61ª Reunião Anual da SBPC
B. Engenharias - 1. Engenharia - 13. Engenharia Sanitária
QUALIDADE DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA ALDEIA MERURI - MT
Rosangela Maria Guarienti 1
Irineu Francisco Neves 1
Luiz Airton Gomes 1
Nathalia Correa Ferrari 1
Teofilo Pereira Fonseca 1
1. DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL/UFMT
INTRODUÇÃO:
Desde 1923 a tribo Bororo da aldeia Meruri permanece próxima ao rio Barreiro e seu afluente, utilizando a água para consumo humano, fim doméstico, balneabilidade, pesca e dessedentação de animais. Os 483 habitantes (FUNASA, 2008) consomem água sem nenhum tipo de tratamento, diretamente da fonte nos corpos d’água ou da água canalizada proveniente de poços artesianos e reservatórios. A aldeia possui três redes de distribuição de água, porém sem nenhum tratamento e boa parte das residências estão com a estrutura sanitária comprometida ou interditada. A aldeia possui uma peculiaridade socioeconômica, pois goza de infra-estrutura semelhante a áreas urbanas, como eletrodomésticos, eletricidade, telefone, casas de alvenaria e água encanada. Porém são isoladas as residências que utilizam alguma forma de tratamento para a água consumida. Este trabalho possibilitou diagnosticar a qualidade da água consumida na aldeia, confrontando com os costumes sócio-culturais da população e falta de infra-estrutura sanitária. Essa problemática deve ser analisada e resolvida, pois simples notificações de saúde em aldeias indígenas podem levar a óbito devido à falta de assistência médica local e a distância de centros de atendimento especializados.
METODOLOGIA:
A área de estudo é a Aldeia Meruri que fica no Sudeste do estado de Mato Grosso, á 40 km da cidade de General Carneiro, foram realizadas seis coletas de água ao longo do ano de 2008. Como o foco do trabalho é diagnosticar a qualidade da água consumida pela população, a coleta foi feita nas redes de distribuição em seus pontos desfavoráveis, nos pontos utilizados para balneabilidade e no filtro escolar, totalizando seis pontos que alcançaram esta representatividade. As amostras foram analisadas no laboratório de Microbiologia da Universidade Federal de Mato Grosso. Para determinação da possível contaminação microbiológica foi utilizada as técnicas Pour Plate e Técnica do Substrato Definido (Colilert) sendo contabilizadas as bactérias heterotróficas, coliformes totais e fecais. Também foi mensurado o pH e a temperatura das amostras. As análises obedeceram as metodologias do Standard Methods for the Examination of and Wastewater de 1998. Aliado ao estudo foi feito um levantamento de doenças notificadas no posto de saúde local nos anos de 2005, 2006, 2007 e início de 2008, visando conhecer qual seria possível número de doenças relacionadas à contaminação hídrica e um mapeamento da disposição das casas e suas respectivas redes de abastecimento.
RESULTADOS:
As análises microbiológicas de pontos de abastecimento representativos da aldeia demonstraram que a água é imprópria para consumo humano sem um tratamento adequado. A aldeia possui 78 casas, destas 12 são atendidas por uma rede de distribuição proveniente de poço artesiano, com tubulação nova (menos de 10 anos) a qual apresentou melhores resultados, a E. Coli apareceu em apenas uma das amostras. A maior preocupação esta com as 66 residências restantes que são abastecidas por água de poço artesiano e por um reservatório abastecido por uma mina, a água destas redes apresentaram Coliformes totais, E. Coli e bactéria heterotróficas em suas amostras, implicando na improbabilidade de consumo humano. A água do Rio Barreiro e da Cabeceira é satisfatória para balneabilidade e imprópria para consumo humano sem previa desinfecção. O bebedouro escolar apresentou resultados impróprios apenas na primeira amostra, o filtro foi trocado e a limpeza começou a ser feita com freqüência mensal. Nove casas da aldeia não possuem banheiro e boa parte das casas que possuem esta desativado por falta de água ou problemas na tubulação.
CONCLUSÃO:
A precariedade da infra-estrutura associada com o abastecimento de água sem tratamento pode tornar-se um problema de saúde pública para a população, advindo daí doenças de veiculação hídrica. A água consumida pelos bororos esta imprópria para o consumo humano e é responsável por boa parte das doenças na aldeia. A ausência de tratamento de água doméstico revela uma possível dificuldade de adaptação à implantação de filtragem e desinfecção feitos em casa, por gerar custos ou mesmo por se tratar de um hábito a mais na rotina. Sendo assim é necessária a intervenção na água distribuída, de forma com que chegue potável até os consumidores finais, utilizando tratamentos convencionais e reformando a rede de distribuição. Sendo assim, é imprescindível que esta forma de abastecimento de água deve se adaptar aos costumes da comunidade, não a comunidade se adaptar ao sistema, portanto a cultura da população deve ser respeitada.
Instituição de Fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso - FAPEMAT
Palavras-chave: abastecimento, saneamento, indígena.