61ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 3. Física - 2. Ensino de Física
FÍSICA FORENSE E INVESTIGAÇÕES DE ACIDENTES DE TRÂNSITO NO MUNICÍPIO DE SANTARÉM-PA: POSSÍVEIS CONTRIBUIÇÕES PARA O ENSINO DE FÍSICA NO NÍVEL MÉDIO
Márcio José do Carmo Soares 1
Mauro Antonio Andreata 2
Alexandre Guimarães Rodrigues 2
1. Secretaria de Estado de Educação do Pará – SEDUC/PA
2. Faculdade de Física Ambiental – UFPA/Campus de Santarém
INTRODUÇÃO:

Os conhecimentos da Física forense são um eficiente instrumento na identificação de causas de acidentes de trânsito e nas investigações de crimes. Tais conhecimentos servem ao judiciário no sentido de explicar e desvendar fatos investigados com o uso de conceitos e leis da Física. As informações obtidas a partir desses conhecimentos contribuem na compreensão de exames e na decisão de sentenças. No caso de acidentes de trânsito é possível estimar a velocidade de veículos a partir das medições de outros parâmetros físicos presentes na situação investigada. Assim, consideramos que as aplicações da Física forense podem contribuir para o ensino de Física no nível médio, uma vez que permitem construir relações entre os conteúdos e o contexto social. Diante disso, e por atuarmos como professores de Física, em um município que apresenta elevado número de acidentes de trânsito, é que buscamos nesse trabalho, investigar como são realizadas as aplicações da Física forense nas investigações de acidentes de trânsito em Santarém-Pa, no âmbito dos órgãos regulamentares federais, estaduais e municipais, de modo a construirmos novas compreensões de como integrar tais informações ao ensino de Física no nível médio.

METODOLOGIA:

A pesquisa foi realizada mediante informações obtidas junto aos órgãos que regulamentam o trânsito no município de Santarém-Pa, sendo estes: a Secretaria Municipal de Trânsito (SMT), o 3º Batalhão de Polícia Militar (3º BPM) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF). Foi realizada consulta bibliográfica e entrevistas com representantes de cada um dos órgãos de trânsito. Foram analisados livros e apostilas dos cursos oferecidos pela secretaria municipal de trânsito, buscando encontrar os conceitos físicos usados durante a perícia, além de boletins de ocorrências de acidentes de trânsito a fim de caracterizar os laudos técnicos emitidos pela secretaria. Foram entrevistadas três pessoas, sendo uma de cada órgão. O foco da entrevista era a identificação da formação dos profissionais que realizam a perícia técnica dos acidentes de trânsito, o uso da Física forense nos trabalhos executados por cada órgão e o uso de conceitos da Física durante os exames que compõem o laudo da perícia técnica em um acidente de trânsito. As informações vindas da análise de documentos e das entrevistas foram organizadas de modo a caracterizar a realização de investigações dos acidentes de trânsitos realizadas por cada um dos órgãos.

RESULTADOS:

Verificamos que a PRF, responsável pela coordenação e fiscalização na rodovia BR-163, não realiza perícia em acidentes de trânsito nem possui perito ou físico forense, mas caracteriza o sítio do acidente (quando intacto), colhe depoimentos dos envolvidos e testemunhas, realiza medidas evidentes no local como marca de frenagem, localização do veículo e/ou da vítima em relação a um ponto de referência. O 3º BPM dispõe da Polícia de Trânsito (PTRAN), não realiza perícias dos acidentes, é responsável pela realização de blitz de fiscalização a veículos e condutores com documentação irregular, além de fiscalizar pontos de grande fluxo que não têm semáforos. Essa unidade possui um programa de educação para o trânsito em parceria com escolas. A SMT é o único órgão que realiza perícias técnicas em acidentes de trânsito, dispõe de agentes capacitados pelo Governo do Estado para fiscalizarem e caracterizarem os acidentes. Esses agentes compõem a subdivisão BOAT (Boletim de Ocorrência de Acidentes de Trânsito), que é o grupo apto a realizar a perícia técnica dos acidentes. Conta com oito levantadores de acidentes e dois técnicos, um em trânsito e outro em levantamento de acidentes, na assessoria interna do setor, e que são responsáveis pela emissão de laudos dos acidentes nos quais identificamos dados físicos como velocidade, posição, efeitos de aquaplanagem e velocidade crítica.

CONCLUSÃO:

A eficácia das investigações dos acidentes de trânsito deve-se, em grande parte, às aplicações da Física forense, para isso, faz-se necessário que o perito tenha formação acadêmica, ou pelo menos, conhecimentos básicos na área da Física obtidos em curso de formação no nível técnico. Assim, a segurança no trânsito depende dos órgãos que regulamentam e fiscalizam o trânsito, bem como do nível de preparação das pessoas que integram as equipes de segurança no trânsito. Desse modo, compreendemos que os resultados obtidos nessa pesquisa nos remetem à importância dessas questões para o contexto do ensino. O cenário identificado com relação à situação da segurança e das investigações de acidentes de trânsito, aponta para a potencialidade de articulação entre o ensino de Física no nível médio e a formação crítica a partir do contexto social em que os estudantes estão inseridos, uma vez que estes devem ter condições de se posicionarem naquilo que tem influência direta em sua vida cotidiana, como é o caso do trânsito no município investigado. Além disso, essa articulação apresenta vantagens no processo ensino-aprendizagem em Física por permitir a construção de idéias e conceitos de forma mais significativa, ultrapassando a mera exposição de conteúdos e aplicações mecanizadas de conceitos e leis da Física.

Palavras-chave: Física Forense, Ensino de Física, Acidentes de Trânsito.