61ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 6. Arquitetura e Urbanismo - 5. Arquitetura e Urbanismo
LEITURA CRÍTICA SOBRE ANÁLISE NO NÍVEL DA PERCEPÇÃO VISUAL NO SÍTIO HISTÓRICO DE MANAUS, COM BASE NO INVENTÁRIO DE CONFIGURAÇÕES ESPACIAIS URBANAS – INCEU/IPHAN
Ana do Nascimento Guerreiro 1
Patrícia Maria Costa Alves 2
1. Centro de Ensino Superior Nilton Lins - UNINILTON LINS -especialista
2. Centro de Ensino Superior Nilton Lins - UNINILTON LINS -orientadora
INTRODUÇÃO:
Tendo como premissa a necessidade de se valorizar a riqueza e as peculiaridades paisagísticas da cidade, a aplicação de instrumentos da metodologia do Inventario de Configuração de Espaços Urbanos – INCEU/IPHAN, no âmbito do estudo elaborado em 2006 na 1ª Superintendência Regional do IPHAN, visou à obtenção de conhecimento a fim de subsidiar elaboração de normas urbanísticas e indicação de medidas de proteção com vistas à preservação do Sítio Histórico de Manaus, berço da cidade, na confluência dos rios Negro e Solimões. Tal área corresponde à pretensa ampliação para a atualmente protegida pelo IPHAN, o Complexo do Porto de Manaus e seu entorno. Seu traçado guarda ainda algumas das linhas e formas fundamentais das primeiras cartas da cidade, posteriormente sucedidas por grandes mudanças estruturais no tecido urbano da cidade, quando aconteceu a ruptura na relação urbana com o rio: a vila lhe dá as costas e cresce em direção à floresta. Pressupõe o conceito de sítio urbano como uma categoria de bem cultural material, apreendendo a cidade: seus atributos e valores, analisados a partir da percepção visual, através do exercício de reflexão sobre conceitos fundamentais, como a preservação do patrimônio cultural e suas diferentes interpretações do passado histórico urbano.
METODOLOGIA:
Singularidades culturais, históricas e de paisagem da área sinalizaram a opção por metodologia de inventário de configurações urbanas, com moldura conceitual capaz de explicitar propriedades do objeto e investigar atributos responsáveis pelo caráter especial e motivador da proposta de preservação. O levantamento, executado ao longo de 2006, dentro do Programa de Especialização em Patrimônio - PEP/IPHAN/UNESCO, seguiu o método proposto no Manual de Aplicação do Inventário de Configurações de Espaços Urbanos –INCEU/IPHAN , por Kohlsdorf em 2001. Através da análise nos níveis da percepção visual do espaço urbano, investigou-se mais profundamente a identidade configurativa do sítio, com 428.000 m². O método topoceptivo permitiu ampliar o conhecimento sobre a cidade através da pesquisa da dimensão morfológica dos lugares, articulando dois níveis de apreensão do espaço urbano - o da percepção visual, registrando efeitos topológicos, perspectivos e semânticos, revelador das características do lugar visualizadas a partir do deslocamento nos espaços públicos e, o de sua representação projetual, através do estudo dos sistemas de representação próprios ao projeto arquitetônico e urbanístico: plantas cadastrais, silhuetas, perspectivas de praças e ruas, elevação das fachadas dos edifícios.
RESULTADOS:
A área abriga um grande sítio arqueológico e vários bens tombados nos níveis federal, estadual e municipal, como o complexo do Porto, a Alfândega e Guardamoria, o Mercado Adolpho Lisboa, a Matriz, significativo acervo de edifícios históricos, objetos artísticos associados a populações tradicionais, elementos naturais, fragmentos e referências culturais materializadas na paisagem, portanto, portadora de rica diversidade de valores culturais. Leituras de apreensão do sítio evidenciaram a necessidade da atuação mais eficiente da gestão pública, como restrição de gabaritos, manutenção das volumetrias existentes, e o incentivo a requalificação de prédios descontextualizados e de baixa qualidade visual, permitindo o restabelecimento das relações de clareza e associatividade e o resgate de continuidade e homogeneidade das fachadas remanescentes. As condições climáticas e a historicidade dos jardins tornam imperativa a preservação das vegetações arbóreas, de médio e grande porte e a renovação do plantio em áreas livres e residuais, salvando-as de ocupação irregular e oportunista. Premente se faz desenvolver projeto urbanístico correto com mobiliário urbano de baixo impacto visual ou temático, não contrastante com o conjunto histórico e com a estrutura morfológica do sítio.
CONCLUSÃO:
Experiências na escolha do trajeto permitiram a percepção de ganhos de outros significados quando percorrido em sentido contrário, remetendo a memórias e a estímulos diferentes. É, pois, interessante uma variante metodológica na escolha e sentido dos percursos. No caso, a paisagem urbana do sítio histórico de Manaus reivindica leitura a partir do Rio Negro e dos igarapés – entendendo os rios amazônicos como portas das cidades. O regime das águas, enchente e vazante, também influencia na percepção do espaço devidos à mudança na geografia do lugar. A relação território e rio, objeto da paisagem mais marcante da cidade nos dois sentidos de observação: rio para cidade e cidade para o rio, com as ruas desembocando na água é atributo fundamental, a ser valorizado nesse sítio. Porém foi perdido com as transformações da morfologia urbana ao longo da história, quando a cidade se vira de costas para o rio. O desaparecimento enquanto istmo, da Ilha de São Vicente, o aterro do Complexo do Porto, a construção da Manaus Moderna se interpondo entre o rio e o Mercado Municipal (motivo de embargo pelo IPHAN em 1987), foram intervenções responsáveis pelo restabelecimento de uma relação ostensiva com o rio, porém, descaracterizando a paisagem com conseqüente perda da leitura histórica e memória.
Instituição de Fomento: Programa de Especialização em Patrimônio PEP/IPHAN/UNESCO
Palavras-chave: Análise de configurações espaciais urbanas em Manaus, Identidade do Sítio histórico de Manaus, Inventário da paisagem urbana de Manaus.