divulgação do processo de compostagem, possibilitando de maneira paralela uma melhor gestão dos resíduos orgânicos urbanos.