61ª Reunião Anual da SBPC
E. Ciências Agrárias - 1. Agronomia - 2. Economia e Sociologia Agrícola
AGROECOLOGIA, AUTOCONSUMO E COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS DA AGRICULTURA FAMILIAR NA AMAZÔNIA
Deise Leonovich Costa 1
Rosalee Albuquerque Coelho Netto 2
Sandra Celia Tapia Coral 3
Lázaro Monteiro Reis 4
1. Aluna de Pós-Graduação, Mestrado em Agricultura no Trópico Úmido, INPA
2. Profa. Dra. - Programa de Mestrado em Agricultura no Trópico Úmido, INPA
3. Coordenadora da Rede Amazônica das Condições de Vida e Ambiente RAVA (Amazonas)
4. Eng. Florestal, IDAM
INTRODUÇÃO:
Políticas públicas de modernização agrícola, ação de ONGs e, por vezes, as próprias organizações dos agricultores, tem conduzido a agricultura tradicional da Amazônia à especialização, às demandas e canais de comercialização dos grandes mercados urbanos. Este processo pode culminar com a perda do patrimônio cultural de conhecimentos sobre os agroecossistemas e dependência de insumos externos às unidades produtivas. Por outro lado, o autoconsumo é uma importante característica da agricultura familiar na Amazônia, permitindo certo grau de autonomia das unidades familiares, relacionando-se com a própria identidade das famílias. O objetivo geral do trabalho foi compreender a relação autoconsumo, comercialização e sustentabilidade ambiental em unidades familiares filiadas a uma rede social que propõe uma agricultura de base ecológica. Os objetivos específicos: a) identificar e quantificar a produção para o autoconsumo e para comercialização; b) descrever os diferentes arranjos entre os componentes produtivos das unidades familiares; c) analisar as funções do autoconsumo; d) analisar as formas de comercialização empregadas.
METODOLOGIA:
A pesquisa tem uma abordagem quantitativa e qualitativa. Os dados quantitativos foram obtidos através do levantamento realizado pela “Rede Amazônica das Condições de Vida e Ambiente – RAVA”, no município de Itacoatiara, estado do Amazonas. Os questionários-formulários foram aplicados por técnicos do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal do Estado do Amazonas (IDAM), em cinco visitas durante o ano de 2008 às unidades familiares. As escolhas dos agricultores relacionadas a auto-consumo e comercialização foram verificadas a partir da análise de entrevistas gravadas em visitas às áreas produtivas.
RESULTADOS:
Das 50 unidades familiares pesquisadas, 38 realizam pesca. Em 98% das ocorrências relacionadas ao componente pesca ocorreu a presença de autoconsumo e em 21% a comercialização. Foram relatadas 27 espécies. O valor médio anual do autoconsumo por unidade familiar, calculado a partir de preços no mercado local, foi de R$ 509,52 e o valor da mediana R$ 419,00. O valor médio anual da venda de pescado foi de R$ 665,64 e o valor da mediana R$ 0 (por se tratar de um componente em que a venda é pouco frequente entre as unidades familiares). Os componentes roça e sítio foram agrupadas para a estimativa de produção vegetal. Das 50 unidades familiares pesquisadas, 48 tem a produção vegetal como um componente produtivo. Em 84,5% das ocorrências relacionadas aos componentes roça e sítio ocorreu a presença de autoconsumo e em 55,6% a comercialização. Foram relatadas 60 espécies. O valor médio anual do autoconsumo por unidade familiar, calculado a partir de preços no mercado local, foi de R$ 966,35 e o valor da mediana R$ 666,25. O valor médio anual da venda de produtos vegetais foi de R$ 5529,48 e o valor da mediana R$ 1666,25.
CONCLUSÃO:
As unidades familiares apresentam diferentes arranjos entre os componentes produtivos, porém a especialização ocorre com menor frequência. O manejo de várias espécies e diferentes componentes produtivos é a regra. As unidades familiares apresentaram diferentes graus de autoconsumo por conta de maior ou menor inserção em circuitos comerciais e a fatores ligados ao universo de cada unidade familiar, como sua composição. Porém, trata-se de uma importante estratégia que mantém sob o controle da família a alimentação, funcionando também como mecanismo de defesa frente a instabilidades de mercado. A comercialização está presente de forma diferenciada entre as unidades familiares. No caso da pesca, apenas as unidades próximas ao centro urbano apresentaram maiores taxas de comercialização, vendendo para um frigorífico. A produção vegetal com a cultura da mandioca e seus produtos (farinha, goma e tucupi) gera 27% da renda total (autoconsumo e venda) e é encontrada na maioria das unidades familiares. A fruticultura e horticultura geram valores expressivos: mamão (11,6%), laranja (7,5%), limão (7,2%), cacau (5,2%), banana (4,6%), horticultura (5,2%), porém são concentradas em poucas unidades familiares.
Instituição de Fomento: INPA, CAPES, RAVA, GTZ-AM
Palavras-chave: agricultura sustentável, redes sociais, unidades familiares.