61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 8. Antropologia
PATRIMÔNIO CULTURAL E SUSTENTABILIDADE: IMAGENS QUE TRACEJAM HISTÓRIA E TURISMO NA AMAZÔNIA
Sandrelany R. Pinho 1
Maria do Perpétuo Socorro Nóbrega Ribeiro 2
1. Coordenação de Turismo ESAT- Universidade do Estado do Amazonas
2. Programa de Doutoramento em Antropologia- Universidade de Coimbra
INTRODUÇÃO:

O imaginário popular caracterizado neste trabalho pelas lendas amazônicas constitui parte do patrimônio cultural a ser agenciado para valorização da cultura local através do turismo, favorecendo a sustentabilidade sociocultural e afiançando a relação homem / natureza.

Trabalhar cultura e turismo associados à sustentabilidade pressupõe-se a existência de estudos específicos da região, que promovam a sociedade na atividade turística local, no sistema educativo ou no desenvolvimento sustentável para a valorização do saber ancestral.

Tal situação será possível quando os indivíduos vivenciarem de fato, os costumes e tradições locais. Falamos não apenas do turista / visitante, que pensa entender a subjetividade das histórias narradas e as práticas do cotidiano caboclo, mas, especialmente daqueles que desfrutam da bonança da indústria e do mercado, sem dar conta do valor essencial das manifestações culturais caboclas, implícitas no dia a dia da sociedade que o acolhe.

A identidade amazônica, tal qual de outros povos, é formada por valores culturais advindos de histórias de vida expostas muitas vezes através da arte, em imagens do cotidiano que persistem e ultrapassam barreiras históricas ditadas pelo tempo. Descreve o protagonista deste, homem apaixonado e conhecedor dos mistérios amazônicos, que há em cada um de nós, um pequeno universo que nenhum mundo dissolve.

Logo, o sentimento de pertença, precisa ser trabalhado nos segmentos sociais de educação e nos órgãos responsáveis pelo desenvolvimento e promoção do turismo na região.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

METODOLOGIA:

Diante da escolha teórico-metodológica adotada o procedimento metodológico pauta-se em uma metodologia compreensiva, que, segundo Bronckart (1999), deve analisar em primeiro lugar documentos e ações e suas relações de interdependência com o mundo social de um lado, e com a intertextualidade de outro. Em seguida, configura-se a análise do conteúdo recolhido e o papel que ele desempenha nas falas advindas do campo.

Analisa-se a gênese e o funcionamento das operações mentais e comportamentais implícitas nas imagens em contraponto com a literatura. Neste sentido, o procedimento metodológico de maior relevância do trabalho é a interpretação. Roulet (1999), tomando as considerações de Ricouer apud Roulet (1999), acentua a importância de um procedimento metodológico como esse que, em primeiro lugar, vale-se da interpretação teórica, pressupondo uma etapa intermediária entre o ler, ver e o ouvir para interpretar, que, por sua vez consiste em uma análise amiúde.

Assim, neste trabalho é levado em conta, em primeiro lugar, o conteúdo da produção artística e da interpretação de falas, o que implica proceder da forma como a proposta acima. Estamos persuadidas de que esse procedimento científico de análise é adequado, tanto aos propósitos deste trabalho quanto aos pressupostos de uma metodologia compreensiva. Efetuando-se a pesquisa bibliográfica, documental e a recolha de informações no campo onde ocorreram os fatos, configurando a fundamentação necessária para proporcionar a base do mesmo.

Houve todo um trabalho etnográfico de observação, descrição e análise dos acervos das diversas instituições que responderam aos anseios deste. Por ser de ordem qualitativa viu em Minayo (1999) o apoio para iniciar a trajetória no campo em busca da melhor explicação sobre o mundo de significados que não pode ser quantificada. Através das explanações de teóricos ampliou-se o conhecimento acerca do imaginário e as leituras sobre Legislação Patrimonial Municipal, Estadual e Federal deram o aporte necessário para compreender a legitimação do bem artístico, além de outros canais que expuseram a questão de forma clara e sucinta para fortalecimentos das idéias expostas.

A pesquisa de campo constituiu uma parte essencial no fortalecimento das idéias advindas das leituras realizadas ao visitar as instituições e o atelier do artista, tanto quanto o registro das imagens, entrevista com as pessoas indicadas por Andrade, para, a partir daí, confrontar dialeticamente os aspectos teóricos e práticos que contribuíram significativamente para o desenvolvimento da pesquisa.
RESULTADOS:

O patrimônio cultural de um povo não está constituído apenas de bens móveis ou imóveis, públicos ou privados, mas de toda manifestação que se origine de conceitos históricos, ambientais, paisagísticos, etnográficos, que em algum momento da história, contribuíram para a firmação da identidade de um grupo social.

O cerne da questão é justamente a forma de dar uso aos bens preservados sem retirar o significado destes. Ao proteger os bens culturais de uma sociedade, visa-se na realidade preservar-lhe a identidade cultural, pois, vê-las alterada, leva o indivíduo à perda de referenciais que permitem sua identificação com o local de moradia.

O valor histórico da vida social de um povo tem relevância, por ser a cidade o lugar concreto e efetivo onde as vontades humanas, pelos entrecruzamentos, podem atuar em conjunto, onde o homem depara consigo e com o outro. Portanto, a relevância está na forma como o artista plástico amazonense Moacir Couto de Andrade, conta a história e pereniza-a, pela não mutilação da imagem narrada da origem e de fatos identitários. Essas histórias constituem o patrimônio cultural de um povo e funcionam como elemento de coesão social, de agregação e, em conseqüência, são informações que contribuem para a preservação da identidade. Apesar dos aspectos fantasiosos, dos elementos fantásticos e aparentemente ilógicos que povoam essas narrativas, elas representam a verdade para os povos que as cultivam.
CONCLUSÃO:

O imaginário popular representa o patrimônio imaterial que se materializa no labor do dia a dia de um povo, de forma a promover e valorizar a cultura, resgatando o valor da identidade, sem tomar emprestado o poder hegemônico ditado pela mídia, mas, favorecendo a humanidade no momento em que preservar o meio significa melhorar a relação homem/ natureza para um turismo sustentável.

Agregar turismo e sustentabilidade cultural pressupõe-se uma base sólida nas especificidades da região a ser promovida pelos diversos segmentos de atividades locais, seja educativa, ecológico ou cultural, perenizando o imaginário ancestral que necessita ser retrabalhado continuamente.

A análise de dados mostrou a importância da história contada por Andrade, como impar em seus matizes, imagens, adereços que ataviam as lendas, as cores fortes e os excêntricos traçados retilíneos e sinuosos. O exame dos conteúdos permitiu configurar uma multiplicidade histórica da Amazônia para o usufruto do turismo local no tocante a configuração do patrimônio cultural.

Tal história só será compreendida na convivência com as tradições locais. Não apenas na condição de turista / visitante, que pensa entender a subjetividade das histórias contadas, mas como aqueles que usufruem da bonança do mercado e não se dão conta do valor intrínseco das manifestações históricas e culturais caboclas. Despertar o sentimento "pertencer a"..., é olhar antropologicamente o homem como protagonista de sua própria história, alçando saberes que advêm do cotidiano aos bancos de escola.
Instituição de Fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas
Palavras-chave: Patrimônio-Cultural, Lendas, Imaginário.